Antes de iniciar o meu texto propriamente dito, é melhor enfatizar, em tempos em que o politicamente correto impera, que de maneira alguma estou agredindo o Tiririca de alguma forma ao fazer uso da imagem dele numa postagem sobre o analfabetismo. Usei-o porque ele teve problemas para provar que era alfabetizado nas últimas campanhas eleitorais; então, ele acaba sendo um símbolo de certa maneira.
Tivemos, recentemente, uma polêmica que envolvia o uso da norma culta num livro do MEC. Algumas pessoas afirmaram, na ocasião, que o importante é comunicar-se e que fazer uso das regras gramaticais é preciosismo. Uma pessoa que faz esse tipo de afirmação desconhece por completo o significado da norma culta. Pretendo abordar o assunto aqui de forma mais esmerada em outra oportunidade. Alguns argumentos utilizados para desqualificar a norma culta, como, por exemplo, atrelando-a à imposição de uma determinada classe dominante, são completamente equivocados, uma vez que a primeira gramática que se tem notícia, surgida na Índia, tinha pretensões religiosas. Acreditava-se que a língua sânscrita era a língua dos deuses e por isso nasceu a iniciativa de preservá-la por meio de uma gramática.
Outro mito em torno da norma culta é referente à sua função única de fazer referência à língua falada: muito embora ela tenha sido, nas origens, uma forma de registro da oralidade, ela possui sua própria estrutura e riqueza, independentemente da linguagem oral. Um bom exemplo para entender o que ocorre com a norma culta é observar a história do desenvolvimento da Lógica. Esta surgiu, primeiramente, para modelar a linguagem natural. Mesmo com todo o avanço que se observou no campo, a fidelidade da Lógica à linguagem natural é mínima, devido à sua complexidade. O que se observa nos diversos sistemas lógicos é uma abundância de estruturas que fogem à mera descrição da linguagem natural.
Algumas pessoas usam como desculpa o fato de estarem num ambiente coloquial ou de, simplesmente, estarem falando em vez de escrevendo. Não falarei de modo dedutivo aqui, antes que me acusem de falacioso — por falar nisso, a falácia, como conhecemos, restringe-se apenas ao ambiente dedutivo, mas isso é assunto para outra ocasião —, mas a minha experiência demonstra que pessoas que se utilizam desse tipo de argumento, freqüentemente, cometem os mesmos erros na escrita. De qualquer forma, se alguém tem de saber as regras para utilizá-las em momentos específicos, por que não se valer das regras sempre? A linguagem culta fornece precisão e evita ambigüidades. Os erros que comentarei aqui, entretanto, são próprios do âmbito da escrita.
É importante ressaltar também que a linguagem é pública e não privada. Quando se faz uso de uma língua, está-se utilizando algo que não foi criado pelo falante. Se eu tomo por empréstimo um instrumento como um violão, se eu quiser tocá-lo, terei de seguir certas regras na medida em que faço uso de algo que não criei. Não posso querer que um violão usual tenha apenas uma corda, ou que ele tenha uma extensão de escalas maior que aquela disponibilizada e assim por diante.
Foi por meio da leitura de Wittgenstein e de Sartre, no meu terceiro ano do Ensino Médio, que me dei conta de que deveria aprender e respeitar a norma culta. O meu raciocínio da época deixo para outra postagem. A questão é que até então não tinha a preocupação de seguir a norma culta; inclusive, mesmo depois da leitura mencionada, demorei alguns anos para respeitar algumas regras específicas, como, por exemplo, as referentes à colocação pronominal, que, inclusive, encontram-se na listagem que farei. Antes da minha preocupação sistemática, contudo, não cometia erros muito graves devido à minha paixão pela leitura, que sempre me ajudou, e devido, confesso, a certo talento natural, que pode ser observado quando, já na primeira série do Fundamental, ganhei um concurso de redação.
Escolhi 10 erros e comentá-los-ei no decorrer da listagem. É importante ressaltar alguns pontos. Primeiramente[1], não sou perfeito, cometo erros e, inclusive, prefiro ser corrigido a persistir no erro, contrariamente à maioria das pessoas. Comentei, no Facebook, certa vez, que só se pode sentir diminuído ao ser corrigido aquele que é perfeito, pois o erro é pré-condição da existência humana. Admito que não gosto de errar; no entanto, quando alguém aponta um erro meu, fico tão traumatizado que nunca mais volto a cometê-lo. Não existe melhor método de aprendizado. A maior parte das pessoas, no entanto, parece ter problemas sérios para admitir os seus erros e retratar-se, gastando tempo tentando arrumar algum jeito de disfarçar o seu equívoco. Segundamente, para ser analfabeto não é necessário o desconhecimento das 10 regras listadas, mas, se tendo em vista que elas são básicas, o desconhecimento de apenas uma delas já o torna analfabeto. Caro leitor, se você desconhecer algum dos usos que listarei, não se sinta ofendido, mas tenha em mente o que falei sobre o erro. Sempre é tempo para aprender! Por último, não tenho a pretensão de explicar pormenorizadamente cada um dos tópicos, mas apenas de citar os principais erros que vejo no dia a dia.
Tivemos, recentemente, uma polêmica que envolvia o uso da norma culta num livro do MEC. Algumas pessoas afirmaram, na ocasião, que o importante é comunicar-se e que fazer uso das regras gramaticais é preciosismo. Uma pessoa que faz esse tipo de afirmação desconhece por completo o significado da norma culta. Pretendo abordar o assunto aqui de forma mais esmerada em outra oportunidade. Alguns argumentos utilizados para desqualificar a norma culta, como, por exemplo, atrelando-a à imposição de uma determinada classe dominante, são completamente equivocados, uma vez que a primeira gramática que se tem notícia, surgida na Índia, tinha pretensões religiosas. Acreditava-se que a língua sânscrita era a língua dos deuses e por isso nasceu a iniciativa de preservá-la por meio de uma gramática.
Outro mito em torno da norma culta é referente à sua função única de fazer referência à língua falada: muito embora ela tenha sido, nas origens, uma forma de registro da oralidade, ela possui sua própria estrutura e riqueza, independentemente da linguagem oral. Um bom exemplo para entender o que ocorre com a norma culta é observar a história do desenvolvimento da Lógica. Esta surgiu, primeiramente, para modelar a linguagem natural. Mesmo com todo o avanço que se observou no campo, a fidelidade da Lógica à linguagem natural é mínima, devido à sua complexidade. O que se observa nos diversos sistemas lógicos é uma abundância de estruturas que fogem à mera descrição da linguagem natural.
Algumas pessoas usam como desculpa o fato de estarem num ambiente coloquial ou de, simplesmente, estarem falando em vez de escrevendo. Não falarei de modo dedutivo aqui, antes que me acusem de falacioso — por falar nisso, a falácia, como conhecemos, restringe-se apenas ao ambiente dedutivo, mas isso é assunto para outra ocasião —, mas a minha experiência demonstra que pessoas que se utilizam desse tipo de argumento, freqüentemente, cometem os mesmos erros na escrita. De qualquer forma, se alguém tem de saber as regras para utilizá-las em momentos específicos, por que não se valer das regras sempre? A linguagem culta fornece precisão e evita ambigüidades. Os erros que comentarei aqui, entretanto, são próprios do âmbito da escrita.
É importante ressaltar também que a linguagem é pública e não privada. Quando se faz uso de uma língua, está-se utilizando algo que não foi criado pelo falante. Se eu tomo por empréstimo um instrumento como um violão, se eu quiser tocá-lo, terei de seguir certas regras na medida em que faço uso de algo que não criei. Não posso querer que um violão usual tenha apenas uma corda, ou que ele tenha uma extensão de escalas maior que aquela disponibilizada e assim por diante.
Foi por meio da leitura de Wittgenstein e de Sartre, no meu terceiro ano do Ensino Médio, que me dei conta de que deveria aprender e respeitar a norma culta. O meu raciocínio da época deixo para outra postagem. A questão é que até então não tinha a preocupação de seguir a norma culta; inclusive, mesmo depois da leitura mencionada, demorei alguns anos para respeitar algumas regras específicas, como, por exemplo, as referentes à colocação pronominal, que, inclusive, encontram-se na listagem que farei. Antes da minha preocupação sistemática, contudo, não cometia erros muito graves devido à minha paixão pela leitura, que sempre me ajudou, e devido, confesso, a certo talento natural, que pode ser observado quando, já na primeira série do Fundamental, ganhei um concurso de redação.
Escolhi 10 erros e comentá-los-ei no decorrer da listagem. É importante ressaltar alguns pontos. Primeiramente[1], não sou perfeito, cometo erros e, inclusive, prefiro ser corrigido a persistir no erro, contrariamente à maioria das pessoas. Comentei, no Facebook, certa vez, que só se pode sentir diminuído ao ser corrigido aquele que é perfeito, pois o erro é pré-condição da existência humana. Admito que não gosto de errar; no entanto, quando alguém aponta um erro meu, fico tão traumatizado que nunca mais volto a cometê-lo. Não existe melhor método de aprendizado. A maior parte das pessoas, no entanto, parece ter problemas sérios para admitir os seus erros e retratar-se, gastando tempo tentando arrumar algum jeito de disfarçar o seu equívoco. Segundamente, para ser analfabeto não é necessário o desconhecimento das 10 regras listadas, mas, se tendo em vista que elas são básicas, o desconhecimento de apenas uma delas já o torna analfabeto. Caro leitor, se você desconhecer algum dos usos que listarei, não se sinta ofendido, mas tenha em mente o que falei sobre o erro. Sempre é tempo para aprender! Por último, não tenho a pretensão de explicar pormenorizadamente cada um dos tópicos, mas apenas de citar os principais erros que vejo no dia a dia.
1. Uso dos porquês
Frustra-me ver o uso que se faz dos porquês. Tentarei explicá-los a partir do que sei sem me apoiar em algum manual. Usa-se junto com acento — "porquê" — sempre que estiver substantivado. Usa-se separado — "por que" sempre que se puder substituir pela expressão "por qual motivo", levando acento sempre que estiver próximo a uma pontuação. O tradicional "porque" é usado sempre que for usado em sentido explicativo.
É muito comum ver as pessoas errando o uso de "afim" e "a fim", principalmente, dizendo, erroneamente, que estão "afim de alguém" ou "afim de fazer algo". A maior parte das pessoas nunca terá de usar "afim". Se for pra chutar, amigo, use "a fim".
Quanto aos monossílabos, a regra mais elementar de acentuação é a de que monossílabos tônicos terminados em "i" e "u" não levam acento. É comum ver gente acentuando "vi", "li", "Ju" — abreviação de "Juliana" — e mais comum ainda é ver gente mal educada, que, obviamente, tinha de ser analfabeta, escrevendo em portas de banheiro a palavra que designa o orifício anal com acento, para não ser mais específico.
Quanto aos monossílabos, a regra mais elementar de acentuação é a de que monossílabos tônicos terminados em "i" e "u" não levam acento. É comum ver gente acentuando "vi", "li", "Ju" — abreviação de "Juliana" — e mais comum ainda é ver gente mal educada, que, obviamente, tinha de ser analfabeta, escrevendo em portas de banheiro a palavra que designa o orifício anal com acento, para não ser mais específico.
Quem se lembra, lembra-se de algo; quem lembra, lembra algo [2]. Simples!
Alguns verbos possuem duplo particípio — um irregular e outro regular. O primeiro tipo é usado, de forma geral, na voz passiva, acompanhado dos auxiliares "ser" e "estar"; o segundo, na voz ativa, acompanhado dos auxiliares "ter" e "haver". Existem exceções quando se usa o verbo na voz ativa, como, por exemplo, os verbos "pagar", "pegar" ou "ganhar", mas, se você usar a regra geral, não tem erro. Por exemplo, "tinha pegado" e "fui pego".
O erro que se comete no uso deste tempo é um ótimo critério para saber se alguém, de fato, tem um mínimo conhecimento da Língua Portuguesa. Fico até emocionado quando ouço alguém falando corretamente ou escrevendo da maneira correta. Refiro-me, principalmente, ao futuro do subjuntivo, quando usado em orações subordinadas adverbiais. Para ser mais claro, vejam o exemplo corrente: "Quando eu ver você, a gente se fala". O correto seria: "Quando eu vir você, a gente se fala".
6. Uso do infinitivo
Vejo, diariamente, as pessoas escrevendo expressões do tipo "nada a vê", "se eu olha pra você", em vez de "nada a ver" e "se eu olhar pra você".
Como eu já disse, até pouco tempo, dispensava o seguimento das regras referentes à colocação pronominal, pois achava-as desnecessárias. Um dia, ouvindo uma canção, da qual, infelizmente, não me lembro, percebi a importância da regra quando vi que, se dispensasse a regra, o sentido seria alterado. É até aceitável que as pessoas não sigam as regras de colocação pronominal quando escrevem em ambientes coloquiais, sendo coerentes com a predominância da próclise do Português falado no Brasil, mas o que é inaceitável é quando elas usam a ênclise ou a mesóclise quando o uso é proibido pela norma culta. Um exemplo seria "Não faça-o" em vez de "Não o faça", uma vez que expressões negativas são atrativas. Pior do que gente analfabeta é gente analfabeta que quer fazer-se de culta.
8. Vírgulas entre sujeito e predicado
O conhecimento do que é um vocativo, infelizmente, é raro. Uma simples vírgula pode mudar todo o sentido de uma frase como "Pedro salva-me" ou "Pedro, salva-me". Na primeira frase, faço uma descrição, enquanto na segunda peço a Pedro que me salve. Um dia desses, lendo um poema na internet — e não poesia, como alguns pensam —, vi que o sujeito separou sujeito de predicado por meio da vírgula. Algo do tipo: "O céu, é azul". Tudo bem que existe licença poética no âmbito poético, mas destaco algo que sempre costumo dizer: não se pode derrogar o que não se conhece! Qualquer pintor ou escritor que subverteu as regras clássicas tinha conhecimento delas antes de contrariá-las. Para destruir um muro, é preciso, antes, construí-lo.
9. Uso do cedilha
Descobri uma lógica no uso do cedilha há tempos que nunca li em lugar nenhum. Você só usa o cedilha se a sua ausência acarretar pronúncia diferente. Por exemplo, por que "bagaço" tem "ç"? Experimente retirá-lo. Você falaria a palavra de maneira diferente. Se as pessoas soubessem dessa lógica, não escreveriam barbaridades como "voçê". O pior é ver gente escrevendo "vç" em vez de "vc".
O último erro que listei é o que daria para citar mais exemplos. Concordo que o assunto tem a sua complexidade — por exemplo, saber utilizar a concordância no caso da conjunção "ou" ou no caso de porcentagens; no entanto, dois fatores pesam contra a pessoa que comete esse tipo de erro. O primeiro refere-se ao fato de que o aprendizado da Língua Portuguesa inicia-se desde o ingresso no primeiro ano do Fundamental. Se alguém terminar o Ensino Médio, o sujeito passou, em média, no mínimo 11 anos estudando o assunto. Em segundo lugar, vivemos tempos em que qualquer pessoa tem acesso à informação. A internet está aí pra isso; então, não existe desculpa. Pensei em dar uma olhada no Facebook ou no Twitter para encontrar exemplos, mas desisti.
[1] A palavra "primeiramente", incrivelmente, não está dicionarizada, não sendo registrada no VOLP. O excelente professor Claudio Moreno, no entanto, convenceu-me a usá-la, incluindo as generalizações "segundamente", "terceiramente" e assim por diante. Vejam o texto do mencionado professor: http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2010/03/28/primeiramente/ .
[2] Para o uso que fiz das vírgulas na minha explicação, recomendo o seguinte texto:
http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2010/01/31/quem-sabe-sabe/
http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2010/01/31/quem-sabe-sabe/
"Quem se lembra, lembra-se de algo"
ResponderExcluirNão se separa sujeito de predicado. O mesmo para as orações subjetivas.
"Quem sabe faz".
Anônimo, você leu o texto que indiquei, criatura?
ResponderExcluir[2] Para o uso que fiz das vírgulas na minha explicação, recomendo o seguinte texto:
http://wp.clicrbs.com.br/sualingua/2010/01/31/quem-sabe-sabe/