sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Axiomas e Mariposas — que é a verdade?



Um assunto pelo qual tenho interessado-me é pela axiomatização, não só da Matemática, mas do conhecimento grosso modo. Quando descobri que a Geometria Euclidiana não era única, que existiam as geometrias não-euclidianas e que por um ponto exterior à uma reta podem passar mais de uma reta que seja paralela àquela, tive uma espécie de terromoto na minha concepção de mundo. Vivemos um tempo de relativismos. Uma das principais teorias físicas do século XX tem por nome "Teoria da Relatividade"; contudo, a frase que costumam atribuir a Eintein de que "Tudo é relativo" nunca foi dita por ele e, inclusive, ele queria que o nome da teoria fosse "Teoria das Invariâncias", mas o nome "Teoria da Relatividade" já tinha popularizado-se. O nome original do artigo que lançou os postulados da Relatividade Restrita, que não inclui a ação da força gravitacional, tem por título original "Sobre a eletrodinâmica dos corpos em movimento". Por falar nos postulados, eles enfatizam absolutismos em vez de relativismos. O Primeiro diz que as leis físicas são as mesmas para qualquer referencial e o segundo diz que a velocidade da luz é invariante, independentemente do referencial.

Desde o Ensino Médio, questiono-me sobre o que quer dizer um ponto, que é um ente fundamental no desenvolvimento de toda a Física e a Matemática. Um ponto é definido como um ente adimensional, mas existe algo adimensional? Quanto mais você se aproximar daquilo que temos por ponto, mais poderemos subdividi-lo, mas existe um limite para isso? A Física costuma impor alguns limites, mas a Física é baseada na Matemática e a partir do conceito de ponto, retas são construídas etc. . Dispensar o conceito de ponto é dispensar todo o nosso conhecimento em Exatas. O que mais me impressiona é que o castelo erigido por conceitos que não existem constrói pontes, edifícios, manda espaçonaves ao espaço e faz tantas outras maravilhas. Nunca fui adepto da idéia de que os resultados mostram se o método estava certo. Esse maquiavelismo é desonesto pra mim; da mesma maneira, esse pensamento leva-me às religiões. A Ciência não é muito diferente da Religião no que se refere a axiomatizações; no entanto, segundo o Houaiss, "axioma" é "premissa considerada necessariamente evidente e verdadeira, fundamento de uma demonstração, porém ela mesma indemonstrável". As premissas adotadas pelos religiosos não são tão evidentes assim.

Uma pergunta que sempre me incomodou foi "que é a verdade". Parece que não tem incomodado só a mim. Nietzsche dizia que "em todo o novo testamento só aparece uma figura digna de homenagens: Pilatos, o vice-rei romano". Ele dizia isso porque em João 18.38, Pilatos questiona "que é a verdade?", apoderando-se de um dos maiores questionamentos da Filosofia. Eu passei muito tempo tentando dar uma definição satisfatória. Nunca fui muito fã dos empiristas, até ler Shaftesbury, e o relativismo das sensações não me pareceu ser um caminho para a definição de verdade. Algo que sempre me perguntei foi se nós enxergamos as coisas do mesmo jeito ou se apenas demos nomes convencionais. Explico-me. Digamos que eu enxergue a cor vermelha como sendo amarela, e vice-versa, mas, desde pequeno, disseram-me que o amarelo chama-se vermelho, então, quando comparar com outra pessoa, falarei que estou vendo a mesma cor que ela, mas, em verdade, estarei vendo algo distinto. Alguém pode me dizer que isso pode acontecer com um homem e um crustáceo, que tem órgãos sensoriais distintos, e que como os instrumentos de captação entre dois homens quaisquer são iguais, a percepção seria a mesma; no entanto, quando alguém sente dor de dente, vai fazer uma cirurgia e recebe uma anestesia, a dor cessa. A dor está no dente ou no cérebro? Hoje, acredito que tudo está no cérebro e que nada existe sem ele, inclusive alma, mas isso é assunto para outra postagem — aumentando a minha lista de assuntos a serem tratados aqui.

Deixando um pouco de lado os questionamentos, e adentrando o campo das respostas, direi qual o meu conceito de verdade. Quando li Kant, percebi que a verdade absoluta é a coisa-em-si e que a mentira é o fenômeno. Para aqueles que estão menos familiarizados com termos filosóficos, coisa-em-si é a coisa como ela é, sem as perspectivas de quem vê, e o fenômeno é como enxergamos as coisas. Para exemplificar, imaginem um átomo. Ele tem um certo movimento. Para observá-lo, temos de incidir luz nele, mudando sua trajetória original. O átomo, antes de ser observado, é a coisa-em-si e o fenômeno é o que vemos. Perguntar-me-iam se não temos acesso às coisas-em-si. Teria de responder que não. Poderia listar muitos motivos físicos que me levam a crer que não tenho acesso às coisas-em-si e que nunca terei tal acesso enquanto viver. Os motivos adentram o campo da Psicologia etc. . "Nosso espírito é um cárcere: nunca pode saber quanto do objeto que ele conhece está nesse objeto ou no espírito que ele 'conhece'.".



Sempre me perguntei se as mariposas, com seu movimento desesperado, têm algum sensor ou se, simplesmente por instinto, não se chocam com certos objetos, por exemplo, um copo com líquido. Acontece que ontem estava na cozinha, peguei meu copo, enchi-o com Ades de banana. Fui pegar um pacote de biscoito e quando voltei para pegar o copo, havia uma mariposa se contorcendo dentro do meu copo. Mais uma das minhas intermináveis perguntas foi respondida. Aqueles que me conhecem há mais tempo devem estar perguntando-se aonde foi o meu célebre Toddynho. Acontece que descobri recentemente que tenho intolerância à Lactose e, portanto, estou abstendo-me dele. Não nasci com um bom paladar. Considero que assim como as Artes Visuais estão para os olhos e a Música para os ouvidos, a Gastronomia está para o paladar. Estou tentando mudar esse hábito. Gosto de borboletas, mas odeio profundamente as mariposas; no entanto, descobri recentemente uma música do Francis Hime, com a letra da Olivia Hime, intitulada, justamente, Mariposa e que, apesar do título, é linda! A intérprete é a Mônica Salmaso, que, por sinal, manda muito.

Mônica Salmaso — Mariposa
Música: Francis Hime/ Letra: Olivia Hime

Ó filhinha minha
Não sai de perto
Até clarear
Tua mãe tem medo
E precisa muito
Do teu olhar

Conta
Aquela história
Que eu te contava
Pra dor passar
Me acalma
Sussura um verso
E me diz o que é
Que faz sossegar

Nana, nana, nana
Menina e nina
Quem te nanou
Tua mãe tá triste
É de tanto amor

Me diz
Quantas folhas
Perde a palmeira
Antes dela crescer
Será que eu
Vou ter a coragem
De tanto me perder

Me diz
Quantas cruzes
Bordo em meu peito
Antes de me render
Se nos meus bordados
Ou mesmo nos pontos
De um botão
Arremato a dor
Que foi em vão

Pra onde vai
Tanta luz
E essa mariposa
Que se espantou
Pra onde vai
A ternura
Que um dia
Meu peito
Já guardou

Pra onde
É que vou
Tão triste
E madura
Pra onde
Meu amor

Nana, nana, nana
Menina e nina
Quem te nanou
Tua mãe tá triste
É de tanto amor

Ó filhinha minha
Não sai de perto
Até clarear
Tua mãe precisa
Do teu olhar

Nana, nana, nana
Menina e nina
Quem te nanou
Tua mãe tá triste
É de tanto amor


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Os 10 mais


Sempre gostei de listas. A revista Bravo! tem lançado edições especiais com listas dos 100 mais; por exemplo, os 100 lugares essenciais da cultura mundial, os 100 filmes essenciais, 100 obras essenciais da pintura mundial, os 100 objetos essenciais do design mundial etc. Esta última revista inclusive ajudou-me bastante a ter um pouco mais de noção sobre design, já que meu conhecimento sobre o assunto era quase nulo. Acompanho, da mesma maneira, listas de revistas como Rolling Stone ou de blogues ou sites que acompanho — um dia tenho de postar aqui sobre essa paixão que tenho por revistas, mas é melhor perder a mania de prometer que devo falar sobre determinado assunto porque já contabilizo duas postagens e dois assuntos prometidos.

Numa de minhas andanças quase diárias na banca de revistas, encontrei o livreto acima intitulado "Os 10 mais" com o subtítulo "250 rankings que todo mundo deveria conhecer" — Luiz André Alzer e Mariana Claudino. Não o li todo ainda. Ele é subdividido em temas, e, por enquanto, só li a primeira parte que se chama "Caldo de cultura — Cinema, Televisão, Música, Literatura e Artes em geral". Várias listas chamaram-me a atenção — agora fui parar para pensar e existem as duas expressões "chamar a atenção" e "chamar à atenção" dependendo do que se quer dizer! Eu fui pesquisar para confirmar meu insight (perdoem-me os avessos a estrangeirismos, mas não achei outro termo aportuguesado e, além do mais, o termo está dicionarizado) e encontrei que "chamar a atenção" tem por significado "despertar interesse ou curiosidade", "ser bem visível" ou "fazer notar ou destacar", enquanto "chamar à atenção" significa "fazer uma crítica ou reparo". Não sei se vocês já perceberam, mas o uso do travessão, geralmente, indica alguma digressão minha. O livreto possui, ainda, listas de personalidades famosas. Zeca Pagodinho indica os 10 maiores compositores de Samba de todos os tempos, DJ Marlboro indica as 10 músicas mais importantes de todos os tempos e muitos outros fazem suas listas. A lista do DJ Marlboro impressionou-me bastante. Sempre li coisas boas sobre ele com certa incredulidade, mas o fato de Beethoven figurar em primeiro lugar e John Lennon em décimo fez-me mudar minha opinião. Uma lista interessante que escolhi para afigurar-se aqui é uma referente às 10 maiores palavras da Língua Portuguesa. Espero que o limite de caracteres não seja excedido aqui — suponho que deva existir um limite! A lista não inclui palavras que mudam apenas o sufixo. Ei-la!

1. pneumoultramicroscopicossilicovulcanoconiótico (46 letras)
Relativo a uma doença pulmonar aguda causada pela aspiração de cinzas vulcânicas;

2.paraclorobenzilpirrolidinonetilbenzimidazol (43 letras)
Substância presente em medicamentos como o Ultraproct;

3. piperidinoetoxicarbometoxibenzofenona (37 letras)
Substância presente em medicamentos como o Baralgin;

4. tetrabromometacresolsulfonoftaleína (35 letras)
Termo específico da área de Química¹;

5. dimetilaminofenildimetilpirazolona (34 letras)
Substância ativa em vários comprimidos para dor de cabeça;

6. hipopotomonstrosesquipedaliofobia (33 letras)
Doença psicológica que se caracteriza pelo medo irracional (ou fobia) de pronunciar palavras grandes ou complicadas²;

7. monosialotetraesosilgangliosideo (32 letras)
Substância presente em medicamentos como o Sinaxial e o Sygen;

8. anticonstitucionalissimamente (29 letras)
Maior advérbio da Língua Portuguesa. Significa o mais alto grau de inconstitucionalidade³;

9. oftalmotorrinolaringologista (28 letras)
Profissional especializado nas doenças dos olhos, ouvidos, nariz e garganta*

10. inconstitucionalissimamente (27 letras)
Sinônimo de anticonstitucionalissimamente.

¹Ainda bem que na Física ou Matemática os termos são relativamente pequenos!
²Parece que não só os químicos, médicos, mas também os psicólogos sofrem com palavras grandes. Deve ser curioso alguém que padece dessa doença ter de dizer toda vez aos outros o que sofre. Poderiam ter inventado uma sigla ou coisa parecida!
³Olha os juristas se juntando à classe dos químicos, médicos e psicólogos!
*Podiam inventar um nome grande para clínicos gerais! Tenho de aprender a fazer os índices acima de ³!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Postagem primogênita

Resolvi virar "blogueiro" — as aspas devem-se ao fato do termo ainda não estar dicionarizado. Intitulei o "blog" de De omnibus dubitandum est — "duvide de tudo" em latim — porque apropriei-me do mote cartesiano desde que tive meu despertar filosófico; contudo, tudo poderá ser tomado por tema para este espaço, não se limitando, portanto, às discussões filosóficas, embora acredite que tudo pode ser tomado por debate filosófico, até mesmo aquilo que é tomado por futilidade por alguns. Tenho muitos assuntos em mente para escrever; no entanto, como sou partidário de Nietzsche quando ele diz que "sem a Música, a vida seria um erro", começarei pela Música. Compus uma música ontem chamada Tiempo. Não foi só o título que saiu na Língua Espanhola, mas o resto da música também foi composto na Língua. Estou receoso de que tenha cometido algum equívoco na escrita, pois o Espanhol, das Línguas que, de certa maneira, falo é a que menos tenho afinidade. Só li um livro na minha vida em Espanhol e faz muito tempo que a estudei. Transcreverei a letra e peço para que quem tem maior afinidade com a gramática espanhola possa ajudar-me.

Tiempo

Yo me pregunto lo que és
Eso que llaman de tiempo.
¡Él tiempo! ¡Tiempo!

¿Que és él tiempo al fin?
Cercado de tanto espacio vacío y materia.

¿Porque yo me recuerdo del pasado,
Pero no me recuerdo del futuro?
¿Si yo me olvido del pasado,
Porque no me olvido del futuro?

¡Tiempo que és tan incomprensible!

Resolvi compor uma música numa língua diferente porque tenho deparado-me com bandas cosmopolitas. O engraçado é que as conheci por coincidência. Citarei duas. A primeira chama-se Brazilian Girls e a segunda Pink Martini. Aquela canta em Italiano, Alemão, Espanhol, Português, Francês e Inglês e esta em Inglês, Espanhol, Francês, Italiano, Português, Japonês, Árabe e Grego — é bom deixar claro que, embora seja adepto da norma culta de nossa Língua, opto por algumas regras próprias, principalmente depois da palhaçada dessa nova reforma ortográfica, que é assunto para outra postagem. Eu utilizo, por exemplo, maiúsculas para diferenciar Português, Língua, de português, aquele que nasceu em Portugal. Com o tempo, vocês perceberão minhas preferências — . Achei muito legal isso, principalmente porque gosto de treinar meu poliglotismo. Gostei mais do som da Pink Martini. As duas bandas lançaram álbuns novos no ano passado. Voltando à minha composição, estava pensando um dia desses que eu sou eclético no que se refere a ouvir música, mas que meu ecletismo não se reverte muito nas minhas composições: elas são mais Mpb. O ruim é que além de ter muita limitação técnica, também tenho limitações no que se refere ao timbre. Como compor um Heavy Metal tradicional usando só violão? Eu tenho ouvido muito Indie Rock e tentei compor algo mais ou menos no estilo. Se eu tivesse mais recursos para gravar outros instrumentos, teria ficado melhor, mas acho que deu pra fazer algo no estilo. Quando colocar a música no YouTube, disponibilizo-a aqui.