Creio que não falei ainda abertamente sobre o assunto aqui, até porque há pouco tempo que me identifico como arminiano, já que me converti há pouco mais de um ano [1]. Costuma-se utilizar sistemas reducionistas para a classificação de um arminiano. Parte-se, geralmente, dos cinco artigos da Remonstrância que defendem, grosso modo, a eleição condicional, expiação ilimitada, depravação total, graça resistível e preservação condicional dos santos. Não me aprofundarei nesses conceitos porque meu objetivo nesta postagem é outro; contudo, é importante lembrar que os remonstrantes foram ministros e teólogos que deram continuidade ao pensamento de Jacobus Arminius após sua morte. Assim como o Neoplatonismo difere do pensamento original de Platão, o pensamento defendido pelos remonstrantes diverge em alguns sentidos do pensamento originalmente defendido por Arminius. Para exemplificar, Arminius não tinha definição quanto à perseverança dos santos, embora parecesse crer no que se convencionou por perseverança condicional [2].
Creio nos cinco pontos defendidos pelos remonstrantes, mas até a madrugada de hoje ainda tinha problemas para defender o porquê d'eu não crer na perseverança dos santos — não estou falando da condicional. O único versículo bíblico que me restava para fundamentar a minha interpretação era o de I Jo 2.19. Ele afirma o seguinte:
"Saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos. Se de fato fossem dos nossos, teriam permanecido conosco, mas eles saíram para que ficasse patente que nem todos são dos nossos.".
Creio nos cinco pontos defendidos pelos remonstrantes, mas até a madrugada de hoje ainda tinha problemas para defender o porquê d'eu não crer na perseverança dos santos — não estou falando da condicional. O único versículo bíblico que me restava para fundamentar a minha interpretação era o de I Jo 2.19. Ele afirma o seguinte:
"Saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos. Se de fato fossem dos nossos, teriam permanecido conosco, mas eles saíram para que ficasse patente que nem todos são dos nossos.".
[ Novo Testamento Interlinear Analítico (NTIA) — Paulo Sérgio Gomes e Odayr Olivetti] (Aqui está a melhor tradução no meu entendimento a partir do original Grego)
Aqueles que crêem na perseverança dos santos afirmam que o versículo acima diz que, de fato, nenhum cristão genuíno desviar-se-á porque, sendo cristão verdadeiro, permanecerá na comunidade cristã e na fé. O grande problema para mim era conciliar o versículo acima com o seguinte texto de Hb. 6.4-6:
"Ora, para aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir, e caíram, é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública.". [NVI]
O texto de Hebreus é claro quando fala sobre pessoas que foram convertidas de modo genuíno, mas abandonaram a fé, sendo, inclusive, impossível que voltem a converter-se [3]. Alguns intérpretes tentam dar outro significado ao texto, mas forçam a barra tentando manter sua crença na perseverança dos santos e, por conseguinte, na impossibilidade do cristão deixar de crer. Já ouvi até a explicação de que o texto mostra que é possível que um cristão deixe de ser cristão, mas que o fato nunca ocorrerá; contudo, adentraremos numa questão de linguagem porque algo que nunca ocorrerá é impossível e não possível, pelo menos quando lidamos com conjuntos que não sejam não-enumeráveis (Para aqueles que não são afeitos à Matemática, a Teoria da Probabilidade aceita eventos de probabilidade zero, que, teoricamente seriam impossíveis, mas que, na prática ocorrem, quando os conjuntos são não-enumeráveis. Por exemplo, qual a probabilidade de que alguém escolha o número 0,5 no intervalo real [0,1]? A probabilidade é zero, mas é possível que alguém escolha 0,5).
Estou, num primeiro momento, delimitando-me aos dois textos porque são aqueles que se digladiavam diretamente a meu ver; no entanto, existem várias referências utilizadas pelos defensores da perseverança dos santos para defenderem sua interpretação, assim como existem várias referências bíblicas utilizadas pelos contrários para defenderem sua posição. Meu intuito não é fazer uma análise exaustiva aqui, embora, talvez, algum dia venha a fazê-la aqui.
Voltemos ao texto de I João. Um dos grandes entraves na interpretação bíblica é quando se deixa de lado o contexto. Como se costuma dizer: "texto fora de contexto para tudo vira pretexto". No segundo capítulo do primeiro livro de João, ele começa, a partir do versículo 18, a tratar dos anticristos. A terceira pessoa do plural implícita na conjugação do verbo "sair" no início do versículo 19 refere-se, justamente, aos anticristos. Ora, quem são os anticristos? A palavra "anticristo", do grego "anticristos" — antichristos —, aparece quatro vezes no Novo testamento, especificamente nos textos de I Jo 2.18, I Jo 2.22; I Jo 4.3 ; II Jo 1.7. A partir destes textos, sabemos que é chamado de anticristo aquele que
Pergunto eu: um agnóstico enquadra-se na descrição de um anticristo, visto que ele não nega a existência de Deus ou a divindade de Cristo, mas suspende o seu juízo? Vejam que o anticristo é um enganador e não um enganado, num sentido de ingenuidade ou ignorância. A negação não é de alguém que não sabe que Deus existe ou que crê que Deus não existe ou que Cristo não é divino; pelo contrário, ele sabe que Deus existe e antepõe-se a Ele. A própria etimologia da palavra, tanto na tradução portuguesa quanto no original grego, demonstra a deliberada atitude contrária a Cristo. Teria sentido contrapor-se a algo que se supõe não existir? Até um ateu, portanto, não parece enquadrar-se na descrição de João de um anticristo.
Percebam, também, que os anticristos são enganadores e mentirosos, portanto, mesmo que tenham professado em algum momento serem cristãos, faziam-no de modo enganador e não genuíno. Vejam, contudo, que não interessa muito, para a nossa análise, a quem o texto dirige-se porque o mais importante é que ele caracteriza os cristãos como aqueles que permanecem, independentemente de quem saiu do meio. Em outras palavras, se um corinthiano defende que quem é verdadeiramente corinthiano nunca o deixará de ser, não importa se alguém que já afirmou ser corinthiano, mas o deixou de ser, é flamenguista ou palmeirense atualmente. Digo isso porque farei uma crítica às explicações que encontrei pela net [4].
Aqueles que crêem na perseverança dos santos afirmam que o versículo acima diz que, de fato, nenhum cristão genuíno desviar-se-á porque, sendo cristão verdadeiro, permanecerá na comunidade cristã e na fé. O grande problema para mim era conciliar o versículo acima com o seguinte texto de Hb. 6.4-6:
"Ora, para aqueles que uma vez foram iluminados, provaram o dom celestial, tornaram-se participantes do Espírito Santo, experimentaram a bondade da palavra de Deus e os poderes da era que há de vir, e caíram, é impossível que sejam reconduzidos ao arrependimento; pois para si mesmos estão crucificando de novo o Filho de Deus, sujeitando-o à desonra pública.". [NVI]
O texto de Hebreus é claro quando fala sobre pessoas que foram convertidas de modo genuíno, mas abandonaram a fé, sendo, inclusive, impossível que voltem a converter-se [3]. Alguns intérpretes tentam dar outro significado ao texto, mas forçam a barra tentando manter sua crença na perseverança dos santos e, por conseguinte, na impossibilidade do cristão deixar de crer. Já ouvi até a explicação de que o texto mostra que é possível que um cristão deixe de ser cristão, mas que o fato nunca ocorrerá; contudo, adentraremos numa questão de linguagem porque algo que nunca ocorrerá é impossível e não possível, pelo menos quando lidamos com conjuntos que não sejam não-enumeráveis (Para aqueles que não são afeitos à Matemática, a Teoria da Probabilidade aceita eventos de probabilidade zero, que, teoricamente seriam impossíveis, mas que, na prática ocorrem, quando os conjuntos são não-enumeráveis. Por exemplo, qual a probabilidade de que alguém escolha o número 0,5 no intervalo real [0,1]? A probabilidade é zero, mas é possível que alguém escolha 0,5).
Estou, num primeiro momento, delimitando-me aos dois textos porque são aqueles que se digladiavam diretamente a meu ver; no entanto, existem várias referências utilizadas pelos defensores da perseverança dos santos para defenderem sua interpretação, assim como existem várias referências bíblicas utilizadas pelos contrários para defenderem sua posição. Meu intuito não é fazer uma análise exaustiva aqui, embora, talvez, algum dia venha a fazê-la aqui.
Voltemos ao texto de I João. Um dos grandes entraves na interpretação bíblica é quando se deixa de lado o contexto. Como se costuma dizer: "texto fora de contexto para tudo vira pretexto". No segundo capítulo do primeiro livro de João, ele começa, a partir do versículo 18, a tratar dos anticristos. A terceira pessoa do plural implícita na conjugação do verbo "sair" no início do versículo 19 refere-se, justamente, aos anticristos. Ora, quem são os anticristos? A palavra "anticristo", do grego "anticristos"
1 — Nega a encarnação [ I Jo 4.2-3; II Jo 7 ];
2 — Nega que Jesus é o Cristo [ I Jo 2.22 ];
3 — Nega a Deus, Pai [ I Jo 2.22 ] ;
4 — Não tem o Pai [ I Jo 2.23 ];
5 — É mentiroso [ I Jo 2.22 ];
6 — É enganador [ II Jo 7 ].
2 — Nega que Jesus é o Cristo [ I Jo 2.22 ];
3 — Nega a Deus, Pai [ I Jo 2.22 ] ;
4 — Não tem o Pai [ I Jo 2.23 ];
5 — É mentiroso [ I Jo 2.22 ];
6 — É enganador [ II Jo 7 ].
Pergunto eu: um agnóstico enquadra-se na descrição de um anticristo, visto que ele não nega a existência de Deus ou a divindade de Cristo, mas suspende o seu juízo? Vejam que o anticristo é um enganador e não um enganado, num sentido de ingenuidade ou ignorância. A negação não é de alguém que não sabe que Deus existe ou que crê que Deus não existe ou que Cristo não é divino; pelo contrário, ele sabe que Deus existe e antepõe-se a Ele. A própria etimologia da palavra, tanto na tradução portuguesa quanto no original grego, demonstra a deliberada atitude contrária a Cristo. Teria sentido contrapor-se a algo que se supõe não existir? Até um ateu, portanto, não parece enquadrar-se na descrição de João de um anticristo.
Percebam, também, que os anticristos são enganadores e mentirosos, portanto, mesmo que tenham professado em algum momento serem cristãos, faziam-no de modo enganador e não genuíno. Vejam, contudo, que não interessa muito, para a nossa análise, a quem o texto dirige-se porque o mais importante é que ele caracteriza os cristãos como aqueles que permanecem, independentemente de quem saiu do meio. Em outras palavras, se um corinthiano defende que quem é verdadeiramente corinthiano nunca o deixará de ser, não importa se alguém que já afirmou ser corinthiano, mas o deixou de ser, é flamenguista ou palmeirense atualmente. Digo isso porque farei uma crítica às explicações que encontrei pela net [4].
Para fins de resumo, traduzirei um texto do Robert Shank para refutar sua linha de argumentação — desculpo-me, de antemão, pela qualidade da tradução, que não é o meu forte.
“Eles saíram do nosso meio, mas eles não eram dos nossos; se eles tivessem sido dos nossos, teriam sem dúvida continuado conosco; contudo, saíram para que se fizesse manifesto que nem todos eram dos nossos” (I João 2.19). Alguns têm asseverado que as declarações de João indicam que todos aqueles que professam falsamente irão eventualmente retirar-se da companhia dos verdadeiros crentes (o que é contrário a várias passagens da Escritura) e que todos que se retiram nunca foram verdadeiros crentes (o que é contrário tanto às passagens de admoestação quanto aos registros de reais exemplos de apostasia). No que diz respeito aos anticristos citados por João, existem duas possibilidades. Suas profissões de fé devem ser falsas desde o princípio; ou, eles devem ter sido apóstatas reais que abandonaram a fé e afastaram-se de Cristo. As duas circunstâncias podem ser reais. João afirma apenas que, no momento em que se afastaram da comunidade espiritual de crentes genuínos, “eles não eram dos nossos”; caso contrário, eles teriam permanecido na comunidade com fidelidade.
Observemos que, qualquer que tenha sido a perspectiva circunstancial dos anticristos, João estava escrevendo sobre exemplos específicos, mais do que declarando um princípio universal. Precavemo-nos da falácia de assumir que toda verdade pode e deve ser reduzida a uma única sentença da Escritura, e que a circunstância precisa num exemplo de deserção necessariamente governa a circunstância em outros exemplos. Existem várias pessoas cujas profissões de fé são falsas desde o início, e existem outras que abandonaram a fé e retiraram-se de um relacionamento salvífico com Cristo. As Escrituras reconhecem ambas as circunstâncias, e a precisa circunstância dos anticristos citada por João determina nada a respeito de outras circunstâncias. Observemos que, após citar o trágico registro de anticristos que negaram que Jesus é o Cristo (vs.. 18-23), João urgentemente avisa seus filhos na fé a precaverem-se contra o perigo de sucumbir às tentações dos anticristos, abraçando sua heresia fatal, falhando na retenção do verdadeiro Evangelho salvífico e na permanência no Filho e no Pai, compartilhando da vida eterna Nele. (vs. 24-28).".
Quando Robert Shank diz que o texto de I João refere-se apenas a um momento específico, ele comete um sério engano. O primeiro texto da referência [5] chega a dizer que o texto não diz que os anticristos nunca foram cristãos, mas que apenas não eram cristãos no exato momento de sua retirada da comunidade — "Saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos.". Pode-se refutar essa linha de argumentação de uma maneira simples. Suponhamos três tempos seqüenciais, t1, t2 e t3. Suponhamos que t3 é o tempo presente, no qual João escreve, e t2 um tempo no qual os referidos anticristos saíram dos nossos, ou seja, do convívio do meio cristão. Mesmo que o texto falasse de um tempo específico do passado t2, se formos ao tempo t1, os anticristos, se fossem cristãos, de acordo com o texto, nunca deveriam ter saído dos nossos, pois quem é dos nossos permanece; portanto, o texto apresentaria uma contradição interna se ele se referisse apenas a um tempo específico. A questão não se restringe a uma questão de restrição de temporalidade portanto e os tais anticristos teriam de nunca ter sido cristão em todo o tempo.
Quanto à afirmação de que a circunstância dos anticristos nada diz respeito a situações gerais, volto à situação do flamenguista e do palmeirense que já foram corinthianos. O que um flamenguista teria de diferente de um palmeirense para que ele nunca pudesse ter sido um corinthiano verdadeiro? A afirmação de que todo corinthiano autêntico permanece corinthiano nada diz respeito à natureza de quem, porventura, tenha afirmado um dia ter sido corinthiano. Em outras palavras, não importa se o texto trata dos anticristos em particular, mas o modo como se caracteriza um cristão de maneira genérica.
Para conciliar o texto de I João com o de Hebreus, proponho uma solução. Teremos de voltar ao texto de I João.
1 ) “Saíram do nosso meio, mas não eram dos nossos”
O texto afirma que os anticristos pertenciam ao convívio dos crentes, mas não eram crentes propriamente ditos. É interessante contrastar esse fato com os seguintes textos:
At. 20.30
“E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a fim de atrair os discípulos.”.
I Cor. 11.19
“Pois é necessário que haja divergências entre vocês, para que sejam conhecidos quais dentre vocês são aprovados.”.
É interessante notar que o texto de Atos pode referir-se tanto a cristãos que se tornaram enganadores ou a anticristos que nunca foram cristãos. O texto de Coríntios, por sua vez, fala que, no meio cristão, existem aqueles que serão aprovados e, portanto, outros que serão reprovados. Numa outra tradução, o mencionado texto de Coríntios toma a seguinte forma:
“Na verdade, para que os legítimos sejam conhecidos entre vós, é preciso que haja divisões no vosso meio.”. [NTIA]
De fato, o termo grego “dokimoi” — dokimoi —, traduzido por "legítimo", tem as acepções de provado, experimentado, de caráter aprovado, fiel. Ora, parece haver, portanto, uma distinção entre um simples cristão e um cristão aprovado.
2) “mas eles saíram para que ficasse patente que nem todos são dos nossos.”.
É importante destacar que aqui se encontra a explicação de por que os anticristos saíram. Eles saíram do convívio, e não do Cristianismo, como já explanado, para que ficasse claro que nem todo aquele que está no convívio cristão é-no de fato. Poder-se-ia concluir isso apenas analisando a lógica da seguinte parte do versículo:
"Se de fato fossem dos nossos, teriam permanecido conosco"
Vejam que o fato de uma proposição A implicar B não significa, necessariamente, que B implica A; ou seja, o fato de ser dos nossos implicar permanência não significa que da permanência pode-se concluir que se é dos nossos, o que dá abertura para pessoas que estão no convívio cristão, permanecendo, mas não fazem parte dos cristãos de fato.
Cristão Legítimo e Cristão Ilegítimo
A partir das caracterizações feitas, creio que temos de partir da conceituação de cristão legítimo e cristão ilegítimo, aproveitando a contextualização que foi feita do termo grego dokimoi. Possam, talvez, sugerir que o cristão ilegítimo não é cristão, assim como uma pedra preciosa ilegítima não é preciosa, mas, descontando as contradições terminológicas associadas às denotações dos termos, proponho que a ilegitimidade seja vista como uma possível adjetivação possível ao cristão que não o descaracteriza ao ponto dele não poder ser adjetivado, conjuntamente, de cristão. Creio que seria menos confuso criar um novo termo, talvez "cristão adokimoi", para falar de um cristão que não permaneceu ou não permanecerá; no entanto, acredito que feita essa ressalva, não haverá problemas.
Para melhor exemplificar, faço uso das palavras de Cristo sobre a Videira e os Ramos contida no texto de João 15.1-8
“1 "Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. 2 Todo ramo que, estando em mim, não dá fruto, ele corta; e todo que dá fruto ele poda, para que dê mais fruto ainda. 3 Vocês já estão limpos, pela palavra que lhes tenho falado. 4 Permaneçam em mim, e eu permanecerei em vocês. Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira. Vocês também não podem dar fruto, se não permanecerem em mim. 5 "Eu sou a videira; vocês são os ramos. 6 Se alguém permanecer em mim e eu nele, esse dá muito fruto; pois sem mim vocês não podem fazer coisa alguma. Se alguém não permanecer em mim, será como o ramo que é jogado fora e seca. Tais ramos são apanhados, lançados ao fogo e queimados. 7 Se vocês permanecerem em mim, e as minhas palavras permanecerem em vocês, pedirão o que quiserem, e lhes será concedido. 8 Meu Pai é glorificado pelo fato de vocês darem muito fruto; e assim serão meus discípulos.”
Percebam que Cristo fala de um ramo que está Nele, mas que não dá frutos e que o destino de tal ramo é ser jogado fora. Aí temos um exemplo de um cristão, pois está em Cristo, mas que é ilegítimo, pois não produz frutos e é jogado fora. Vejam, também, que a permanência na videira é prerrogativa para o ramo dar fruto. A ilegitimidade, portanto, associada à falta de frutos, está, igualmente, associada à não-permanência na videira. É importante ressaltar que uma vez que Cristo é a cabeça da igreja, não permanecer na comunidade cristã, ou na igreja, implica não permanecer no próprio Cristo.
Retornando ao texto de I Jo 2.19, façamos uma conversão do trecho do livro de João utilizando a terminologia proposta:
“Saíram do nosso meio, mas não eram cristãos legítimos. Se de fato fossem-no, teriam permanecido conosco, mas eles saíram para que ficasse patente que nem todos são cristãos legítimos.”.
Assim, o texto não contradiz o texto de Hebreus, pois lá, fala-se de cristãos, de fato, já que estavam em Cristo, usando a terminologia de João 15 — prova disso é quando se fala que eles foram iluminados, provaram o dom celestial e tornaram-se participantes do Espírito Santo —, mas ilegítimos, pois não permaneceram na fé.
É importante ressaltar também que o próprio capítulo 2 de I João, no versículo 24, faz a seguinte admoestação:
"Quanto a vocês, cuidem para que aquilo que ouviram desde o princípio permaneça em vocês. Se o que ouviram desde o princípio permanecer em vocês, vocês também permanecerão no Filho e no Pai.". [NVI]Ora, por que João colocaria uma condição de permanência em Deus se não existisse a possibilidade do salvo deixar de permanecer? Costumo comparar as admoestações bíblicas a placas na estrada. Teria sentido Deus colocar uma placa numa estrada escrito "Atenção! Curva Sinuosa" se não houvesse curva sinuosa? Deus seria mentiroso e o próprio texto de I João 2, no versículo 21, afirma que "nenhuma mentira procede da verdade", mas Cristo, em João 14.6, afirma ser a própria verdade!
Aproveitando o assunto da perseverança dos santos, outro texto que costuma ser utilizado para defendê-la é o de João 10.28 que diz:
"Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão.".
[ Almeida Revista e Atualizada ]
Uma simples análise da construção dos tempos verbais indica o significado do texto. Percebam o seguinte. O primeiro verbo está no presente; contudo, faço uma pergunta: o salvo tem a vida eterna? A minha resposta é: depende. Explico-me. Na realidade, não temos a vida eterna em ato porque, de fato, morremos. Não viverei eternamente, pelo menos a priori — digo a priori porque não sei até onde a Ciência pode desenvolver-se nessa área. Vejam que quem tem a vida eterna em ato jamais perecerá, mas perecemos! O que ocorre é que o texto fala da vida eterna em potencial. A vida eterna que recebemos quando nos convertemos é potencial. De fato, depois do juízo final, apoderar-nos-emos da vida eterna, vivenciando-a em ato, e não morreremos e aí sim ninguém nos arrebatará das mãos de Deus. De qualquer maneira, João 15, transcrito acima, explica que, de fato, ninguém, mas só o próprio Deus é capaz de tirar um salvo de suas mãos e Ele, realmente, faz isso. O trecho dos versículos 5 ao 8 tornam isso claro. Quando um cristão não permanece na fé, é Deus quem o lançará ao fogo!
Para terminar, creio na perseverança condicional dos santos. Os crentes são mantidos seguros por Deus em seu relacionamento com Ele sob a condição da permanência na fé; contudo, ao mesmo tempo em que Deus nos responsabiliza pelos nossos atos, o que demanda uma atitude nossa, não conseguimos nada sem que Ele esteja conosco. O processo de permanência na fé é uma via de mão dupla: ao tempo em que o buscamos de maneira voluntária, Deus fornece o que necessitamos para permanecermos Nele. Coisa parecida ocorre com a nossa salvação: utilizando uma famosa analogia, Deus é como um pai que levanta uma criança na direção de uma árvore para que ela apanhe um fruto; no entanto, se a criança não estender os braços e pegar o fruto com suas mãos, ela nunca poderá apossar-se do fruto. Ao mesmo tempo em que somos totalmente dependentes de Deus, Ele quer que sejamos responsáveis pelos nossos atos.
[1] Quero postar um texto aqui sobre como se deu minha conversão, mas sempre postergo a data.
[1] Quero postar um texto aqui sobre como se deu minha conversão, mas sempre postergo a data.
[2] Vejam este texto de Arminius:http://www.arminianismo.com/index.php?option=com_content&view=article&id=182%3A5-sobre-a-perseveranca-dos-santos&catid=76%3Ajames-arminius-as-obras-de-james-arminius-vol1-&Itemid=100030
A sua obra completa em Inglês pode ser encontrada no seguinte link:http://www.ccel.org/ccel/arminius/?show=worksBy
[3] Excelente texto do Antonio Lazarini Neto sobre a interpretação do referido texto:http://www.vidanova.com.br/teologiadet.asp?codigo=136
Um bom livro sobre o assunto é um de autoria do Michel Augusto intitulado "Apostasia — O abandono da fé", prefaciado pelo Russell Shedd
[4] Visão arminiana de I Jo. 2.19
A sua obra completa em Inglês pode ser encontrada no seguinte link:http://www.ccel.org/ccel/arminius/?show=worksBy
[3] Excelente texto do Antonio Lazarini Neto sobre a interpretação do referido texto:http://www.vidanova.com.br/teologiadet.asp?codigo=136
Um bom livro sobre o assunto é um de autoria do Michel Augusto intitulado "Apostasia — O abandono da fé", prefaciado pelo Russell Shedd
[4] Visão arminiana de I Jo. 2.19
[5] Vejam a página 32:
Meu Deus do Céu! Que malabarismo para defender uma doutrina! Graças a Deus que abomino ser arminiano e ser calvinista!
ResponderExcluirAcho que você não entendeu nada do que escrevi: a doutrina da perseverança dos santos não caracteriza um arminiano. Estou esperando as refutações. Vi que você tem um livreto defendendo a Perseverança dos santos. Gostaria de lê-lo quando puder. Obrigado pela visita.
ResponderExcluirOlá Fabio!!!
ResponderExcluirO que você me diria então da palavras de Jesus, em Mt 13, quando nas suas parábolas mostra que existiriam incrédulos no meio dos crentes até a vinda de Cristo, e só então quando cristo voltar que ele vai separar o Joio do Trigo? Ainda nesta passagem e citado que a Igreja se inflaria, cheia de falsos crentes misturados a verdadeiros crentes. Acho que essa argumentação de tempos muito fraca, já que nós não somos o Espírito Santo pra saber quem em nosso meio é realmente Cristão ou não, se alguém que saiu, vai sair, ou mesmo vai permanecer no meio da Igreja até a volta de Cristo é crente ou não, só Deus sabe. Então como afirmar que alguém que saí não é salvo, e como afirmar que alguém que não saiu é salvo?
O que vemos hoje é uma Igreja mista, cheia de crentes convencidos mas não redimidos, que apenas substituiram sua práticas religiosas não cristãs por outra "ditas" cristãs. Isso não faz a mínima diferenças, pois é Deus que sonda os corações e sabe quem são os seus.
Anônimo, veja o que você disse de forma concisa:
ResponderExcluirPremissa 1 - Apenas o Espírito Santo pode saber quem em nosso meio é realmente cristão ou não.
Premissa 2 - Não somos o Espírito Santo.
Conclusão - Não podemos saber quem em nosso meio é realmente cristão ou não.
Veja que o seu argumento é logicamente válido, mas é falso, uma vez que as premissas são falsas. No que se refere à premissa 1, veja que Mt. 13 apenas diz que Cristo será quem queimará o joio. Outros textos estimulam-nos ao exercício de nosso julgamento. O próprio texto de Mt. 7 que é muito usado para dizerem que não devemos julgar(vs.1) afirma que devemos identificar os cães e porcos (vs.6). Diversos outros textos dizem-nos para tomarmos cuidado com falsos profetas ou para reconhecermos os cristãos autênticos pelos frutos das suas ações — leia o capítulo inteiro de Mt. 7. Não vejo fundamentação bíblica para concluir-se que não somos capazes de exercer julgamento quanto à autenticidade de um cristão. De qualquer maneira, baseamos nosso julgamento no paradigma bíblico, que foi inspirado pelo Espírito Santo; portanto, mesmo que a primeira premissa fosse verdadeira, o nosso julgamento seria dado pelo Espírito e não por diretrizes nossas.
Quanto à premissa 2, veja que, de fato, não somos o Espírito Santo, mas, no Cristianismo, temos a particularidade de que Ele habita em nós e de que o cristão legítimo é aquele que negou-se a si mesmo (Mt. 16.24). Gálatas 2.10 diz:
"Fui crucificado com Cristo. Assim, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim. A vida que agora vivo no corpo, vivo-a pela fé no filho de Deus, que me amou e se entregou por mim" [NVI]
Veja que a vida cristã é uma vida na qual nós nos esvaziamos de nós mesmos para que sejamos preenchidos pelo Espírito. O cristão legítimo, embora não seja o próprio Espírito Santo, acaba identificando-se de tal maneira com Ele que as suas ações são reverberações das ações do Espírito; portanto, a premissa 2, embora não seja propriamente falsa, num sentido ontológico, é, no mínimo, imprecisa.
Cheguei ao seu blog quando fazia uma busca de alguns termos doutrinários.
ResponderExcluir"Os crentes são mantidos seguros por Deus em seu relacionamento com Ele sob a condição da permanência na fé" -- concordo.
Acho que este livro seria interessante para você: "Grace, Faith, Free Will", de Robert E. Picirilli. Ainda não o temos em português, mas estou trabalhando na tradução.
um abraço.
Oi, Jane! Obrigado pela visita e pela recomendação. Procurarei saber mais sobre o livro e lê-lo assim que puder. Sinta-se sempre à vontade para visitar este espaço e deixar o seu comentário. Um grande abraço!
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