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[Do livro "Uma defesa bíblica do Catolicismo", terminado em 1996]
[Do livro "Uma defesa bíblica do Catolicismo", terminado em 1996]
No Credo Niceno, que é aceito pela maioria dos cristãos, a
Igreja cristã é descrita como sendo “Una, Santa, Católica e Apostólica”. Essas
características são conhecidas como as quatro marcas da Igreja. As noções de
santidade e de catolicidade não estão muito em disputa. A marca de santidade
pode ser definida como a posse e disseminação do sublime, santo e
cristocêntrico código moral do Cristianismo — melhor exemplificado pelos
Santos ou, de outro modo, por grandes personagens divinos. Todas as partes — enquanto discordem em muitas questões particulares — concordam que essa é a
função central da catolicidade da Igreja, simplesmente, significando que ela
seja universal. Aqui, protestantes e católicos discordam, unicamente, sobre a
natureza daquela Igreja que é considerada universal e abrangente.
Isso nos leva à unicidade e à apostolicidade da Igreja, em
que as discordâncias são enormes de fato. Muitos protestantes, especialmente os
evangélicos, vêem a unidade e a unicidade subsistindo, primariamente, ou
unicamente, na interna, invisível e espiritual unidade daqueles que estão, de
fato, em Cristo, em virtude de serem justificados, ou nascidos de novo, ou
regenerados, com ou sem batismo, dependendo da denominação. Para eles, a igreja
consiste em ter o Espírito Santo, em ser um eleito predestinado, em ser aquele
que perseverará e está salvo agora e na eternidade.
A Igreja Católica tem sempre proclamado essa característica
unificadora, também, sob o amplo e rico conceito de Igreja Mística (sob o qual
ela reconhece o Protestantismo), ainda que não ponha a Igreja Mística contra a
Igreja institucional ou visível como muitos evangélicos fazem. Para os
católicos, então, essa característica da unicidade está, substancialmente, relacionada aos aspectos organizacionais e práticos da eclesiologia. Os
católicos crêem que a Igreja é tanto um organismo como uma organização, e não
apenas o primeiro. As "igrejas" místicas e visíveis são como dois
círculos que, em grande parte, intersectam-se, mas que não coincidem. Elas
existem, conjuntamente — de um modo um tanto quanto paradoxal, que carrega uma
tensão consigo —, até o "fim dos tempos". Que tipo, entretanto, de
organização é a Igreja, que abrange em si esses dois aspectos (assim como
muitos outros)?
Nesse ponto da discussão, os católicos apelam à natureza
hierárquica ou episcopal (isto é, sob a jurisdição de Bispos) de governo da
Igreja. Além disso, os católicos sustentam que essa forma é bíblica e divinamente instituída, não sendo, portanto, opcional ou de importância
teológica secundária.
Finalmente, os católicos crêem que os Bispos são — devido
ao próprio desejo de Jesus Cristo — os sucessores dos Apóstolos (o conceito
de sucessão apostólica). Essa é a metodologia por meio da qual a Igreja
Católica remonta a si mesma, historicamente, a uma sucessão ininterrupta, aos Apóstolos e à Igreja primitiva. O Catolicismo, então, enfatiza bastante tanto a
continuidade histórica quanto a doutrinal, enquanto os protestantes evangélicos
estão mais preocupados com a manutenção da paixão, de um comprometimento
intenso e de um zelo que estavam presentes nos Apóstolos e nos primeiros
cristãos, estando menos interessados em formas de governo ou em doutrinas que
são, hoje, vistas como “distintivamente” católicas. Eles tendem a ver, claramente, na Bíblia e na Igreja primitiva essas doutrinas com as quais concordam, mas
ignoram aquelas que estão em maior concordância com o Catolicismo, tais como o
episcopado, o Purgatório e a apostolicidade.
Examinaremos as marcas da Igreja das quais os protestantes
(apesar de muitas exceções), em grande parte, discordam: a sua visibilidade, a
hierarquia dos Bispos, a sucessão apostólica e questões afins, como a ordenação,
os deveres dos sacerdotes e o sectarismo. A maioria dessas questões está
relacionada, em último caso, com a autoridade "per se". Os
protestantes enfatizam a autoridade bíblica e os católicos, a liderança
eclesiástica e episcopal e a Tradição. Se a Bíblia, entretanto, aponta-nos para
a última e encoraja-nos a sermos submissos a ela, então, os dois tipos de
autoridade não podem (biblicamente) estar em oposição.
Um dos aspectos inegáveis da unidade e da unicidade na
Bíblia é a advertência constante (especialmente nos escritos de São Paulo)
contra (e proibindo) as divisões, cismas e o sectarismo, seja por meio de discursos ou por meio de maus exemplos (Mateus 12.25, 16.18, João 10.16, 17.20-23, Atos 4.32,
Romanos 13.13, 16.17, 1 Coríntios 1.10-13, 3.3-4, 10.17, 11.18-19, 12.12-27,
14.33, 2 Coríntios 12.20, Gálatas 5.19-21, Efésios 4.3-6, Filipenses 1.27,
2.2-3, 1 Timóteo 6.3-5, Tito 3.9-10, Tiago 3.16, 2 Pedro 2.1). Isso,
claramente, não é algo periférico. Mesmo Nosso Senhor faz da unidade um meio
pelo qual o mundo poderia crer que o Pai mandou o Seu Filho (João 17.21,23) e
ora para que ela seja tão profunda como a própria unidade encontrada na
Trindade (João 17.21-22). São Paulo faz da provocação de divisão um possível
motivo para exclusão da comunidade cristã (Romanos 16.17) e diz que as divisões
(já vigentes naqueles tempos) dividem a Cristo (1 Coríntios 1.13). Esse sempre
tem sido um dos pontos fortes da posição católica contra o Protestantismo e os
próprios protestantes estão, cada vez mais, preocupados com aquilo que eles
consideram ser uma escandalosa associação entre o denominacionalismo e o
sectarismo, que todos concordam que é condenado nas Escrituras.
Uma das motivações sinceras e, aparentemente, razoáveis para a
formação de uma nova seita é o desejo de apartar-se de pecadores e do pecado,
que pode infectar os outros. A Bíblia, contudo, claramente, ensina que a Igreja
(especialmente no seu sentido institucional) é composta tanto por santos quanto
por pecadores, por bons e por ruins. Vemos isto de maneira indiscutível em
várias parábolas de Jesus sobre o Reino dos Céus (isto é, a Igreja), tais como
a parábola do joio e do trigo, em que Jesus afirma que eles crescerão juntos
até o Juízo Final ou até os últimos tempos (Mateus 13.24-30; cf. Mateus 3.12).
Ele compara a Igreja a uma rede de pesca que captura peixes bons e ruins, que
serão separados, posteriormente (Mateus 13.47-50), e a um banquete de casamento,
no qual um convidado foi retirado para as trevas (Mateus 22.1-14). Esta
parábola termina com uma famosa frase: "muitos são chamados, mas poucos
são escolhidos”, o que poderia ser interpretado como a distinção entre cristãos
mornos, mortos ou nominais e aqueles, realmente, eleitos que serão salvos no
final. Ambos estão presentes na Igreja de acordo com Jesus. Um estado de coisas
semelhante pode ser visto nas parábolas das dez virgens (Mateus 25.1-13) e dos
talentos (Mateus 25.14-30) e a descrição de Jesus dos cristãos e da Igreja como
uma cidade edificada sobre um monte (Mateus 5.14, cf. 5.15-16) é uma referência
óbvia à visibilidade da Igreja. De nenhum modo, essa cidade pode ser vista como
sendo invisível.
Jesus escolheu Judas como Seu discípulo, mesmo conhecendo o
futuro, e ele era, verdadeiramente, um Apóstolo (Mateus 10.1,4; Marcos 3.14; João
6.70-71; Atos 1.17). Da mesma forma, São Paulo, dirigindo-se aos anciãos (Atos
20.17), afirma que o próprio Espírito Santo fez deles bispos (RSV, guardiões;
no Grego, episkopos — Atos 20.28), mesmo que entre esses mesmos
homens surgissem hereges e cismáticos (Atos 20.30). Esse pensamento tem ecos no
versículo que se assemelha a uma parábola em 2 Timóteo 2.20 (veja também
2.15-19).
Os protestantes costumam citar a analogia de Jesus da ovelha
e do pastor (João 10.1-16; cf. 2 Timóteo 2.19; 1 João 2.19) que se reconhecem
(10.14) como evidência de que a Igreja consiste apenas dos eleitos. No entanto,
a analogia é desfeita quando, também, encontramos, nas Escrituras, aplicações do
termo "ovelha" a reprovados não salvos (Salmo 74.1), a perdidos
(Salmo 119.176), a Israel como uma nação (Ezequiel 34.2-3, 13, 23, 30) e, de
fato, a todos os homens (Isaías 53.6).
Outras passagens pressupõem uma Igreja visível,
identificável e “concreta”, como Mateus 18.15-17, em que os crentes são
exortados por Nosso Senhor a trazer irmãos errantes e obstinados à Igreja, que,
então, determinará para eles um veredito apropriado. Isso seria contrário ao
teor do Novo Testamento se fosse uma referência apenas a uma igreja local — tal cenário iria conduzir-nos a conseqüências totalmente avessas à prática (em
que o pecador, simplesmente, freqüentaria outra denominação e seguiria em
frente com a sua vida, como ocorre, tragicamente, em muitos casos no dia de
hoje.
São Paulo, ainda, em 1 Timóteo 3.15, descreve a “Igreja do
Deus vivo” como sendo um “pilar e baluarte da verdade”. Essa declaração não faz
o menor sentido no contexto de denominações que competem entre si e que, muitas
vezes, são contraditórias entre si. Onde um religioso sincero, desinformado e
sem qualquer sofisticação encontraria essa verdade? Apenas em um contexto
doutrinal em que houvesse real visibilidade e unicidade de doutrina esse
versículo pode ter qualquer possibilidade de aplicação prática.
Também é um equívoco tratar São Paulo como se ele fosse
algum tipo de “cavaleiro solitário” espiritual, que estivesse, por sua própria
conta, sem qualquer lealdade eclesiástica particular, uma vez que ele foi
comissionado, pelo próprio Jesus, como um Apóstolo. Na sua experiência de
conversão, Jesus disse a Paulo que ele seria informado acerca do que deveria
fazer (Atos 9.6; cf. 9.17). Ele foi ver São Pedro em Jerusalém por quinze dias
para ser confirmado em seu chamado (Gálatas 1.18) e, catorze dias depois, ele
foi comissionado por Pedro, Tiago e João (Gálatas 2.1-2, 9). Ele, também, foi
enviado à igreja de Antioquia (Atos 13.1-4), que estava em contato com a igreja
de Jerusalém (Atos 11.19-27). Mais tarde, Paulo reportou-se de volta a
Antioquia (Atos 14.26-28).
O Novo Testamento refere-se, basicamente, a três tipos de
ofícios permanentes na Igreja (Apóstolos e profetas não existiriam mais): Bispos (episkopos), Anciãos (presbyteros, dos quais
derivam os presbíteros e padres), e diáconos (diakonos). Os Bispos
são mencionados em Atos 1.20, 20.28; Filipenses 1.1; 1 Timóteo 3.1-2; Tito 1.7
e 1 Pedro 2.25. Os presbíteros (por vezes, "Anciãos") aparecem em
passagens como Atos 15.2-6, 21.18, Hebreus 11.2, 1 Pedro 5.1 e 1 Timóteo 5.17.
Os protestantes vêem esses líderes como sendo análogos aos correntes pastores
dos dias de hoje, enquanto os católicos vêem-nos como sacerdotes. Os diáconos
(por vezes, "ministros" em algumas traduções inglesas) são
mencionados, de maneira semelhante, como sendo cristãos anciãos com freqüência
similar (por exemplo, 1 Coríntios 3.5; Filipenses 1.1; 1 Tessalonicenses 3.2; 1
Timóteo 3.8-13).
Como, freqüentemente, costuma ser o caso na teologia e na prática
entre os primeiros cristãos, existe alguma fluidez e sobreposição entre as três
vocações (por exemplo, compare Atos 20.17 com 20.28; 1 Timóteo 3.1-7 com Tito
1.5-9). Isso, entretanto, não prova que os três ofícios de ministros não
existam. Por exemplo, São Paulo, freqüentemente, refere a si mesmo como sendo
um diácono ou ministro (1 Coríntios 3.5, 4.1; 2 Coríntios 3.6, 6.4, 11.23;
Efésios 3.7, Colossenses 1.23-25), ainda que ninguém afirme que ele era, meramente, um diácono, e nada mais além disto. De modo semelhante, São Pedro
chamam a si mesmo como sendo um membro Ancião (1 Pedro 5.1), muito embora Jesus
chame-o de rocha sobre a qual Ele construiria a Sua Igreja e dê somente a ele
as “chaves do Reino dos Céus” (Mateus 16.18-19). Esses exemplos são, usualmente, indicativos de uma humildade saudável em concordância com as injunções de
Cristo sobre a servidão (Mateus 23.11-12; Marcos 10.43-44).
Após observação mais atenta, claras distinções acerca do
ofício surgem e a natureza hierárquica do governo da Igreja no Novo Testamento
emerge. Os Bispos são sempre referidos no singular, enquanto os Anciãos são, geralmente, tratados no plural. A primeira controvérsia entre os cristãos tem a
ver com a natureza e com as funções tanto de Bispos como dos Anciãos (os
diáconos têm, amplamente, os mesmos deveres tanto entre protestantes quanto
entre os católicos).
Os católicos alegam que os Anciãos/presbíteros, nas
Escrituras, realizam todas as funções de um sacerdote católico:
1) são enviados e comissionados por Jesus (a noção de ser
chamado): Marcos 6.7; João 15.5, 20.21; Romanos 10.15; 2 Coríntios 5.20;
2) são representantes de Jesus: Lucas 10.16; João 13.20;
3) têm autoridade para ‘ligar’ e ‘desligar’ (Penitência e
Absolvição): Mateus 18.18 (compare com Mateus 16.19)
4) têm poder para perdoar os pecados no nome de Jesus: Lucas
24.47; João 20.21-23; 2 Coríntios 2.5-11; Tiago 5.15;
5) têm autoridade para administrar a Penitência: Atos
5.2-11; 1 Coríntios 5.3-13; 2 Coríntios 5.18; 1 Timóteo 1.18-20; Tito 3.10;
6) têm poder de conduzir a Eucaristia: Lucas 22.19; Atos
2.42 (compare com Lucas 24.35; Atos 2.46, 20.7; 1 Coríntios 10.16);
7) ministram Sacramentos: 1 Coríntios 4.1; Tiago 5.13-15;
8) realizam batismos: Mateus 28.19; Atos 2.38,41;
9) são ordenados: Atos 14.23; 1 Timóteo 4.14; 5.23;
10) pastoreiam: Atos 20.17,28; Efésios 4.11; 1 Pedro 5.1-4;
11) pregam e ensinam: 1 Timóteo 3.1-2, 5.17;
12) evangelizam: Mateus 16.15, 28:19-20; Marcos 3.14; Lucas
9.2, 6, 24.47; Atos 1.8;
13) curam: Mateus 10.1; Lucas 9.1-2,6;
14) expulsam demônios: Mateus 10.1; Marcos 3.15; Lucas 9.1;
15) ouvem confissões: Atos 19.18 (compare com Mateus 3.6;
Marcos 1.5; Tiago 5.16; 1 João 1.8-9; pressuposto em João 20.23);
16) vivem o celibato se chamados a isto: Mateus 19.12; 1
Coríntios 7.7-9,20,25-38 (especialmente 7.35);
17) desfrutam da presença perpétua de Cristo e de Sua
assistência de um modo especial: Mateus 28.20.
Os protestantes — seguindo Lutero — citam 1 Pedro 2.5,9
(veja, também, Apocalipse 1.6) a fim de provar que todos os cristãos são
sacerdotes. Isso, entretanto, não exclui a existência de alguém que seja, especialmente, ordenado, que receba um ordenamento sacramental, uma vez que São
Pedro estava reproduzindo a linguagem de Êxodo 19.6, onde os judeus foram
descritos dessa forma. Uma vez que os judeus tinham um sacerdócio levítico
separado, por analogia, 1 Pedro 2.9 não pode, logicamente, excluir um
sacerdócio ordenado neotestamentário. Esses textos estão preocupados com a
santidade sacerdotal em oposição à função sacerdotal. Em sentido universal,
por exemplo, nunca se referem à Eucaristia ou aos Sacramentos. Cada cristão é
um pastor em termos da oferta de sacrifícios de oração (Hebreus 13.15), de
esmolas (Hebreus 13.16) e da fé em Jesus (Filipenses 2.17).
Os Bispos (episkopos) têm todos os poderes,
deveres e jurisdição dos padres, com as seguintes importantes responsabilidades
que se seguem:
1) jurisdição sobre os padres e as igrejas locais e o poder
de ordenar padres: Atos 14.22; 1 Timóteo 5.22; 2 Timóteo 1.6; Tito 1.5;
2) responsabilidade especial em defender a fé: Atos
20.28-31; 2 Timóteo 4.1-5; Tito 1.9-10; 2 Pedro 3.15-16;
3) poder para repreender falsas doutrinas e para excomungar:
Atos 8.14-24; 1 Coríntios 16.22; 1 Timóteo 5.20; 2 Timóteo 4.2; Tito 1.10-11;
4) poder para conceder a Confirmação (o recebimento da
habitação do Espírito Santo): Atos 8.14-17, 19.5-6;
5) gestão das finanças da Igreja: 1 Timóteo 3.3-4; 1 Pedro
5.2.
Na Septuaginta (a tradução grega do Antigo Testamento), episkopos é usado para denotar vários sentidos, como, por exemplo:
oficiais (Juízes 9.28, Isaías 60.17), supervisores de fundos (2 Crônicas
34.12,17), superintendentes de sacerdotes e de levitas (Neemias 11.9; 2 Reis
11.18) e aqueles que tinham funções no templo e relacionadas ao tabernáculo
(Números 4.16). Deus é chamado de episkopos em Jó 20.29,
referindo-se ao Seu papel como Juiz e Cristo é um episkopos em 1
Pedro 2.25 (RSV: "pastor e guardião de nossas almas").
O Concílio de Jerusalém (Atos 15.1-29) dá testemunho de uma
estrutura de governo episcopal hierárquica definitiva na Igreja primitiva. São
Pedro, o chefe mais velho (o ofício de Papa) da Igreja inteira (1 Pedro 5.1;
cf. João 21.15-17), presidiu e emitiu o pronunciamento autoritativo (15.7-11).
Então, Tiago, Bispo de Jerusalém (como uma espécie de prefeito anfitrião da
conferência) dá a sua anuência (Atos 15.14) com um proferimento conclusivo
(15.13-29). Que Tiago era o único Bispo "monárquico" de Jerusalém é
bastante evidente nas Escrituras (Atos 12.17, 15.13,19,21.18; Gálatas
1.19,2.12). Esse fato é, também, atestado pelo primeiro historiador cristão
Eusébio (História da Igreja, 7:19).
Muita evidência histórica e patrística também existe para o
bispado de São Pedro em Roma. Ninguém contesta o fato de que São Clemente (101
d.C.) foi o único Bispo de Roma um pouco mais tarde, ou que Santo Inácio (110
d.C.) foi o Bispo de Antioquia, começado por volta de 69 d.C. . Então, o Bispo
"monárquico" é tanto um conceito bíblico quanto um fato indiscutível
na Igreja primitiva. No momento em que chegamos a meados do segundo século,
praticamente, todos os historiadores sustentam que cada um dos Bispos lidera
cada comunidade cristã. Isso deveria ser o caso em toda a cristandade, no
Ocidente e no Oriente, até que Lutero delegou esse poder aos príncipes
seculares, no século 16, e a tradição anabatista evitou um ofício eclesiástico completamente ou em grande parte. Hoje, muitas denominações não têm nenhum Bispo de qualquer natureza.
Pode-se admitir tudo o que acabamos de mencionar como sendo
verdadeiro, mas ainda se negando a sucessão apostólica, por meio da qual esses
ofícios são transmitidos, ou legados, ao longo de gerações e de séculos por
meio da Sagrada Tradição. Essa crença, entretanto, da Igreja Católica
(juntamente com a Ortodoxia Oriental e com o Anglicanismo) é, também, baseada nas
Escrituras:
São Paulo ensina-nos (Efésios 2.20) que a Igreja é
construída sob a fundação dos Apóstolos, a quem o próprio Cristo escolheu (João
6.70; Atos 1.2,13; cf. Mateus 16.18). Em Marcos 6.30, os doze discípulos
originais de Jesus são chamados de Apóstolos e Mateus 10.1-5 e Apocalipse 21.14
falam dos doze Apóstolos. Depois que Judas desertou, os onze Apóstolos
remanescentes indicaram o seu sucessor, Matias (Atos 1.20-26). Uma vez que
Judas é chamado de Bispo ("episkopos") nessa passagem (1.20), então,
por expansão lógica, todos os Apóstolos podem ser considerados Bispos (embora
sejam de um tipo extraordinário).
Se os Apóstolos são Bispos, e um deles foi substituído por
outro, após a morte, ressurreição e ascensão de Cristo, nós temos, então, um
exemplo explícito de uma sucessão apostólica na Bíblia, que se deu antes de 35
d.C. . De modo semelhante, São Paulo parece passar o seu ofício a Timóteo (2
Timóteo 4.1-6), pouco antes de sua morte, por volta de 65 d.C. . Essa sucessão
mostra uma equivalência autoritativa entre os Apóstolos e Bispos, que são
sucessores dos Apóstolos. Como um corolário, somos, também, informados, nas
Escrituras, de que a Igreja, em si mesma, é perpétua, infalível e indefectível
(Mateus 16.18; João 14-26; 16.18). Por que a Igreja primitiva seria configurada
de uma forma e a Igreja tardia de outra maneira?
Toda essa informação bíblica está em harmonia com as visões
eclesiológicas da Igreja Católica. Houve algum desenvolvimento ao longo dos
séculos, mas, em essência, a Igreja bíblica e o Clero e a Igreja
Católica e o Clero são uma só coisa.
A evidência histórica dos primeiros cristãos, depois, dos Apóstolos e dos Pais da Igreja é, totalmente, cogente também: existe consenso
praticamente unânime quanto à natureza episcopal, hierárquica e visível da
Igreja, que procede com autoridade, ao longo da história, em virtude da sucessão apostólica.
São Clemente, Bispo de Roma (101 d.C.), ensina a sucessão
apostólica por volta de 80 d.C. (Epístola aos Coríntios, 42:4-5,
44.1:3) e Santo Irineu é um testemunho muito forte e advogado dessa Tradição
nas duas últimas décadas do segundo século (Contra as Heresias,
3:3:1,4,4:26:2,5:20:1,33:8). Eusébio, o primeiro historiador da Igreja, na sua História da Igreja, c. 325, começa dizendo que uma das
"principais questões" a serem tratadas na sua obra é a questão das
"linhas de sucessão dos Santos Apóstolos..." (tr. G. A. Williamson,
Baltimore: penguin Books, 1965, 31).
No tocante ao triplo ministério dos Bispos, padres
(Anciãos/presbíteros) e diáconos, Santo Inácio, Bispo de Antioquia, oferece-nos
um memorável testemunho por volta do ano 110 (Letter to the
Magnesians, 2, 6:1, 13:1-2, Letter do the Trallians, 2:1-3,
3:1-2, 7:2, Letter do the Philadelphians, 7:1-2, Letter to
the Smyrnaeans, 8:1-2 — a última, também, é a primeira referência à
"Igreja Católica"). São Clemente de Roma refere-se ao “Sumo Padre” e
aos “padres” dos cristãos por volta de 96 (1 Clement, 40). Outro preeminente
testemunho primitivo inclui Santo Hipólito (Tradição Apostólica, 9) e São
Clemente de Alexandria (Stromateis, 6:13:107:2), ambos no início do terceiro
século.
Mesmo João Calvino, contrariamente a muitos dos seus
seguidores mais recentes, ensinou que a Igreja era visível e uma
"Mãe" (Institutas da Religião Cristã, IV,1,1;IV,1,4;IV,1,13-14), que
despreza o erro do sectarismo e do cisma (IV,1,5;IV,1,10-15), e que a Igreja
inclui pecadores e hipócritas (IV,1,7;IV,1,13-15 — ele cita Mateus
13.24-30,47-58). Sua diferença com os católicos aqui é que ele define a Igreja
visível como sua própria igreja reformada.
[Tradução: Fábio Salgado de Carvalho; original:
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