"Mesmo em tempo de paz acho que estão redondamente enganados os que defendem que meros meninos devam ser incentivados a ler jornais. Quase tudo o que um menino lê lá na adolescência já terá sido reconhecido como falso em ênfase e interpretação, ou mesmo em fato, quando o mesmo menino estiver na casa dos vinte anos - e a maioria dessas informações terá perdido toda a importância. A maior parte do que estiver gravado na memória precisará, portanto, ser desaprendido; e ele provavelmente terá adquirido um gosto incurável pela vulgaridade e o sensacionalismo, e o hábito fatal de esvoaçar de parágrafo a parágrafo para ver que uma atriz se divorciou na Califórnia, um trem descarrilou na França e quadrigêmeos nasceram na Nova Zelândia.". [C. S. Lewis]
Não me lembro, precisamente, de onde tirei o trecho acima do C. S. Lewis. Já o usei numa postagem num fotolog que tinha — http://www.fotolog.com.br/fabiosal/20732907/. Em 2007, ainda era agnóstico. Como os meus colegas cristãos insistiam muito para que eu lesse C. S. Lewis, resolvi lê-lo. Naquele ano, li praticamente tudo o que havia sido lançado dele em Português, com exceção das Crônicas de Nárnia — se a Dani, minha namorada, ler isso, ela vai pegar no meu pé: ela tem o volume único e emprestou-mo para que eu tivesse o trabalho de lê-lo há muitos anos; no entanto, sempre adio a sua leitura. Confesso que achei o Lewis muito fraco. Ele sempre começava bem a argumentação, mas perdia-se. O melhor argumento que li nele, no Cristianismo Puro e Simples, foi o de que não existia isso de você ser um mero admirador de Cristo: ou você o admirava e cria no que ele disse ou acharia que ele era um louco. Não tinha meio termo — tertium non datur. Na época, eu era daqueles que dizia que apenas tinha admiração por Cristo. Na mesma semana em que li isso, tomei notícia de um artigo que buscava mostrar como psicopatologias estão relacionadas àqueles que são religiosos. Optei, na época, por crer, então, que Cristo, de fato, foi um maluco qualquer. Creio que, se lesse o Lewis hoje, talvez teria outra percepção acerca dele. Acredito que ele seja uma leitura para cristãos, não para agnósticos ou ateus. Confesso, inclusive, que estou muito curioso para ler o livro que a É Realizações lançou recentemente, intitulado Alegoria do Amor.
Nasci num lar onde a informação fornecida pelos noticiários sempre foi privilegiada. Meu pai é uma pessoa muito bem "informada" — o uso das aspas aqui ficará mais claro no decorrer do texto. Ele sempre leu jornais, ouviu os noticiários no rádio — achava muito chato mesmo isso quando era criança, e meu pai ficava ouvindo "A voz do Brasil" no carro quando pegava a mim e minha irmã no colégio. Meus pais vêem o Jornal Nacional, todos os dias, desde que me entendo por gente. Comecei a dar certa importância a isso quando, no meu segundo ano do Ensino Médio, um professor de Geografia dava-nos pontuações a mais na prova por questões extras. Ele também destacava a importância de estar bem informado para ser bem sucedido no PAS e no vestibular. Foi nessa época que começamos a assinar a revista Veja aqui em casa. Nessa época, eu acompanhava, além da Veja, a Carta Capital, Caros Amigos, Primeira Leitura, Época, IstoÉ, entre outras revistas.
No semestre passado, uma professora minha sempre comentava notícias recentes e, pelo desconhecimento da turma sobre os assuntos, ficava de ironias, perguntando se não acompanhávamos os noticiários. As pessoas costumam tomar por pressuposto que, de fato, é importantíssimo ser uma pessoa bem informada sem ter nenhuma reflexão crítica sobre o assunto. No ano passado, fiz uma prova para ser consultor legislativo do Senado na área de pronunciamentos. Estudei muito, mas não caiu praticamente nada do que eu estudei. Vejam uma questão que caiu na área de atualidades:
Percebi que até aqui falei mais sobre impressões pessoais, e não fui muito argumentativo. Com caridade — algo muito raro de ser dispensado às falas dos outros —, pode-se perceber que eu apresentei argumentos. Como, entretanto, sempre gosto de discutir os assuntos buscando objetividade — se não houver essa busca, não tem sentido discutir apenas no campo do achismo —, elencarei o que forneci até aqui:
1) A relevância dos assuntos noticiados é extremamente discutível — tenham a citação do Lewis em mente;
2) nosso tempo de vida é curto quando comparado ao conhecimento a ser adquirido; logo, devemos priorizar o que, de fato, é comumente aceito por relevante.
Um professor meu disse, certa feita, que ele não dá muita atenção para o que é feito nos últimos 50 anos. Não sabemos, por exemplo, se um filósofo badalado de hoje terá alguma relevância daqui a 300 anos. Sabemos, entretanto, perfeitamente, que Platão e Aristóteles, por exemplo, são cruciais na história do pensamento ocidental. Conversando sobre o assunto com a Dani, ela me disse que ignorar completamente o que é feito hoje pode implicar o desconhecimento de alguém que seja tido como importante; por exemplo, se as pessoas, na época de Platão e de Aristóteles, tivessem pensado assim, elas não teriam tido contato com dois gênios da humanidade, mesmo tendo vivido na mesma época que eles. Concordo perfeitamente com ela; entretanto, eu diria que não é o caso de ignorar-se tudo o que se faz recentemente, mas apenas de conferir menor esforço e tempo, proporcionalmente, para estudar-se e tomar-se conhecimento do que é produzido hoje.
O mesmo argumento que uso aqui também pode ser utilizado para filmes, livros etc. Conheço pessoas que se gabam de ter lido um livro 5 vezes ou de ter visto um mesmo filme 10 vezes. Pergunto-me o que essas pessoas têm na cabeça. Parece-me tão óbvio que isso seja uma perda de tempo. Confesso, entretanto, que não consigo usar esse critério no campo musical — obviamente, não o uso também no tocante às Escrituras, embora sempre busque ler traduções diferentes. Ouço canções mais de uma vez, embora tente não perder muito tempo com isso a fim de poder abarcar outras obras reconhecidamente relevantes. O único argumento que antevejo para alguém defender-se seria dizer que não se tem a mesma leitura de uma mesma obra porque a pessoa mudou; contudo, esse argumento não anula o fato de que há uma imensidão de conhecimento a ser perscrutada.
Sei que nem todo mundo enxerga a sua existência como tendo por objetivo a busca do conhecimento. Sinceramente, creio, assim como Platão, que uma vida não questionada não merece ser vivida; entretanto, claramente, Platão não falava de meras perguntas. Alguns acreditam piamente que fazer perguntas, a torto e a direito, é algum sinal de inteligência. Qualquer criança é capaz de sair fazendo perguntas. Alguém, cujo nome falha-me à memória, disse que se conhece um homem mais pelas suas perguntas do que pelas suas respostas. A minha experiência, em salas de aula, faz-me crer nisso. Enfim, o que quero dizer é que questionar a vida não é apenas fazer perguntas sobre ela, mas tomar conhecimento das respostas: afinal, como questionar-se sobre algo sem ter algum conhecimento sobre o que se quer pôr em questão? Terminamos com o dilema platônico: se buscamos o conhecimento, já devemos conhecê-lo: do contrário, não poderíamos sequer buscá-lo; entretanto, se já o conhecemos, por que o buscamos?
Nasci num lar onde a informação fornecida pelos noticiários sempre foi privilegiada. Meu pai é uma pessoa muito bem "informada" — o uso das aspas aqui ficará mais claro no decorrer do texto. Ele sempre leu jornais, ouviu os noticiários no rádio — achava muito chato mesmo isso quando era criança, e meu pai ficava ouvindo "A voz do Brasil" no carro quando pegava a mim e minha irmã no colégio. Meus pais vêem o Jornal Nacional, todos os dias, desde que me entendo por gente. Comecei a dar certa importância a isso quando, no meu segundo ano do Ensino Médio, um professor de Geografia dava-nos pontuações a mais na prova por questões extras. Ele também destacava a importância de estar bem informado para ser bem sucedido no PAS e no vestibular. Foi nessa época que começamos a assinar a revista Veja aqui em casa. Nessa época, eu acompanhava, além da Veja, a Carta Capital, Caros Amigos, Primeira Leitura, Época, IstoÉ, entre outras revistas.
No semestre passado, uma professora minha sempre comentava notícias recentes e, pelo desconhecimento da turma sobre os assuntos, ficava de ironias, perguntando se não acompanhávamos os noticiários. As pessoas costumam tomar por pressuposto que, de fato, é importantíssimo ser uma pessoa bem informada sem ter nenhuma reflexão crítica sobre o assunto. No ano passado, fiz uma prova para ser consultor legislativo do Senado na área de pronunciamentos. Estudei muito, mas não caiu praticamente nada do que eu estudei. Vejam uma questão que caiu na área de atualidades:
"Em um polêmico livro recém-lançado, Mimi Breardsley faz revelações surpreendentes e narra como o presidente John Kennedy a embebedou e seduziu quando, aos 19 anos, trabalhou como estagiária na Casa Branca. No livro, a Sra. Alford, sobrenome de casada, revela que foi trabalhar como estagiária na assessoria de imprensa da Casa Branca e que, depois de quatro dias, um assessor confiável, David Powers, ofereceu-lhe vários daiquiris antes de o presidente Kennedy lhe conceder um tour privado pela Casa Branca, que acabou no leito da primeira dama, que estava fora.
O que mais veio à tona com o relato de Mimi Alford?
(A) Jacqueline Kennedy ficou sabendo do que houve no dia seguinte, através de sua secretária e agrediu o Presidente Kennedy.
(B) Mimi manteve o romance com o presidente até Jacqueline descobrir e mandar demiti-la da Casa Branca.
(C) Mimi teve que fazer dois abortos em quase um ano de namoro.
(D) Durante o fim de semana da morte de Kennedy, Mimi planejava o casamento com seu noivo, mas, arrasada pela dor, confessou o affair secreto que manteve durante todo o namoro.
(E) Mimi, atualmente em dificuldades financeiras, decidiu revelar toda a verdade.".Não tinha a menor idéia da resposta dessa questão e confesso que até hoje não a sei, nem quero sabê-la. Ter cultura, hoje em dia, é ter conhecimento de um livro publicado pela amante de um presidente. Isso é lamentável. Hoje em dia, fico sabendo dos acontecimentos pelo Facebook ou porque alguém conhecido faz algum comentário sobre eles. Por exemplo, no caso recente do incêndio de Santa Maria, só fiquei sabendo, tardiamente, depois de todos comentarem o assunto. O que fiz? Achei um texto resumindo como tudo aconteceu. Os noticiários, contrariamente, ficam dando cobertura de um mesmo assunto, por semanas, e as pessoas, incrivelmente, conseguem não entediar-se com isso; entretanto, entediam-se se um livro tem mais de 50 páginas, e não tem figuras, aventuras ou relatos picantes. Vocês podem dizer que sou insensível ou coisa parecida, mas eu me pergunto: qual é a relevância de saber que houve um incêndio em Santa Maria, tendo conhecimento de todos os detalhes do ocorrido? Obviamente, estou fazendo essa pergunta tendo por base o pensamento comum de que, por meio dos noticiários, você terá informações muito importantes para ter uma melhor compreensão do mundo. Pergunto-me quantas dessas pessoas informadíssimas sabem, por exemplo, quem foi Nagarjuna, que foi um dos pensadores mais importantes no Oriente. Para não apelar tanto, fazendo menção a uma cultura tão diferente da nossa, pergunto-me quantas pessoas, entre essas que vêem uma necessidade extrema em acompanhar as notícias, conhecem as obras clássicas na história da literatura ocidental que influenciaram fortemente a nossa cultura. Talvez alguns irão dizer-me que uma coisa não exclui a outra: alguém pode perfeitamente acompanhar os noticiários, e ter o tipo de conhecimento geral de que estou falando. O grande problema, pra mim, é que, infelizmente, temos um tempo muito curto de vida, tendo em vista a grandiosidade do conhecimento acumulado ao longo da história, sem contar aquele que é acrescido diariamente àquilo que já foi feito. Eu diria que acompanhar o noticiário, uma vez por semana, já é mais do que suficiente.
Percebi que até aqui falei mais sobre impressões pessoais, e não fui muito argumentativo. Com caridade — algo muito raro de ser dispensado às falas dos outros —, pode-se perceber que eu apresentei argumentos. Como, entretanto, sempre gosto de discutir os assuntos buscando objetividade — se não houver essa busca, não tem sentido discutir apenas no campo do achismo —, elencarei o que forneci até aqui:
1) A relevância dos assuntos noticiados é extremamente discutível — tenham a citação do Lewis em mente;
2) nosso tempo de vida é curto quando comparado ao conhecimento a ser adquirido; logo, devemos priorizar o que, de fato, é comumente aceito por relevante.
Um professor meu disse, certa feita, que ele não dá muita atenção para o que é feito nos últimos 50 anos. Não sabemos, por exemplo, se um filósofo badalado de hoje terá alguma relevância daqui a 300 anos. Sabemos, entretanto, perfeitamente, que Platão e Aristóteles, por exemplo, são cruciais na história do pensamento ocidental. Conversando sobre o assunto com a Dani, ela me disse que ignorar completamente o que é feito hoje pode implicar o desconhecimento de alguém que seja tido como importante; por exemplo, se as pessoas, na época de Platão e de Aristóteles, tivessem pensado assim, elas não teriam tido contato com dois gênios da humanidade, mesmo tendo vivido na mesma época que eles. Concordo perfeitamente com ela; entretanto, eu diria que não é o caso de ignorar-se tudo o que se faz recentemente, mas apenas de conferir menor esforço e tempo, proporcionalmente, para estudar-se e tomar-se conhecimento do que é produzido hoje.
O mesmo argumento que uso aqui também pode ser utilizado para filmes, livros etc. Conheço pessoas que se gabam de ter lido um livro 5 vezes ou de ter visto um mesmo filme 10 vezes. Pergunto-me o que essas pessoas têm na cabeça. Parece-me tão óbvio que isso seja uma perda de tempo. Confesso, entretanto, que não consigo usar esse critério no campo musical — obviamente, não o uso também no tocante às Escrituras, embora sempre busque ler traduções diferentes. Ouço canções mais de uma vez, embora tente não perder muito tempo com isso a fim de poder abarcar outras obras reconhecidamente relevantes. O único argumento que antevejo para alguém defender-se seria dizer que não se tem a mesma leitura de uma mesma obra porque a pessoa mudou; contudo, esse argumento não anula o fato de que há uma imensidão de conhecimento a ser perscrutada.
Sei que nem todo mundo enxerga a sua existência como tendo por objetivo a busca do conhecimento. Sinceramente, creio, assim como Platão, que uma vida não questionada não merece ser vivida; entretanto, claramente, Platão não falava de meras perguntas. Alguns acreditam piamente que fazer perguntas, a torto e a direito, é algum sinal de inteligência. Qualquer criança é capaz de sair fazendo perguntas. Alguém, cujo nome falha-me à memória, disse que se conhece um homem mais pelas suas perguntas do que pelas suas respostas. A minha experiência, em salas de aula, faz-me crer nisso. Enfim, o que quero dizer é que questionar a vida não é apenas fazer perguntas sobre ela, mas tomar conhecimento das respostas: afinal, como questionar-se sobre algo sem ter algum conhecimento sobre o que se quer pôr em questão? Terminamos com o dilema platônico: se buscamos o conhecimento, já devemos conhecê-lo: do contrário, não poderíamos sequer buscá-lo; entretanto, se já o conhecemos, por que o buscamos?