quinta-feira, 27 de outubro de 2016

A Igreja apostólica, hierárquica e visível (Dave Armstrong)



No Credo Niceno, que é aceito pela maioria dos cristãos, a Igreja cristã é descrita como sendo “Una, Santa, Católica e Apostólica”. Essas características são conhecidas como as quatro marcas da Igreja. As noções de santidade e de catolicidade não estão muito em disputa. A marca de santidade pode ser definida como a posse e disseminação do sublime, santo e cristocêntrico código moral do Cristianismo — melhor exemplificado pelos Santos ou, de outro modo, por grandes personagens divinos. Todas as partes — enquanto discordem em muitas questões particulares — concordam que essa é a função central da catolicidade da Igreja, simplesmente, significando que ela seja universal. Aqui, protestantes e católicos discordam, unicamente, sobre a natureza daquela Igreja que é considerada universal e abrangente.

Isso nos leva à unicidade e à apostolicidade da Igreja, em que as discordâncias são enormes de fato. Muitos protestantes, especialmente os evangélicos, vêem a unidade e a unicidade subsistindo, primariamente, ou unicamente, na interna, invisível e espiritual unidade daqueles que estão, de fato, em Cristo, em virtude de serem justificados, ou nascidos de novo, ou regenerados, com ou sem batismo, dependendo da denominação. Para eles, a igreja consiste em ter o Espírito Santo, em ser um eleito predestinado, em ser aquele que perseverará e está salvo agora e na eternidade.

A Igreja Católica tem sempre proclamado essa característica unificadora, também, sob o amplo e rico conceito de Igreja Mística (sob o qual ela reconhece o Protestantismo), ainda que não ponha a Igreja Mística contra a Igreja institucional ou visível como muitos evangélicos fazem. Para os católicos, então, essa característica da unicidade está, substancialmente, relacionada aos aspectos organizacionais e práticos da eclesiologia. Os católicos crêem que a Igreja é tanto um organismo como uma organização, e não apenas o primeiro. As "igrejas" místicas e visíveis são como dois círculos que, em grande parte, intersectam-se, mas que não coincidem. Elas existem, conjuntamente — de um modo um tanto quanto paradoxal, que carrega uma tensão consigo —, até o "fim dos tempos". Que tipo, entretanto, de organização é a Igreja, que abrange em si esses dois aspectos (assim como muitos outros)?

Nesse ponto da discussão, os católicos apelam à natureza hierárquica ou episcopal (isto é, sob a jurisdição de Bispos) de governo da Igreja. Além disso, os católicos sustentam que essa forma é bíblica e divinamente instituída, não sendo, portanto, opcional ou de importância teológica secundária.

Finalmente, os católicos crêem que os Bispos são — devido ao próprio desejo de Jesus Cristo — os sucessores dos Apóstolos (o conceito de sucessão apostólica). Essa é a metodologia por meio da qual a Igreja Católica remonta a si mesma, historicamente, a uma sucessão ininterrupta, aos Apóstolos e à Igreja primitiva. O Catolicismo, então, enfatiza bastante tanto a continuidade histórica quanto a doutrinal, enquanto os protestantes evangélicos estão mais preocupados com a manutenção da paixão, de um comprometimento intenso e de um zelo que estavam presentes nos Apóstolos e nos primeiros cristãos, estando menos interessados em formas de governo ou em doutrinas que são, hoje, vistas como “distintivamente” católicas. Eles tendem a ver, claramente, na Bíblia e na Igreja primitiva essas doutrinas com as quais concordam, mas ignoram aquelas que estão em maior concordância com o Catolicismo, tais como o episcopado, o Purgatório e a apostolicidade.

Examinaremos as marcas da Igreja das quais os protestantes (apesar de muitas exceções), em grande parte, discordam: a sua visibilidade, a hierarquia dos Bispos, a sucessão apostólica e questões afins, como a ordenação, os deveres dos sacerdotes e o sectarismo. A maioria dessas questões está relacionada, em último caso, com a autoridade "per se". Os protestantes enfatizam a autoridade bíblica e os católicos, a liderança eclesiástica e episcopal e a Tradição. Se a Bíblia, entretanto, aponta-nos para a última e encoraja-nos a sermos submissos a ela, então, os dois tipos de autoridade não podem (biblicamente) estar em oposição.

Um dos aspectos inegáveis da unidade e da unicidade na Bíblia é a advertência constante (especialmente nos escritos de São Paulo) contra (e proibindo) as divisões, cismas e o sectarismo, seja por meio de discursos ou por meio de maus exemplos (Mateus 12.25, 16.18, João 10.16, 17.20-23, Atos 4.32, Romanos 13.13, 16.17, 1 Coríntios 1.10-13, 3.3-4, 10.17, 11.18-19, 12.12-27, 14.33, 2 Coríntios 12.20, Gálatas 5.19-21, Efésios 4.3-6, Filipenses 1.27, 2.2-3, 1 Timóteo 6.3-5, Tito 3.9-10, Tiago 3.16, 2 Pedro 2.1). Isso, claramente, não é algo periférico. Mesmo Nosso Senhor faz da unidade um meio pelo qual o mundo poderia crer que o Pai mandou o Seu Filho (João 17.21,23) e ora para que ela seja tão profunda como a própria unidade encontrada na Trindade (João 17.21-22). São Paulo faz da provocação de divisão um possível motivo para exclusão da comunidade cristã (Romanos 16.17) e diz que as divisões (já vigentes naqueles tempos) dividem a Cristo (1 Coríntios 1.13). Esse sempre tem sido um dos pontos fortes da posição católica contra o Protestantismo e os próprios protestantes estão, cada vez mais, preocupados com aquilo que eles consideram ser uma escandalosa associação entre o denominacionalismo e o sectarismo, que todos concordam que é condenado nas Escrituras.

Uma das motivações sinceras e, aparentemente, razoáveis para a formação de uma nova seita é o desejo de apartar-se de pecadores e do pecado, que pode infectar os outros. A Bíblia, contudo, claramente, ensina que a Igreja (especialmente no seu sentido institucional) é composta tanto por santos quanto por pecadores, por bons e por ruins. Vemos isto de maneira indiscutível em várias parábolas de Jesus sobre o Reino dos Céus (isto é, a Igreja), tais como a parábola do joio e do trigo, em que Jesus afirma que eles crescerão juntos até o Juízo Final ou até os últimos tempos (Mateus 13.24-30; cf. Mateus 3.12). Ele compara a Igreja a uma rede de pesca que captura peixes bons e ruins, que serão separados, posteriormente (Mateus 13.47-50), e a um banquete de casamento, no qual um convidado foi retirado para as trevas (Mateus 22.1-14). Esta parábola termina com uma famosa frase: "muitos são chamados, mas poucos são escolhidos”, o que poderia ser interpretado como a distinção entre cristãos mornos, mortos ou nominais e aqueles, realmente, eleitos que serão salvos no final. Ambos estão presentes na Igreja de acordo com Jesus. Um estado de coisas semelhante pode ser visto nas parábolas das dez virgens (Mateus 25.1-13) e dos talentos (Mateus 25.14-30) e a descrição de Jesus dos cristãos e da Igreja como uma cidade edificada sobre um monte (Mateus 5.14, cf. 5.15-16) é uma referência óbvia à visibilidade da Igreja. De nenhum modo, essa cidade pode ser vista como sendo invisível.

Jesus escolheu Judas como Seu discípulo, mesmo conhecendo o futuro, e ele era, verdadeiramente, um Apóstolo (Mateus 10.1,4; Marcos 3.14; João 6.70-71; Atos 1.17). Da mesma forma, São Paulo, dirigindo-se aos anciãos (Atos 20.17), afirma que o próprio Espírito Santo fez deles bispos (RSV, guardiões; no Grego, episkopos — Atos 20.28), mesmo que entre esses mesmos homens surgissem hereges e cismáticos (Atos 20.30). Esse pensamento tem ecos no versículo que se assemelha a uma parábola em 2 Timóteo 2.20 (veja também 2.15-19).

Os protestantes costumam citar a analogia de Jesus da ovelha e do pastor (João 10.1-16; cf. 2 Timóteo 2.19; 1 João 2.19) que se reconhecem (10.14) como evidência de que a Igreja consiste apenas dos eleitos. No entanto, a analogia é desfeita quando, também, encontramos, nas Escrituras, aplicações do termo "ovelha" a reprovados não salvos (Salmo 74.1), a perdidos (Salmo 119.176), a Israel como uma nação (Ezequiel 34.2-3, 13, 23, 30) e, de fato, a todos os homens (Isaías 53.6).

Outras passagens pressupõem uma Igreja visível, identificável e “concreta”, como Mateus 18.15-17, em que os crentes são exortados por Nosso Senhor a trazer irmãos errantes e obstinados à Igreja, que, então, determinará para eles um veredito apropriado. Isso seria contrário ao teor do Novo Testamento se fosse uma referência apenas a uma igreja local — tal cenário iria conduzir-nos a conseqüências totalmente avessas à prática (em que o pecador, simplesmente, freqüentaria outra denominação e seguiria em frente com a sua vida, como ocorre, tragicamente, em muitos casos no dia de hoje.

São Paulo, ainda, em 1 Timóteo 3.15, descreve a “Igreja do Deus vivo” como sendo um “pilar e baluarte da verdade”. Essa declaração não faz o menor sentido no contexto de denominações que competem entre si e que, muitas vezes, são contraditórias entre si. Onde um religioso sincero, desinformado e sem qualquer sofisticação encontraria essa verdade? Apenas em um contexto doutrinal em que houvesse real visibilidade e unicidade de doutrina esse versículo pode ter qualquer possibilidade de aplicação prática.

Também é um equívoco tratar São Paulo como se ele fosse algum tipo de “cavaleiro solitário” espiritual, que estivesse, por sua própria conta, sem qualquer lealdade eclesiástica particular, uma vez que ele foi comissionado, pelo próprio Jesus, como um Apóstolo. Na sua experiência de conversão, Jesus disse a Paulo que ele seria informado acerca do que deveria fazer (Atos 9.6; cf. 9.17). Ele foi ver São Pedro em Jerusalém por quinze dias para ser confirmado em seu chamado (Gálatas 1.18) e, catorze dias depois, ele foi comissionado por Pedro, Tiago e João (Gálatas 2.1-2, 9). Ele, também, foi enviado à igreja de Antioquia (Atos 13.1-4), que estava em contato com a igreja de Jerusalém (Atos 11.19-27). Mais tarde, Paulo reportou-se de volta a Antioquia (Atos 14.26-28).

O Novo Testamento refere-se, basicamente, a três tipos de ofícios permanentes na Igreja (Apóstolos e profetas não existiriam mais): Bispos (episkopos), Anciãos (presbyteros, dos quais derivam os presbíteros e padres), e diáconos (diakonos). Os Bispos são mencionados em Atos 1.20, 20.28; Filipenses 1.1; 1 Timóteo 3.1-2; Tito 1.7 e 1 Pedro 2.25. Os presbíteros (por vezes, "Anciãos") aparecem em passagens como Atos 15.2-6, 21.18, Hebreus 11.2, 1 Pedro 5.1 e 1 Timóteo 5.17. Os protestantes vêem esses líderes como sendo análogos aos correntes pastores dos dias de hoje, enquanto os católicos vêem-nos como sacerdotes. Os diáconos (por vezes, "ministros" em algumas traduções inglesas) são mencionados, de maneira semelhante, como sendo cristãos anciãos com freqüência similar (por exemplo, 1 Coríntios 3.5; Filipenses 1.1; 1 Tessalonicenses 3.2; 1 Timóteo 3.8-13).

Como, freqüentemente, costuma ser o caso na teologia e na prática entre os primeiros cristãos, existe alguma fluidez e sobreposição entre as três vocações (por exemplo, compare Atos 20.17 com 20.28; 1 Timóteo 3.1-7 com Tito 1.5-9). Isso, entretanto, não prova que os três ofícios de ministros não existam. Por exemplo, São Paulo, freqüentemente, refere a si mesmo como sendo um diácono ou ministro (1 Coríntios 3.5, 4.1; 2 Coríntios 3.6, 6.4, 11.23; Efésios 3.7, Colossenses 1.23-25), ainda que ninguém afirme que ele era, meramente, um diácono, e nada mais além disto. De modo semelhante, São Pedro chamam a si mesmo como sendo um membro Ancião (1 Pedro 5.1), muito embora Jesus chame-o de rocha sobre a qual Ele construiria a Sua Igreja e dê somente a ele as “chaves do Reino dos Céus” (Mateus 16.18-19). Esses exemplos são, usualmente, indicativos de uma humildade saudável em concordância com as injunções de Cristo sobre a servidão (Mateus 23.11-12; Marcos 10.43-44).

Após observação mais atenta, claras distinções acerca do ofício surgem e a natureza hierárquica do governo da Igreja no Novo Testamento emerge. Os Bispos são sempre referidos no singular, enquanto os Anciãos são, geralmente, tratados no plural. A primeira controvérsia entre os cristãos tem a ver com a natureza e com as funções tanto de Bispos como dos Anciãos (os diáconos têm, amplamente, os mesmos deveres tanto entre protestantes quanto entre os católicos).

Os católicos alegam que os Anciãos/presbíteros, nas Escrituras, realizam todas as funções de um sacerdote católico:

1) são enviados e comissionados por Jesus (a noção de ser chamado): Marcos 6.7; João 15.5, 20.21; Romanos 10.15; 2 Coríntios 5.20;

2) são representantes de Jesus: Lucas 10.16; João 13.20;

3) têm autoridade para ‘ligar’ e ‘desligar’ (Penitência e Absolvição): Mateus 18.18 (compare com Mateus 16.19)

4) têm poder para perdoar os pecados no nome de Jesus: Lucas 24.47; João 20.21-23; 2 Coríntios 2.5-11; Tiago 5.15;

5) têm autoridade para administrar a Penitência: Atos 5.2-11; 1 Coríntios 5.3-13; 2 Coríntios 5.18; 1 Timóteo 1.18-20; Tito 3.10;

6) têm poder de conduzir a Eucaristia: Lucas 22.19; Atos 2.42 (compare com Lucas 24.35; Atos 2.46, 20.7; 1 Coríntios 10.16);

7) ministram Sacramentos: 1 Coríntios 4.1; Tiago 5.13-15;

8) realizam batismos: Mateus 28.19; Atos 2.38,41;

9) são ordenados: Atos 14.23; 1 Timóteo 4.14; 5.23;

10) pastoreiam: Atos 20.17,28; Efésios 4.11; 1 Pedro 5.1-4;

11) pregam e ensinam: 1 Timóteo 3.1-2, 5.17;

12) evangelizam: Mateus 16.15, 28:19-20; Marcos 3.14; Lucas 9.2, 6, 24.47; Atos 1.8;

13) curam: Mateus 10.1; Lucas 9.1-2,6;

14) expulsam demônios: Mateus 10.1; Marcos 3.15; Lucas 9.1;

15) ouvem confissões: Atos 19.18 (compare com Mateus 3.6; Marcos 1.5; Tiago 5.16; 1 João 1.8-9; pressuposto em João 20.23);

16) vivem o celibato se chamados a isto: Mateus 19.12; 1 Coríntios 7.7-9,20,25-38 (especialmente 7.35);

17) desfrutam da presença perpétua de Cristo e de Sua assistência de um modo especial: Mateus 28.20.

Os protestantes — seguindo Lutero — citam 1 Pedro 2.5,9 (veja, também, Apocalipse 1.6) a fim de provar que todos os cristãos são sacerdotes. Isso, entretanto, não exclui a existência de alguém que seja, especialmente, ordenado, que receba um ordenamento sacramental, uma vez que São Pedro estava reproduzindo a linguagem de Êxodo 19.6, onde os judeus foram descritos dessa forma. Uma vez que os judeus tinham um sacerdócio levítico separado, por analogia, 1 Pedro 2.9 não pode, logicamente, excluir um sacerdócio ordenado neotestamentário. Esses textos estão preocupados com a santidade sacerdotal em oposição à função sacerdotal. Em sentido universal, por exemplo, nunca se referem à Eucaristia ou aos Sacramentos. Cada cristão é um pastor em termos da oferta de sacrifícios de oração (Hebreus 13.15), de esmolas (Hebreus 13.16) e da fé em Jesus (Filipenses 2.17).

Os Bispos (episkopos) têm todos os poderes, deveres e jurisdição dos padres, com as seguintes importantes responsabilidades que se seguem:

1) jurisdição sobre os padres e as igrejas locais e o poder de ordenar padres: Atos 14.22; 1 Timóteo 5.22; 2 Timóteo 1.6; Tito 1.5;

2) responsabilidade especial em defender a fé: Atos 20.28-31; 2 Timóteo 4.1-5; Tito 1.9-10; 2 Pedro 3.15-16;

3) poder para repreender falsas doutrinas e para excomungar: Atos 8.14-24; 1 Coríntios 16.22; 1 Timóteo 5.20; 2 Timóteo 4.2; Tito 1.10-11;

4) poder para conceder a Confirmação (o recebimento da habitação do Espírito Santo): Atos 8.14-17, 19.5-6;

5) gestão das finanças da Igreja: 1 Timóteo 3.3-4; 1 Pedro 5.2.

Na Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento), episkopos é usado para denotar vários sentidos, como, por exemplo: oficiais (Juízes 9.28, Isaías 60.17), supervisores de fundos (2 Crônicas 34.12,17), superintendentes de sacerdotes e de levitas (Neemias 11.9; 2 Reis 11.18) e aqueles que tinham funções no templo e relacionadas ao tabernáculo (Números 4.16). Deus é chamado de episkopos em Jó 20.29, referindo-se ao Seu papel como Juiz e Cristo é um episkopos em 1 Pedro 2.25 (RSV: "pastor e guardião de nossas almas").

O Concílio de Jerusalém (Atos 15.1-29) dá testemunho de uma estrutura de governo episcopal hierárquica definitiva na Igreja primitiva. São Pedro, o chefe mais velho (o ofício de Papa) da Igreja inteira (1 Pedro 5.1; cf. João 21.15-17), presidiu e emitiu o pronunciamento autoritativo (15.7-11). Então, Tiago, Bispo de Jerusalém (como uma espécie de prefeito anfitrião da conferência) dá a sua anuência (Atos 15.14) com um proferimento conclusivo (15.13-29). Que Tiago era o único Bispo "monárquico" de Jerusalém é bastante evidente nas Escrituras (Atos 12.17, 15.13,19,21.18; Gálatas 1.19,2.12). Esse fato é, também, atestado pelo primeiro historiador cristão Eusébio (História da Igreja, 7:19).

Muita evidência histórica e patrística também existe para o bispado de São Pedro em Roma. Ninguém contesta o fato de que São Clemente (101 d.C.) foi o único Bispo de Roma um pouco mais tarde, ou que Santo Inácio (110 d.C.) foi o Bispo de Antioquia, começado por volta de 69 d.C. . Então, o Bispo "monárquico" é tanto um conceito bíblico quanto um fato indiscutível na Igreja primitiva. No momento em que chegamos a meados do segundo século, praticamente, todos os historiadores sustentam que cada um dos Bispos lidera cada comunidade cristã. Isso deveria ser o caso em toda a cristandade, no Ocidente e no Oriente, até que Lutero delegou esse poder aos príncipes seculares, no século 16, e a tradição anabatista evitou um ofício eclesiástico completamente ou em grande parte. Hoje, muitas denominações não têm nenhum Bispo de qualquer natureza.

Pode-se admitir tudo o que acabamos de mencionar como sendo verdadeiro, mas ainda se negando a sucessão apostólica, por meio da qual esses ofícios são transmitidos, ou legados, ao longo de gerações e de séculos por meio da Sagrada Tradição. Essa crença, entretanto, da Igreja Católica (juntamente com a Ortodoxia Oriental e com o Anglicanismo) é, também, baseada nas Escrituras:

São Paulo ensina-nos (Efésios 2.20) que a Igreja é construída sob a fundação dos Apóstolos, a quem o próprio Cristo escolheu (João 6.70; Atos 1.2,13; cf. Mateus 16.18). Em Marcos 6.30, os doze discípulos originais de Jesus são chamados de Apóstolos e Mateus 10.1-5 e Apocalipse 21.14 falam dos doze Apóstolos. Depois que Judas desertou, os onze Apóstolos remanescentes indicaram o seu sucessor, Matias (Atos 1.20-26). Uma vez que Judas é chamado de Bispo ("episkopos") nessa passagem (1.20), então, por expansão lógica, todos os Apóstolos podem ser considerados Bispos (embora sejam de um tipo extraordinário).

Se os Apóstolos são Bispos, e um deles foi substituído por outro, após a morte, ressurreição e ascensão de Cristo, nós temos, então, um exemplo explícito de uma sucessão apostólica na Bíblia, que se deu antes de 35 d.C. . De modo semelhante, São Paulo parece passar o seu ofício a Timóteo (2 Timóteo 4.1-6), pouco antes de sua morte, por volta de 65 d.C. . Essa sucessão mostra uma equivalência autoritativa entre os Apóstolos e Bispos, que são sucessores dos Apóstolos. Como um corolário, somos, também, informados, nas Escrituras, de que a Igreja, em si mesma, é perpétua, infalível e indefectível (Mateus 16.18; João 14-26; 16.18). Por que a Igreja primitiva seria configurada de uma forma e a Igreja tardia de outra maneira?

Toda essa informação bíblica está em harmonia com as visões eclesiológicas da Igreja Católica. Houve algum desenvolvimento ao longo dos séculos, mas, em essência, a Igreja bíblica e o Clero e a Igreja Católica e o Clero são uma só coisa.

A evidência histórica dos primeiros cristãos, depois, dos Apóstolos e dos Pais da Igreja é, totalmente, cogente também: existe consenso praticamente unânime quanto à natureza episcopal, hierárquica e visível da Igreja, que procede com autoridade, ao longo da história, em virtude da sucessão apostólica.

São Clemente, Bispo de Roma (101 d.C.), ensina a sucessão apostólica por volta de 80 d.C. (Epístola aos Coríntios, 42:4-5, 44.1:3) e Santo Irineu é um testemunho muito forte e advogado dessa Tradição nas duas últimas décadas do segundo século (Contra as Heresias, 3:3:1,4,4:26:2,5:20:1,33:8). Eusébio, o primeiro historiador da Igreja, na sua História da Igreja, c. 325, começa dizendo que uma das "principais questões" a serem tratadas na sua obra é a questão das "linhas de sucessão dos Santos Apóstolos..." (tr. G. A. Williamson, Baltimore: penguin Books, 1965, 31).

No tocante ao triplo ministério dos Bispos, padres (Anciãos/presbíteros) e diáconos, Santo Inácio, Bispo de Antioquia, oferece-nos um memorável testemunho por volta do ano 110 (Letter to the Magnesians, 2, 6:1, 13:1-2, Letter do the Trallians, 2:1-3, 3:1-2, 7:2, Letter do the Philadelphians, 7:1-2, Letter to the Smyrnaeans, 8:1-2 — a última, também, é a primeira referência à "Igreja Católica"). São Clemente de Roma refere-se ao “Sumo Padre” e aos “padres” dos cristãos por volta de 96 (1 Clement, 40). Outro preeminente testemunho primitivo inclui Santo Hipólito (Tradição Apostólica, 9) e São Clemente de Alexandria (Stromateis, 6:13:107:2), ambos no início do terceiro século.

Mesmo João Calvino, contrariamente a muitos dos seus seguidores mais recentes, ensinou que a Igreja era visível e uma "Mãe" (Institutas da Religião Cristã, IV,1,1;IV,1,4;IV,1,13-14), que despreza o erro do sectarismo e do cisma (IV,1,5;IV,1,10-15), e que a Igreja inclui pecadores e hipócritas (IV,1,7;IV,1,13-15 — ele cita Mateus 13.24-30,47-58). Sua diferença com os católicos aqui é que ele define a Igreja visível como sua própria igreja reformada.

[Tradução: Fábio Salgado de Carvalho; original:

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