terça-feira, 27 de outubro de 2009

Que é a Teologia?

Meus dias de postagem neste blog são nos sábados, mas como estive ausente nos dois últimos, resolvi abrir uma exceção nesta semana. Teve, recentemente, uma controvérsia no Twitter sobre o que seria a Teologia. Acredito que é importante delinear as fronteiras de todo campo de estudo. A maioria das matérias costumam, em seus livros introdutórios, definir, mesmo que seja de modo não definitivo, o que é que se propõe a estudar. Eu não cheguei a dar uma definição, mas alguém chegou a dizer que a Teologia não é o estudo sobre Deus, mas sob Deus. É bem diferente definir o que é algo e como se quer que esse algo seja. A palavra Teologia surge da aglutinação de duas palavras gregas: θεóς (theos) e λóγος (logos). A primeira, como se sabe, significa Deus. A segunda costuma ser traduzida por "razão" ou "estudo"; no entanto, consultando o meu dicionário de Grego do Isidro Pereira, vi que as acepções são muitas: "palavra", "dito", "revelação divina", "resposta dum oráculo", "máxima", "sentença", "exemplo", "decisão", "resolução", "condição", "promessas", "pretexto", "argumento", "ordem" e por aí vai. Algumas acepções, inclusive, não se parecem adequar muito com o significado de razão costumamente atribuído à palavra grega.

Fazendo um paralelo da palavra "Teologia" com "Biologia" ou mesmo "Filosofia", não há porque não atribuir-se uma definição de estudo de Deus ou sobre Deus, sendo que o uso da preposição "de" gera a ambigüidade — talvez, satisfatória para alguns, mas tendenciosa para outros — de um estudo que provém de Deus em vez de tentar abarcá-lo. É importante estudar um pouco a etimologia histórica da palavra "Teologia". Ela aparece pela primeira vez na República de Platão, sendo que a palavra "logos" possui toda uma carga semântica depois de sua apropriação por parte de Heráclito, já que ela passa a contrapor-se a um contexto mitológico freqüente no período micênico e dórico e que ainda tem certo predomínio no período arcaico. A palavra "logos", portanto, opondo-se ao mito, possui todo um contexto que deve ser considerado quando se quer dizer o que é a Teologia.

Lendo a Teologia Sistemática de Paul Tillich, contudo, encontrei um texto interessante sobre o assunto que me fez ver que a coisa não é tão simples como imaginava. As pessoas não partem de uma análise etimológica e histórica para conceituar campos de estudos. O texto faz uma distinção entre Teologia e Filosofia da Religião e, posteriormente, distingue um ramo que poderia chamar-se Teologia Científica. Resolvi colocá-lo aqui. Partindo da minha leitura do texto transcrito, não acredito que seja necessária uma concordância por parte do teólogo com relação ao seu objeto de estudo. Obviamente, quando se ama o que se estuda, há maior envolvimento, mas eu mesmo já tive a experiência de ter de estudar teorias com as quais não concordava. Não vejo, portanto, impedimento para que existam teólogos ateus, por exemplo, dentro da minha definição etimológica. O Paul Tillich, contudo, define a Teologia por meio de um artifício chamado "círculo teológico". Achei muito interessante o corte que ele construiu a partir dessa conceituação.

O Círculo Teológico

Tentativas de elaborar uma teologia como uma "ciência" empírico-indutiva ou metáfico-dedutiva, ou como uma combinação de ambas, evidenciaram amplamente que não conseguem ter êxito. Em toda teologia pretensamente científica, há um ponto em que a experiência individual, a valoração tradicional e o compromisso pessoal exercem um papel decisivo. Tal ponto, muitas vezes ignorado pelos autores de tais teologias, é óbvio para os que olham para elas com outras experiências e outros compromissos. Se empregarmos uma abordagem indutiva, devemos perguntar pela direção em que o escritor busca seu material. E se a resposta for que ele olha em qualquer direção e para qualquer experiência, devemos perguntar: que característica da realidade ou da experiência é a base empírica de sua teologia? Qualquer que seja a resposta, está implícito um a priori de experiência e valoração. O mesmo ocorre quando o método empregado é o dedutivo, como no idealismo clássico. Os princípios últimos da teologia idealista são expressões racionais de uma preocupação última; como todas as ultimidades metafísicas, tais princípios são, ao mesmo tempo, ultimidades religiosas. Uma teologia daí derivada se encontra determinada pela teologia oculta implícita neles.
Em ambas as abordagens, a empírica e a metafísica, bem como nos inúmeros casos que combinam as duas, podemos observar que o a priori que dirige a indução e a dedução é um tipo de experiência mística. Seja ele o "ser-em-si" (escolástica) ou a "substância universal" (Spinoza), seja o "além da subjetividade e objetividade" (James) ou a "identidade de espírito e natureza" (Schelling), seja o "universo" (Schleiermacher) ou a "totalidade cósmica" (Hocking), seja o "processo criador de valor" (Whitehead) ou a "integração progressiva" (Wieman), seja o "espírito absoluto" (Hegel) ou a "pessoa cósmica" (Brightman) — cada um desses conceitos está baseado em uma experiência imediata de um valor ou ser último, do qual podemos chegar a ser conscientes intuitivamente. Idealismo e naturalismo, quando desenvolvem conceitos teológicos, diferem muito pouco em seu ponto de partida. Ambos dependem de um ponto de identidade entre o sujeito que vive a experiência e o elemento de caráter último que aparece na experiência religiosa ou na experiência do mundo como "religioso". Os conceitos teológicos, tanto dos idealistas quanto dos naturalistas, estão enraizados em um "a priori místico", uma consciência de algo que transcende a separação entre sujeito e objeto. E se, no curso de um processo "científico", descobrimos tal a priori, isto só é possível porque ele já estava presente desde o começo. Esse é o círculo do qual nenhum filósofo religioso pode escapar. E de modo algum ele é vicioso. Toda compreensão no âmbito do espírito (Geisteswissenschaft) é circular.
Mas o círculo em que atua o teólogo é mais estreito do que o do filósofo da religião. Ele acrescenta ao "a priori místico" o critério da mensagem cristã. Enquanto o filósofo da religião tenta permanecer geral e abstrato em seus conceitos, como o próprio termo "religião" indica, o teólogo é, consciente e intencionalmente, específico e concreto. A diferença naturalmente não é absoluta. Já que a a base experimental de toda filosofia da religião está parcialmente determinada pela tradição cultural à qual pertence — mesmo o misticismo está culturalmente condicionado — ela inevitavelmente inclui elementos concretos e específicos. Mas o filósofo, enquanto filósofo, tenta abstrair desses elementos e criar conceitos acerca da religião que tenham validade geral. O teólogo, por seu turno, propõe a validez universal da mensagem cristã, apesar de seu caráter concreto e específico. Ele não justifica esta reivindicação abstraindo da concretude da mensagem, mas acentuando sua unidade irrepetível. Ele entra no círculo teológico com um compromisso concreto. Entra nele como membro da igreja cristã para cumprir uma das funções essenciais da igreja: sua auto-interpretação teológica.
O teólogo "científico" quer ser mais do que um filósofo da religião. Ele quer interpretar a mensagem cristã de uma forma geral com o auxílio de seu método. Isto o coloca diante de duas alternativas. Ele pode incluir a mensagem cristã em seu conceito de religião, e então o cristianismo é considerado como um exemplo de vida religiosa, ao lado de outros. Certamente é a religião mais alta, mas não é a final nem a única. Esta teologia não entra no círculo teológico. Ela permanece dentro do círculo religioso-filosófico e de seus horizontes indefinidos — horizontes que se abrem para um futuro de novas e talvez mais elevadas formas de religião. O teólogo científico, apesar de seu desejo de ser teólogo, permanece um filósofo da religião. Ou ele se torna realmente um teólogo, um intérprete de sua igreja e de sua reivindicação à unicidade e validez universal. Neste caso, ele entra no círculo teológico e deveria admitir que o fez e parar de falar de si mesmo como um teólogo "científico" no sentido corrente do termo.
Mas inclusive o ser humano que ingressou consciente e abertamente no círculo teológico enfrenta outro problema sério. Para estar dentro do círculo, ele deve ter tomado uma decisão existencial. Deve estar na situação de fé. Mas ninguém pode dizer de si mesmo que está na situação de fé. Ninguém pode chamar a si mesmo de teólogo, mesmo que tenha sido chamado a ser professor de teologia. Todo teólogo está comprometido e alienado. Ele está sempre na fé e na dúvida; está dentro e fora do círculo teológico. Às vezes um lado prevalece, às vezes o outro, e ele jamais tem certeza sobre qual dos lados prevalece efetivamente. Portanto, só é possível aplicar um critério: alguém só pode ser teólogo na medida em que reconhecer o conteúdo do círculo teólogico como sua preocupação última. A verdade disso não depende de seu estado intelectual, moral ou emocional. Não depende da intensidade e da certeza da fé. Não depende do poder de regeneração ou do grau de santificação. Antes, depende de que ele se sinta preocupado de forma última com a mensagem cristã, ainda que, à vezes, esteja inclinado a atacá-la e rejeitá-la.
Essa compreensão da "existência teológica" resolve o conflito entre os teólogos ortodoxos e pietistas sobre a theologia irregenitorum ("teologia dos não-regenerados"). Os pietistas sabiam que não se pode ser teólogo sem fé, sem decisão, sem compromisso, sem estar no círculo teológico. Mas identificavam a existência teológica com uma experiência da regeneração. Os ortodoxos protestaram contra isso, argumentando que ninguém pode estar certo de sua regeneração e que, além disso, a teologia lida com materiais objetivos que podem ser manuseados por qualquer pensador, dentro e fora do círculo teológico, desde que satisfaça as condições intelectuais requeridas. Hoje, os teólogos ortodoxos e pietistas se acham aliados contra os teólogos críticos, supostamente descrentes, ao passo que a herança do objetivismo ortodoxo foi assumida pelo programa (não pelas realizações) da teologia empírica. Diante dessa antiga controvérsia, devemos reafirmar que o teólogo deve estar dentro do círculo teológico, mas o critério para determinar se está dentro dele é a aceitação da mensagem cristã como sua preocupação última.
A doutrina do círculo teológico tem uma conseqüência metodológica: nem a introdução nem qualquer outra parte do sistema teológico constitui a base lógica para as outras partes. Cada parte é dependente das outras. A introdução pressupõe a cristologia e a doutrina da igreja, e vice-versa. A distribuição temática depende tão-somente de considerações práticas.

sábado, 10 de outubro de 2009

20 passos para um relacionamento saudável

A postagem de hoje tem por inspiração os textos que o Artur da Távola — falecido em maio do ano passado — escrevia sobre o amor. Uma breve pesquisa no Google já fornece vários dos excelentes textos dele. Não gosto de textos de autoajuda e acredito que aqueles que privilegiam esse tipo de leitura são preguiçosos para construírem um saber filosófico consistente, já que todos os temas abordados por escritores de autoajuda podem ser encontrados em textos de filósofos geniais.

Dois textos que acredito que são fundamentais para o entendimento do amor são o belíssimo soneto de Camões "Amor é fogo que arde sem se ver" e o texto bíblico de Coríntios 13. A abordagem dos dois textos, contudo, refere-se a esferas distintas: enquanto Camões disserta sobre um amor sentimental, Paulo refere-se a um amor platônico, na medida em que ele trata de um amor no qual devemos espelhar-nos. Seria, mais ou menos, como a distinção que se costuma fazer, no campo da Ética, entre moral e ética, esta representando como a moral deve ser e aquela representando como se dão ou deram-se as relações morais no decorrer do tempo.

Pensei também em escrever um texto a partir da abordagem do mito de Eros e Psiquê, destrinchando algumas particularidades que enxergo, de uma genealogia bíblica, tratando os diversos contextos em que o amor aparece no texto bíblico, ou a partir de uma perspectiva filosófica, já que toda filosofia parte do amor ao conhecimento. Optei, no entanto, por fazer uma enumeração de conselhos ou observações que tenho feito ao longo dos meus relacionamentos e tendo-se por base os relacionamentos de pessoas próximas a mim. É claro que a lista não é fechada: provavelmente, acrescentarei muita coisa a ela no decorrer da minha vida, mas acho que vale a pena tentar fazer esse tipo de trabalho e disponibilizá-lo no meu blogue. Enfim, eis a lista:

1) Não inicie um relacionamento sem o vislumbramento de um futuro com o seu parceiro.

Se você está apenas a fim de um "peguete" fixo ou coisa do gênero, não inicie um namoro. As pessoas costumam discordar sobre qual é o significado de um namoro. Várias delas interpretam-no como uma espécie de "test-drive" no qual quanto mais carros você experimentar melhor. O meu conselho é: não façam isso! Pessoas não são carros! Além de você poder magoar profundamente alguém, você pode perder a oportunidade de construir uma vida ao lado de quem realmente deveria ser o seu parceiro. Sei que hoje existem pessoas que não são adeptas da monogamia e que acham que esse papo de alma gêmea e afins é um assunto ultrapassado, mas posso dizer que o que tenho visto nos relacionamentos felizes e sadios confirma o que tem sido chamado de conservadorismo. Para resumir, se você não se vê com aquela pessoa daqui a dez anos, nem comece um relacionamento.

2) Busque relacionar-se com pessoas que se assemelham a você.

Este item pode gerar controvérsias num primeiro momento, mas acho que, com a minha explicação, ele se tornará mais claro. O papo de que "opostos se atraem" só funciona na Física, e mesmo assim só por uma questão de convenção. Quanto menos divergências, mais fácil será o namoro. Não excluo o fato de que o amor verdadeiro pode tudo superar, e não só pode, mas supera; contudo, procurar pessoas que compartilhem das suas crenças e convicções evita muita dor de cabeça. Esse é um conselho que minha mãe sempre me deu e concordo inteiramente com ela. O próximo item irá mostrar que seguir este já facilita as coisas, já que as diferenças são inevitáveis.

3) Saiba que as diferenças são as regras, e não as exceções.

Homens e mulheres são diferentes por natureza em todos os âmbitos: psicológicos, fisiológicos, sociológicos etc. . As diferenças já começam no fato de vocês serem de sexos distintos — espero que nenhum homossexual surja aqui dizendo que os deixei de lado. Não é à toa que dizem que os homens são de Marte e as mulheres, de Vênus. Se quem foi criado com você, seus irmãos, já são completamente diferentes de você, imagine quem foi criado em condições totalmente diferentes! As diferenças certamente surgirão e não se espante com elas, mas saiba enfrentá-las e persista no amor que você sente.

4) Seja moldável sem se descaracterizar.

É importante saber ceder num relacionamento. Não existe isso de você querer que alguém ame você do jeito que você é e pronto. Se, na pior das hipóteses, você e o seu parceiro divergirem em tudo, resta a possibilidade de vocês cederem em certos pontos, não significando que vocês, simplesmente, não nasceram um pro outro. Há, no entanto, uma tênue linha que deve ser mantida e respeitada: ao mesmo tempo em que você deve aprender a ceder, você não deve descaracterizar-se completamente, esvaziar-se de si mesmo e deixar de ser quem você é, perdendo a sua identidade. Saber respeitar isso é extremamente complicado e só o tempo fornece a experiência necessária para saber fazer a distinção correta. Você estará no ponto certo quando você puder dizer: "eu sou outra pessoa com você: alguém mais parecido comigo mesmo".

5) Não deixe que o caráter passional do amor defina-o, mas torne-o uma decisão tomada no dia a dia.

Em outras palavras, existe uma diferença fundamental entre paixão e amor. As próprias definições nos dicionários confundem as palavras, mas até a Ciência já mostrou estatisticamente que a paixão dura, em média, pouco mais de um ano [1], embora também já tenha mostrado que é possível prolongá-la [2]. Ainda me questiono se os nossos sentimentos são apenas ação de substâncias bioquímicas ou algo mais. Acho que esse algo mais está na nossa capacidade de decisão. Nada contra a paixão; inclusive, se houver paixão no amor, melhor ainda, mas ela não deve definir o amor que se sente ou ser base dele. Trataria o amor como hiperônimo da paixão, pois o amor pode abrangê-la, mas a paixão pode existir sem o amor. Se você está tendo um relacionamento com alguém, decida amar essa pessoa a cada dia que você acordar: se o amor for uma decisão, ele será capaz de sustentar o seu relacionamento, independentemente de como esteja o nível da sua paixão.

6) Privilegie o papel do diálogo no seu relacionamento.

Busque essa interação na sua relação tendo em vista que você tem dois ouvidos e apenas uma boca. Estejam prontos para ouvir e sejam tardios para falar [3] e, quando forem falar, tenham em mente que a boca fala daquilo que o coração está cheio [4]; portanto, se o seu coração está cheio de amor, você irá sempre falar palavras de amor ao seu parceiro. Evite termos sinônimos de grosseria ou que sejam chulos. Tente sempre manter o nível do diálogo com palavras saudáveis. O diálogo abre espaço para discussão de idéias e dá oportunidade para que você conheça melhor o outro; da mesma maneira, é por meio do diálogo que você descobrirá, com antecedência, como vocês administrarão um lar, educarão os filhos e se existem grandes dissonâncias na maneira de vocês encararem a vida e os seus percalços.

7) Relacionamentos demandam tempo.

O belo texto de Eclesiastes 3 afirma que "há um tempo certo para cada propósito debaixo do céu". Não há como manter um relacionamento se você não dispensar tempo de investimento nele. Acredito que este item serve de pressuposto para os outros itens porque não há como dialogar, conhecer, amar sem dedicar tempo para isso. Se você deseja ter um relacionamento saudável, é indispensável que você reserve o tempo necessário para tanto.

8) Tenha o amor por ideologia.

Respeite o amor como se fosse algo que não pertence só a você, como se fosse um nome de família que você leva e que, se você desonrá-lo, estará desonrando várias pessoas se não tomar os cuidados devidos. Seja engajado no que se refere ao amor, lute por ele, o preserve!

9) Tenha empatia pelo seu parceiro.

Ter empatia é a capacidade de colocar-se no lugar do outro. Uma pergunta fundamental que deve ser feita no seu modo de agir é: "Eu gostaria se ele/ela fizesse isso comigo?". Quando você age pensando dessa forma, as coisas ficam mais simples.

10) Não deixe o seu relacionamento cair no marasmo.

O item 5 evita, de certa forma, que o seu relacionamento não definhe por causa do marasmo, mas convenhamos que um namoro torna-se muito mais saudável quando ainda se tem romantismo, surpresa. Não fique preso às datas comemorativas e especiais, mas saiba surpreender o seu parceiro com presentes e com palavras de carinho em momentos inesperados. Títulos, alianças e afins não sustentam nada. Não é só em novela que relacionamentos de 30 anos acabam. Conheço relacionamentos de 50 anos que terminaram. Não sei as causas, mas a falta de romantismo é um fator que pode ser determinante. Sei que para nós, homens, é complicado ser detalhista, notar roupas novas, cabelos cortados, mas não custa nada fazer um esforço para elogiar sempre. Elogios em excesso nunca fazem mal.

11) Seja alguém responsável por aumentar a autoestima do seu parceiro. Seja amigo.

Na vida, não são poucas as pessoas que encontramos que estão sempre dispostas a derrubar-nos, deixar-nos para baixo. Não seja mais uma pessoa a fazer isso com o seu parceiro. Tenha sempre palavras de amor, superação, alegria. Levante o seu parceiro e seja o ombro amigo com o qual ele saiba que pode chorar, desabafar. No contexto da antiguidade grega, fazia-se distinção entre quatro tipos de amor: filéo, ágape, eros e stergo. O primeiro diz respeito a gostar de alguém, sentir afeição; o segundo, ao amor de Deus para com a sua Criação; o terceiro, ao amor erótico; e o último refere-se à afeição entre pais e filhos, entre um soberano e os seus súditos, ou mesmo entre um cão e o seu dono. Acredito que um relacionamento saudável deve ser a fusão dessas quatro instâncias, sendo que o descaso com relação a um desses tipos de amor pode ser determinante no insucesso de um relacionamento. Existe um poema do Jorge de Lima chamado "O acendedor de lampiões" que influenciou bastante o meu modo de enxergar o mundo. O poema fala sobre um acendedor de lampiões que é responsável por levar luz para as pessoas, mas que, na própria choupana, talvez não tenha luz. O poema termina dizendo que muita gente insinua nos outros crenças, religiões, amor, felicidade, sendo como o acendedor de lampiões que não tem luz na sua própria casa. Aprendi com o poema que, mesmo quando não estamos felizes, podemos fazer outras pessoas felizes. Mesmo quando você mesmo está para baixo, você pode ser responsável pela alegria de outra pessoa.

12) Seja fiel.

Não seja apenas fiel ao seu parceiro, mas seja fiel ao seu sentimento. Se for engajado com o amor, como disse num item 8, você será fiel ao próprio amor que você sente.

13) Tenha confiança.

Um relacionamento construído sobre desconfiança nunca poderá ser, de fato, saudável. É extremamente necessário que você confie em quem está com você. Se você não tem essa capacidade, é porque ainda não está suficientemente preparado para um relacionamento.

14) Materialize o que você sente.

Não adianta dizer todo dia que você ama o seu parceiro se você não demonstra isso nos seus pequenos gestos, na maneira como você trata-o, com o seu olhar. Tente expressar o que você sente das maneiras mais diversas possíveis. É uma necessidade humana apegar-se a coisas concretas para entender o abstrato; portanto, presenteie o seu parceiro, mas não ache que apenas objetos sofisticados e caros serão responsáveis por manifestar o seu sentimento. Tente ater-se a detalhes, momentos em que você pode mostrar que você, realmente, é alguém com quem se pode contar.

15) Seja cuidadoso ao lidar com o passado, o presente e o futuro.

Não seja o tipo de pessoa que fala insistentemente dos erros do seu parceiro ou que joga diariamente na cara dele fatos desagradáveis do passado. Importe-se com o seu presente. Valorize-o! Dê importância aos poucos momentos em que você pode estar ao lado de quem você ama, mas tenha sempre em vista o futuro — vide item 1.

16) Seja cúmplice.

Cumplicidade é um fator preponderante numa relação. Não tive a preocupação de organizar esta lista de maneira lógica e axiomática, para que ela contivesse o menor número de itens, e a prova disso é o fato de a cumplicidade dialogar com vários itens desta lista. Seja refém do seu amor, tanto do sentimento quanto do seu parceiro. Quando o seu parceiro estiver numa situação ruim, mesmo que ele esteja errado, não o exponha. Seja o primeiro a estender-lhe a mão. Mesmo que ele mereça ser repreendido, faça-o de maneira delicada e privada. Seja, da mesma maneira, o primeiro a defender quem você ama.

17) Relacionamentos têm altos e baixos.

Assim como tudo na vida, os relacionamentos têm momentos em que tudo parecerá estar bem e têm outros momentos em que parecerá que você está vivendo no próprio Inferno. Não se assuste com isso. As próprias alternâncias naturais de humor podem gerar esses altos e baixos. Seja responsável por não ser mantenedor dos momentos ruins, mas sempre procurar melhorar o seu relacionamento.

18) Prime pela verdade.

Não minta, nem omita, mas aprenda a dizer a verdade na hora certa e do jeito certo. Quanto a este quesito em particular, saiba que o fato de você ter razão não lhe dá o direito de fazer cobranças ou de colocar o outro em situação delicada. Comprometa-se com a verdade, mas com bom senso e sensatez. Um relacionamento construído na mentira não dura, gera desconfiança e traz outros inconvenientes.

19) Busque um bom relacionamento com os familiares e amigos do seu parceiro.

Se você pensa em ter um relacionamento duradouro, é imprescindível que você busque dar-se bem com a família e com os amigos do seu parceiro. Nunca diga ao seu parceiro para afastar-se de um amigo, até porque, quando os relacionamentos acabam, os amigos verdadeiros são aqueles que ficam. Dê tempo para o seu parceiro gastar com os seus amigos e familiares: da mesma maneira que ele precisa dispensar tempo para ter um bom relacionamento com você, ele precisa fazer o mesmo com outras pessoas com quem ele se relaciona. É complicado tentar fazer isso quando algumas figuras exóticas e nem um pouco edificadoras surgem, mas busque representar um papel de reconciliador, e não de criador de dissensões. Entenda também que, se o seu parceiro sentir a necessidade de sair sozinho ou fazer coisas sozinho, não quer dizer que ele não ama você ou não sente sua falta ou necessidade de estar ao seu lado, apenas ele tem preferências. Respeite isso.

20) "Um cordão de três dobras não se rompe com facilidade".

Mais uma vez citando Eclesiastes — um dos meus livros favoritos da Bíblia —, deixei este último item para quem crê em Deus, embora ele sirva também para reafirmar o item anterior, já que um relacionamento que tem apoio dos familiares e amigos tem mais consistência. Busque crescer com o seu parceiro em todos os âmbitos: cultural, social, intelectual e, principalmente, espiritual. Coloque o seu relacionamento na presença de Deus. Orem por vocês, busquem-nO! Compartilhem os seus desejos, sonhos e planos com Deus e tentem, juntos, criar um relacionamento de intimidade com Deus.


[1] http://www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/story/2005/11/051128_amorcc.shtml

[2] http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2009/01/090105_amorpesquisaml.shtml
[3] Tg 1.9

[4] Lc. 6.45

sábado, 3 de outubro de 2009

Educação

Na revista Veja da semana passada, alguns artigos discursaram sobre a Educação; um deles, inclusive, utilizou-se de informações errôneas. Um artigo do J.R. Guzzo, intitulado Ponto de Partida, afirma, por exemplo, que nenhuma universidade brasileira figura entre as 100 melhores do mundo, sendo que a própria revista, recentemente, informou que a USP ocupou a 38ª posição no ranking da Webometrics Ranking Web of World Universities [1]. Mandei um e-mail para a revista informando a incorreção das informações e que, dessa maneira, a revista abre espaço para que seu detratores a denigram. Posso gostar de algo, mas meu gosto não obscurece minha visão crítica.

Quero problematizar na postagem de hoje a temática educação. A Veja do fim de semana passado iniciou minha reflexão e a abertura do XV Congresso de Iniciação Científica da UnB e 6º Congresso de Iniciação Científica do DF deu prosseguimento à minha reflexão tanto pela atitude dos participantes naquele congresso quanto pela audição de uma das palestras. Antes de tal audição, percebi a falta de educação das pessoas que estavam no Congresso: enquanto alguém discursava, os estudantes conversavam, ignoravam quem falava e quando a lista de presença foi passada, quase não era possível ouvir quem falava. Quem conhece a acústica dos anfiteatros, sabe do que estou falando — embora aprecie bastante a estética dos projetos do Niemeyer, há quase 5 anos sinto na pele a falta de funcionalidade deles.

Depois de observar a falta de educação dos estudantes, um palestrante procurou responder para que serve a iniciação científica. Ele respondeu utilizando alguns argumentos numéricos e práticos como, por exemplo, diminuição do tempo de mestrado, mas ele disse que a principal finalidade encontra-se no ser humano em seu sentido mais geral. Acho que o raciocínio pode ser ampliado para o nível do Ensino Superior. Os nossos estudantes saem das universidades melhores do que entraram? Com certeza, eles saem sabendo mais do que entraram; uns, menos, outros, mais. Eles, contudo, são mais capazes de sensibilizar-se com o outro e de transformar o seu conhecimento técnico em sabedoria e cultura? Acredito que, infelizmente, a reposta é negativa.

Que a educação no Brasil está falida há tempos, é do conhecimento de todos; no entanto, acredito que problematizar o assunto e encontrar soluções, de curto, médio e longo prazo, é complicado. Não sei muita coisa de Estatística. O que sei aprendi no Ensino Médio — o que é quase nada — e em algumas matérias da UnB, principalmente, nas de Física Experimental e de Probabilidade; contudo, acho que a lógica é uma ferramenta que pode auxiliar bastante. A OCDE —Organização para a cooperação e desenvolvimento econômico [2] — apontou num relatório recente que o investimento por aluno no Brasil, em comparação com os países membros da organização, que totalizam 30 países, é quatro vezes menor. O Inep — Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira [3] — informa que não houve muita variação na porcentagem do PIB investido em educação entre 2000 e 2007.

A comparação do investimento em educação entre os países a partir da porcentagem do PIB é um instrumento que só deve ser usado para o que chamo de equiparação positiva. Explicar-me-ei. Se o nosso investimento está abaixo de países que têm bons resultados em educação — pode-se olhar o ranking de universidades ou qualidade da produção de artigos científicos como base para tais bons resultados —, devemos esforçarmo-nos para aumentar o investimento porcentual com relação ao PIB; se, contudo, o nosso investimento for igual ou superior ao daqueles países com melhor desempenho geral, deve-se levar em consideração o contingente populacional porque aí entra em questão o dado fornecido pela OECD sobre o investimento médio por aluno.

Se tem uma coisa que me indigna na gestão Lula é a fórmula medíocre para resolução de problemas. Em vez de investir-se na educação básica e no Ensino Médio para que os alunos de escolas públicas possam competir em pé de igualdade com os alunos das escolas particulares, cria-se cotas; em vez de ensinar-se o uso correto da norma culta, simplicaram-na — mais alguns anos de Lula e teríamos uma língua sem acentos como a Inglesa e por aí vai. O novo ENEM, na minha humilde opinião, é uma das maiores burrices nesse país. Fala-se que o raciocínio lógico é privilegiado em vez da decoreba, mas não vi nada disso nos exemplos dados no site do Inep. A maioria das questões são mal feitas e ambíguas. Pra eu acertar, eu tenho de limitar a minha capacidade mental e pensar de modo medíocre. Sempre gostei das provas do Cespe. Não acho que a UnB deva mudar seu sistema de avaliação. Fiz o vestibular depois de quatro anos da minha conclusão do Ensino Médio e passei. Não tenho nenhuma memória extraordinária. Se a prova não exigisse raciocínio lógico, eu, provavelmente, não teria sucesso.

Qual o objetivo de uma prova que não cobra língua estrangeira? É lamentável um aluno terminar o Ensino Médio hoje em dia sem esse tipo de conhecimento. No curso de Física, por exemplo, se um aluno não souber Inglês, dificilmente, ele terá uma boa formação. Nem comento o fato de uma prova não cobrar gramática. Para concluir a análise de dados estatísticos, a UNESCO lançou um relatório global sobre educação muito interessante. Quando tiver tempo, tentarei lê-lo por inteiro. São 264 páginas de análises sobre o quadro geral da educação no mundo [4]. Quando vi que países como Costa Rica e Jamaica investem mais dinheiro em educação do que o Brasil, fiquei indignado. Com relação a Cuba, nem se o Brasil triplicasse o seu investimento, igualaríamo-nos aos cubanos.

Acredito ainda que as mazelas da educação do Brasil encontram-se num quadro mais profundo e sutil. Bertrand Russell, em seu livro O Casamento e a moral, diz algo que nunca percebi. As sociedades podem ser caracterizadas de duas maneiras: por meio do seu sistema econômico ou por meio do seu sistema familiar. A maior parte das análises são feitas no âmbito da Economia. Prova disso é a infinidade de livros que podem ser encontrados em livrarias partindo-se dessa análise. Quando eu era criança, quando sabíamos que algum colega tinha pais separados ou coisa do tipo, ficávamos abismado e, geralmente, esses colegas eram problemáticos. Hoje, a regra é que os pais sejam separados. Sei que posso parecer conservador. Alguns, talvez, dirão que sou defensor de uma instituição falida e que o que ocorria antes era que as pessoas não tinham a liberdade de dar fim a um relacionamento que não funcionava.

Irei de encontro a essas possíveis pessoas que possam opor-se a mim e direi que o que ocorre hoje é que as pessoas partem do pressuposto de que se não dar certo, elas podem terminar a qualquer momento um relacionamento. Uma criança que nasce num ambiente familiar desestabilizado, mesmo depois que já tenha ocorrido a separação, os próprios pais apresentam cicatrizes em sua personalidade que influenciarão no modo como tratarão os seus filhos, principalmente na imposição de limites. O pior é quando os pais não conseguem educar os seus filhos e ainda atrapalham o trabalho dos professores que, na maioria das vezes, sem sucesso, tentam melhorar o quadro. Recentemente, houve uma polêmica sobre o caso de uma professora que mandou um aluno pintar uma parede que pichou [5]. A professora disse que o aluno parecia um bobo da corte e a mãe já quis pronunciar-se em favor de seu filho.

Não consegui achar a referência, mas li sobre a discussão de leis que proíbem os pais de agredi-los fisicamente. Sou totalmente contra. Não vou utilizar a Bíblia como argumento porque acho que nessas questões, temos de usar argumentos lógicos que se apliquem a qualquer pessoa de qualquer pensamento religioso. Uma criança não tem a capacidade de entender certas coisas. Dar palmadas não causa problema nenhum. Não conheço estudos a respeito, mas aposto que se fizessem um estudo a respeito, descobriam que — como diria minha mãe — quem não apanhou dos pais quando criança, apanhou da polícia quando cresceu.

O problema não se restringe ao núcleo familiar e ao investimento do estado, mas em como se investe. O ENEM é o exemplo de uma política mal feita porque foi baseado no SAT americano. Temos de investigar como as coisas funcionam no Brasil. Não vejo problema em importarmos boas políticas, mas devemos ter em mente que o Brasil tem as suas peculiaridades. Da mesma forma, não adianta aumentar os gastos com a educação sem mudar o tipo de política. Conheço muitos professores universitários totalmente analfabetos. Eles cometem erros crassos em plena sala de aula. Não seria a hora de implementar um sistema como o francês no que se refere ao conhecimento da nossa língua?

Alguns países asiáticos criaram políticas para atrair as melhores mentes para o professorado. No Brasil, que perspectiva de carreira tem um professor? Aqui, diminui-se o salário dos professores no mesmo período em que se aumenta o salário de um ministro do STF para quase 26 mil. Um professor da UnB tem de ter mestrado e doutorado, além de 12 anos de docência, para ganhar 8 mil em média. Acho que não preciso argumentar que um professor tem muito mais importância num país do que um ministro de um tribunal.

Para finalizar, eu vou contrapor um mendigo e um professor. Os professores têm um piso salarial de 950 reais. Digamos, para simplificar, que um sinal de trânsito fique verde durante 30s por minuto e digamos que neste tempo ele ganhe 10 centavos. Em uma hora, ele arrecadará 6 reais. Se ele trabalhar 8 horas por dia e 25 dias por mês, ele ganhará 1200 reais! Chegamos a esse valor considerando que ele ganha 10 centavos por minuto, mas se de vez em quando alguém der 50 centavos ele já aumenta consideravelmente o seu ganho. Chega-se à conclusão, portanto, que, neste país, é melhor ser mendigo do que professor[6].


[1] http://www.webometrics.info/

[2] http://www.oecd.org

[3] http://www.inep.gov.br/

[4] http://www.uis.unesco.org/template/pdf/ged/2009/GED_2009_EN.pdf

[5] http://g1.globo.com/Noticias/Vestibular/0,,MUL1313499-5604,00.html


[6] Comentário do senador Cristovam sobre o aumento do salário dos ministros do STF em contraposição ao piso salarial dos professores:
http://cristovam.org.br/blog/?p=3133&cpage=1