Não sei exatamente quando e como me sobreveio a idéia de listar no blogue 10 livros que influenciaram de uma maneira direta a minha vida. Não tive por critério de seleção a qualidade literária dos textos; por isso, não listei grandes nomes da Literatura como Goethe ou Tolstói. Se algum dia tiver uma obra literária relacionada ao romance, poderei fazer uma lista de influências — os dois romancistas citados constarão nessa lista certamente.
O que há de comum nos livros que mencionarei é que todos eles provocaram uma mudança de perspectiva na minha vida: ou adotei novos paradigmas ou abandonei preconceitos e pressupostos. Lamento o fato de nem todo mundo possuir o prazer da leitura. A inércia, seja no sentido de paralisia ou no de movimento sem alternâncias, é diretamente combatida pela leitura. As grandes revoluções e transformações ocorrem de dentro para fora, e a Literatura é o grande estopim de tais mudanças. Eis a lista:
Bíblia
Pode parecer um clichê, mas não poderia deixar de mencioná-la. Mesmo que não tivesse nascido num lar cristão e fosse ateu, teria de listá-la, porque a sociedade ocidental não pode ser compreendida à parte da cultura cristã — e esta à parte de seu sagrado livro. Tinha sete anos de idade quando resolvi lê-la por completo. O livro de que mais gostava era o Apocalipse, talvez porque não o entendia e porque toda aquela história de dragões e de cavaleiros era um tanto quanto fantasiosa para mim. Cresci lendo este livro a partir de pressupostos errados que mais tarde fizeram afastar-me da fé.
O que há de comum nos livros que mencionarei é que todos eles provocaram uma mudança de perspectiva na minha vida: ou adotei novos paradigmas ou abandonei preconceitos e pressupostos. Lamento o fato de nem todo mundo possuir o prazer da leitura. A inércia, seja no sentido de paralisia ou no de movimento sem alternâncias, é diretamente combatida pela leitura. As grandes revoluções e transformações ocorrem de dentro para fora, e a Literatura é o grande estopim de tais mudanças. Eis a lista:
Bíblia
Pode parecer um clichê, mas não poderia deixar de mencioná-la. Mesmo que não tivesse nascido num lar cristão e fosse ateu, teria de listá-la, porque a sociedade ocidental não pode ser compreendida à parte da cultura cristã — e esta à parte de seu sagrado livro. Tinha sete anos de idade quando resolvi lê-la por completo. O livro de que mais gostava era o Apocalipse, talvez porque não o entendia e porque toda aquela história de dragões e de cavaleiros era um tanto quanto fantasiosa para mim. Cresci lendo este livro a partir de pressupostos errados que mais tarde fizeram afastar-me da fé.
Nunca li nenhum outro livro mais de uma vez, pois parto do pressuposto de que tenho um tempo finito de vida e uma quantidade imensurável de livros que ainda não li; contudo, espero ler este livro muitas vezes durante minha vida, porque creio que, por meio dele, posso escutar a voz de Deus. Algumas pessoas afirmam que o fato de sempre encontrarem algo novo nela, a cada vez que a lêem, torna-a divina. Isso é uma bobagem. Qualquer livro lido mais de uma vez oferecerá novas interpretações. Quando Heráclito diz que não se entra duas vezes no mesmo rio não é só porque o rio muda, mas porque quem entra também é outra pessoa.
Discurso do Método/ As paixões da alma/ Meditações — Descartes
Sei que minha proposta era listar 10 livros; no entanto, os três livros do Descartes estão num livro só da coleção "Os Pensadores", que foi a edição que li. Na minha leitura, li os três de uma vez sem muita distinção entre um e outro, embora tenha achado a parte das Meditações que trata sobre Medicina bastante chata — percebi que nunca estudaria Medicina depois disso. Li Descartes em 2001. A coleção de livros de Filosofia "Os Pensadores" estava sendo lançada nas bancas e estava bastante interessado em Filosofia na época — uma das poucas aulas a que assisti naquele ano foram as de Filosofia, dado que reprovei o primeiro ano do Ensino Médio. A obra de Descartes causou profundas transformações na minha vida. Acredito que a principal foi a dúvida como método. Percebi que, até aquele momento, tinha vivido sem muitos questionamentos e que defendia muita coisa de modo arbitrário. Resolvi questionar todas as minhas convicções. Mesmo assim, continuei crendo na existência de Deus, embora já não cresse na Bíblia do mesmo modo como cria.
Os elogios de Descartes à Matemática também causaram grande impacto sobre mim. Sempre fui um aluno de Humanas. Minhas matérias prediletas eram História e Geografia, embora gostasse de Ciências na 5ª e 6ª série. Já tinha pensado, inclusive, em cursar História na faculdade. Matemática sempre tinha sido a matéria de que menos gostava, mas Descartes falava tão bem dela que passei a mudar minha visão. O engraçado é que uma das matérias em que reprovei, no primeiro ano, foi Matemática; no entanto, no ano seguinte, tudo pareceu claro para mim. Cheguei a tal ponto que não estudava de propósito para ter mais emoção nas provas. Posso dizer com segurança que nunca gostaria de Exatas hoje se não fosse por esse livro.
Sempre gostei do assunto, dentro da Ficção Científica, referente a viagens no tempo. Para ser sincero, gostar é pouco: sempre fui fascinado pelo tema. Comprei esse livro num contexto muito específico. Já tinha me deparado com a obra de Descartes e fiquei impressionado com o fato de ele ter formação na área de Direito, mas, mesmo assim, ter feito importantes realizações na Filosofia, na Medicina, na Matemática e na Física. Inspirado pela vida de Descartes e pela de Einstein, já que me identificava bastante com este, porque ele sempre foi subversivo, resolvi comprar o livro. Meu professor de Filosofia elogiava-me pelas minhas leituras, dizendo-me que eram complicadas. A presunção e o orgulho tomaram conta de mim. Sentia-me a pessoa mais inteligente do mundo. "Viagens no tempo no Universo de Einstein" foi o primeiro livro que li tendo de ler trechos repetidamente. O esforço que fiz para entender o livro foi tremendo. Aquilo me deixou bastante intrigado e motivado. Percebi que havia um imenso mar de conhecimento e que eu estava coletando a água desse mar com um copo. Esse livro fez-me ver que queria desafios na minha vida e que queria extrair o máximo da minha inteligência para ver até onde ela poderia levar-me. Creio que a semente para que escolhesse, futuramente, cursar Física foi plantada por esse livro.
Os problêmas do milênio — sete grandes enigmas matemáticos do nosso tempo — Keith Devlin
Não me importava com o que via no colégio. Aquilo tudo parecia bobagem para mim e acreditava que tudo aquilo seria desmentido quando ingressasse na Universidade. Tinha essa idéia porque, no meu segundo ano, quando estávamos aprendendo Termodinâmica, cheguei à conclusão de que o Universo deveria ter energia infinita por meio de alguns cálculos. Mostrei minhas contas para a minha professora, e ela disse que minhas contas estavam corretas, mas que não se usavam aquelas fórmulas para calcular o que eu queria calcular e que eu precisaria aprender a fazer os cálculos com correções relativísticas. Fiquei frustrado com isso. Desde o meu primeiro ano, estava bastante interessado nos números primos. Gastei mais de dois anos entretido com eles. Descobri algumas propriedades que nunca tinha visto em livros, mas não eram importantes o suficiente para fazer o que eu queria: encontrar um padrão ou uma maneira de encontrar o enésimo número primo a partir de uma fórmula. No meu terceiro ano de Ensino Médio, trabalhava com outras idéias na Matemática, mas sempre que procurava o meu professor para mostrar o que tinha feito, alguém já o tinha descoberto.
Para exemplificar, aprendemos que (a + b)² = 1.a² + 2.a.b + 1.b². Quando aprendi o Triângulo de Pascal, aprendi que existe uma lógica nos coeficientes dos produtos dos termos. Em outras palavras, no exemplo que dei, os coeficientes são 1, 2 e 1. Se a potência for cúbica, ou seja, se tivermos (a + b)³, teremos 1.a³ + 3a².b + 3a.b² + 1.b³, com coeficientes 1, 3, 3 e 1. Existe uma lógica entre os expoentes também. Existe uma permutação entre as potências de modo que a soma entre as potências de a e b, em cada termo da soma, nunca ultrapassa o expoente ao qual se eleva a soma inicial de dois números. Percebam que em (a+b)² temos três termos, nos quais,
Voltando ao livro, li-o nesse contexto de tentativas de descobrir algo e ver que alguém já o tinha descoberto. Descobri que o meu trabalho com os números primos estava envolvido com o problema chamado Hipótese de Riemann. Ao mesmo tempo em que fiquei empolgado, porque li no livro que esse era o único dos 7 problemas que poderia ser resolvido por qualquer pessoa, fiquei desestimulado ao ver que ele era tão importante e difícil que pagariam um milhão de dólares para quem o resolvesse. A conjectura de Poincaré está no livro também porque ainda não tinha sido resolvida. Hoje, 6 problemas ainda não foram resolvidos. Enfim, esse foi um livro que me fez querer aprender primeiro para depois tentar descobrir alguma coisa.
Investigações Filosóficas — Ludwig Wittgenstein
Nunca fui alguém que se preocupou com a norma culta da Língua Portuguesa até ler esse livro. Achava até bobagem e preciosismo; contudo, Wittgenstein ensinou-me que a minha linguagem está estritamente ligada com a minha manifestação no mundo. Percebi que grandes problemas dos diversos ramos do conhecimento estão ligados à Linguagem. Ultimamente, inclusive, tenho me impressionado muito com a Hermenêutica, mas deixarei para aprofundar-me em outras postagens. Lembro-me de que fiquei admirado com os experimentos mentais propostos no livro. Quando chegava às mesmas conclusões do livro, ficava deslumbrado. Wittgenstein também aborda um ponto que sempre questionei, mas de outra forma. Será que enxergo as coisas da mesma maneira que outras pessoas? Ele colocaria a questão de outra maneira: o que me garante que sensações que tenho a tendência de chamar de determinado nome são iguais ou semelhantes a sensações que outras pessoas denominam pelo mesmo nome? Esse livro foi também um preâmbulo para que pudesse entender melhor filósofos existencialistas como Sartre e Heidegger.
Assim falava Zaratustra — Friedrich Nietzsche
Esse foi o primeiro livro que li de Nietzsche. Ele me causou uma impressão assustadora. Imaginem o sarcasmo de uma pessoa para escrever contra a ética cristã utilizando-se da linguagem bíblica. Nietzsche conseguiu tal façanha. Estava no meu terceiro ano do Ensino Médio, em 2004, quando o li. Nunca mais minha concepção sobre a ética cristã foi a mesma. Num ano em que estava aprendendo a Teoria da Evolução, aliei o modo de pensar do Evolucionismo ao pensamento nietzschiano. Por que a ética cristã diz-nos para controlarmos certos desejos e atitudes inerentemente humanas se foram elas que, justamente, nos trouxeram ao estágio evolutivo em que nos encontramos? A partir desse livro, adotei o orgulho como ideologia.
Crítica da razão pura —Immanuel Kant
Sempre fui racionalista. Levei o racionalismo cartesiano até Spinoza e sempre fui muito avesso ao Empirismo. Kant mostrou-me que a coisa não é tão dualista quanto parece. Creio que a coisa mais importante que aprendi com Kant foi a distinção entre "fenômeno" e "coisa-em-si". Nunca mais enxerguei o mundo da mesma maneira depois de aprender essa distinção; inclusive, é muito difícil ler qualquer pensamento filosófico depois de Kant sem essa terminologia. Schopenhauer foi um pensador que partiu dessa distinção para escrever o seu "O mundo como vontade e representação", que é excelente também.
A História da Filosofia — Will Durant
Esse foi o livro que me fez deixar o Cristianismo em 2005, especificamente, no capítulo IV sobre Spinoza. Estava na praia lendo o livro e resolvi ir para o mar ficar boiando e pensando em tudo o que tinha lido. Nunca me esquecerei daquele momento. Olhava o céu azul, uma paisagem belíssima, e perguntava-me se poderia ter me enganado durante 19 anos de vida, falando com um Deus que não passava de algo que estava dentro de mim mesmo. A frase de Spinoza sobre o círculo pensante que pensaria que Deus é um círculo ficou incrustada em minha mente. Já tinha sido estimulado a ler Schopenhauer por causa de Nietzsche, mas foi o sétimo capítulo desse livro que me fez querer lê-lo definitivamente. O engraçado é que o livro apresenta Spinoza como panteísta. Quando fui ler Spinoza propriamente dito, no prefácio do livro, diziam que era um engano dizer que ele era panteísta, mas que ele era panenteísta. Na UnB, numa palestra de uma especialista em Spinoza, ouvi que ele nunca foi panteísta, nem panenteísta. Tudo é uma questão de hermenêutica de fato!
Confissões — Santo Agostinho
Esse foi o livro que me fez ver que existe vida inteligente no Cristianismo. Até então, achava que os cristãos eram preguiçosos mentais ou pessoas fortemente influenciadas pela sua cultura e criação. O argumento de Agostinho sobre a inexistência do mal como substância é uma das coisas mais belas que já li. As interrogações dele sobre a natureza do tempo também intrigaram-me bastante. A minha composição chamada "Tiempo" vem, em grande parte, do pensamento de Agostinho — http://www.youtube.com/watch?v=ugT3SJzWIu8 . Depois desse livro, li muita coisa de Agostinho e durante muito tempo ele foi o meu teólogo predileto.
O cinema pensa — uma introdução à Filosofia através dos filmes — Julio Cabrera
Os problêmas do milênio — sete grandes enigmas matemáticos do nosso tempo — Keith Devlin
Não me importava com o que via no colégio. Aquilo tudo parecia bobagem para mim e acreditava que tudo aquilo seria desmentido quando ingressasse na Universidade. Tinha essa idéia porque, no meu segundo ano, quando estávamos aprendendo Termodinâmica, cheguei à conclusão de que o Universo deveria ter energia infinita por meio de alguns cálculos. Mostrei minhas contas para a minha professora, e ela disse que minhas contas estavam corretas, mas que não se usavam aquelas fórmulas para calcular o que eu queria calcular e que eu precisaria aprender a fazer os cálculos com correções relativísticas. Fiquei frustrado com isso. Desde o meu primeiro ano, estava bastante interessado nos números primos. Gastei mais de dois anos entretido com eles. Descobri algumas propriedades que nunca tinha visto em livros, mas não eram importantes o suficiente para fazer o que eu queria: encontrar um padrão ou uma maneira de encontrar o enésimo número primo a partir de uma fórmula. No meu terceiro ano de Ensino Médio, trabalhava com outras idéias na Matemática, mas sempre que procurava o meu professor para mostrar o que tinha feito, alguém já o tinha descoberto.
Para exemplificar, aprendemos que (a + b)² = 1.a² + 2.a.b + 1.b². Quando aprendi o Triângulo de Pascal, aprendi que existe uma lógica nos coeficientes dos produtos dos termos. Em outras palavras, no exemplo que dei, os coeficientes são 1, 2 e 1. Se a potência for cúbica, ou seja, se tivermos (a + b)³, teremos 1.a³ + 3a².b + 3a.b² + 1.b³, com coeficientes 1, 3, 3 e 1. Existe uma lógica entre os expoentes também. Existe uma permutação entre as potências de modo que a soma entre as potências de a e b, em cada termo da soma, nunca ultrapassa o expoente ao qual se eleva a soma inicial de dois números. Percebam que em (a+b)² temos três termos, nos quais,
( i ) 1.a².bº ; 2 + 0 = 2
( ii ) 2.a¹.b¹; 1 + 1 = 2
( iii ) 1.aº.b²; 0 + 2 = 2
Percebam também que o número de termos na expansão da soma é n + 1. O meu questionamento era se existia uma lógica parecida quando temos n termos na soma, ou seja, se o mesmo é válido para quando temos (a + b + c + ... + n) elevado a uma potência t qualquer. Eu brinquei um pouco com a idéia e cheguei a uma fórmula. Quando fui conversar com o meu professor, ele disse que Leibniz tinha descoberto o meu resultado no século XVII — http://pt.wikipedia.org/wiki/Teorema_multinomial . Aprendi essa fórmula no curso de Cálculo de Probabilidade 1 na UnB. Essa foi uma das muitas investidas minhas.( ii ) 2.a¹.b¹; 1 + 1 = 2
( iii ) 1.aº.b²; 0 + 2 = 2
A mesma coisa ocorre em (a + b)³:
( i ) 1.a³.bº; 3 + 0 = 3
( ii ) 3.a².b¹; 2 + 1 = 3
( iii ) 3.a¹.b²; 1 + 2 = 3
( iv ) 1.aº.b³; 0 + 3 = 3
( ii ) 3.a².b¹; 2 + 1 = 3
( iii ) 3.a¹.b²; 1 + 2 = 3
( iv ) 1.aº.b³; 0 + 3 = 3
Voltando ao livro, li-o nesse contexto de tentativas de descobrir algo e ver que alguém já o tinha descoberto. Descobri que o meu trabalho com os números primos estava envolvido com o problema chamado Hipótese de Riemann. Ao mesmo tempo em que fiquei empolgado, porque li no livro que esse era o único dos 7 problemas que poderia ser resolvido por qualquer pessoa, fiquei desestimulado ao ver que ele era tão importante e difícil que pagariam um milhão de dólares para quem o resolvesse. A conjectura de Poincaré está no livro também porque ainda não tinha sido resolvida. Hoje, 6 problemas ainda não foram resolvidos. Enfim, esse foi um livro que me fez querer aprender primeiro para depois tentar descobrir alguma coisa.
Investigações Filosóficas — Ludwig Wittgenstein
Nunca fui alguém que se preocupou com a norma culta da Língua Portuguesa até ler esse livro. Achava até bobagem e preciosismo; contudo, Wittgenstein ensinou-me que a minha linguagem está estritamente ligada com a minha manifestação no mundo. Percebi que grandes problemas dos diversos ramos do conhecimento estão ligados à Linguagem. Ultimamente, inclusive, tenho me impressionado muito com a Hermenêutica, mas deixarei para aprofundar-me em outras postagens. Lembro-me de que fiquei admirado com os experimentos mentais propostos no livro. Quando chegava às mesmas conclusões do livro, ficava deslumbrado. Wittgenstein também aborda um ponto que sempre questionei, mas de outra forma. Será que enxergo as coisas da mesma maneira que outras pessoas? Ele colocaria a questão de outra maneira: o que me garante que sensações que tenho a tendência de chamar de determinado nome são iguais ou semelhantes a sensações que outras pessoas denominam pelo mesmo nome? Esse livro foi também um preâmbulo para que pudesse entender melhor filósofos existencialistas como Sartre e Heidegger.
Assim falava Zaratustra — Friedrich Nietzsche
Esse foi o primeiro livro que li de Nietzsche. Ele me causou uma impressão assustadora. Imaginem o sarcasmo de uma pessoa para escrever contra a ética cristã utilizando-se da linguagem bíblica. Nietzsche conseguiu tal façanha. Estava no meu terceiro ano do Ensino Médio, em 2004, quando o li. Nunca mais minha concepção sobre a ética cristã foi a mesma. Num ano em que estava aprendendo a Teoria da Evolução, aliei o modo de pensar do Evolucionismo ao pensamento nietzschiano. Por que a ética cristã diz-nos para controlarmos certos desejos e atitudes inerentemente humanas se foram elas que, justamente, nos trouxeram ao estágio evolutivo em que nos encontramos? A partir desse livro, adotei o orgulho como ideologia.
Crítica da razão pura —Immanuel Kant
Sempre fui racionalista. Levei o racionalismo cartesiano até Spinoza e sempre fui muito avesso ao Empirismo. Kant mostrou-me que a coisa não é tão dualista quanto parece. Creio que a coisa mais importante que aprendi com Kant foi a distinção entre "fenômeno" e "coisa-em-si". Nunca mais enxerguei o mundo da mesma maneira depois de aprender essa distinção; inclusive, é muito difícil ler qualquer pensamento filosófico depois de Kant sem essa terminologia. Schopenhauer foi um pensador que partiu dessa distinção para escrever o seu "O mundo como vontade e representação", que é excelente também.
A História da Filosofia — Will Durant
Esse foi o livro que me fez deixar o Cristianismo em 2005, especificamente, no capítulo IV sobre Spinoza. Estava na praia lendo o livro e resolvi ir para o mar ficar boiando e pensando em tudo o que tinha lido. Nunca me esquecerei daquele momento. Olhava o céu azul, uma paisagem belíssima, e perguntava-me se poderia ter me enganado durante 19 anos de vida, falando com um Deus que não passava de algo que estava dentro de mim mesmo. A frase de Spinoza sobre o círculo pensante que pensaria que Deus é um círculo ficou incrustada em minha mente. Já tinha sido estimulado a ler Schopenhauer por causa de Nietzsche, mas foi o sétimo capítulo desse livro que me fez querer lê-lo definitivamente. O engraçado é que o livro apresenta Spinoza como panteísta. Quando fui ler Spinoza propriamente dito, no prefácio do livro, diziam que era um engano dizer que ele era panteísta, mas que ele era panenteísta. Na UnB, numa palestra de uma especialista em Spinoza, ouvi que ele nunca foi panteísta, nem panenteísta. Tudo é uma questão de hermenêutica de fato!
Confissões — Santo Agostinho
Esse foi o livro que me fez ver que existe vida inteligente no Cristianismo. Até então, achava que os cristãos eram preguiçosos mentais ou pessoas fortemente influenciadas pela sua cultura e criação. O argumento de Agostinho sobre a inexistência do mal como substância é uma das coisas mais belas que já li. As interrogações dele sobre a natureza do tempo também intrigaram-me bastante. A minha composição chamada "Tiempo" vem, em grande parte, do pensamento de Agostinho — http://www.youtube.com/watch?v=ugT3SJzWIu8 . Depois desse livro, li muita coisa de Agostinho e durante muito tempo ele foi o meu teólogo predileto.
O cinema pensa — uma introdução à Filosofia através dos filmes — Julio Cabrera
Sempre gostei de Cinema, mas, como racionalista e como adepto daquela meta filosófica de guiar minha vida em torno da busca do conhecimento, ficava um pouco constrangido por essa minha paixão pelo Cinema. Antes de ler esse livro, achava que era apenas um entretenimento que me fazia perder tempo: em vez de ver um filme, poderia estar lendo. O Cabrera é professor na UnB; infelizmente, nunca tive a oportunidade de cursar alguma matéria com ele. Sou muito grato a esse livro, porque ele me fez enxergar que existe muita Filosofia no Cinema e que, assim como a Literatura é uma linguagem estreitamente ligada à Filosofia, o Cinema também é uma forma de linguagem que pode, inclusive, utilizar-se de recursos que não estão disponíveis em outras formas de arte para tratar de Filosofia com profundidade.