quarta-feira, 20 de novembro de 2019

Guia de estudos do Catolicismo para iniciantes monoglotas provenientes do Protestantismo

Catedral St. Mary em Sidney

Ao longo dos anos, muitos que me procuram, interessados no Catolicismo, relatam-me que não se aproximaram da Igreja por uma via intelectual, mas por algumas circunstâncias da vida. Não há nada de errado nisso. São várias as vias pelas quais Deus nos chama à conversão. A um intelectual como eu, que não conhecia nenhum católico pessoalmente, foi natural que o meu caminho fosse marcado pelo estudo da Doutrina. 

Embora isso seja verdade, é igualmente verdade que é praticamente impossível, ao menos ordinariamente, aprofundar-se na fé sem estudar, principalmente quando se leva em conta a quantidade de falsificações históricas e ataques promovidos contra a Igreja — dos filmes hollywodianos aos sermões de um Malafaia ou de um Nicodemus.

Dito isso, se você quer começar a estudar o Catolicismo, mas não fala outra língua, nem está acostumado a uma vida intelectual, o caminho é o seguinte:

(1) Assine o site do padre Paulo Ricardo e vasculhe tudo o que está disponível lá. Comece vendo todos os vídeos da série "A resposta católica", que, inclusive, estão disponíveis gratuitamente a quem não é assinante. 

Veja também o seu curso "Terapia das doenças espirituais". Pode parecer estranho indicar um curso que não é apologético, nem de discussão doutrinária, mas tenha em mente que a saúde da mente não está dissociada da saúde da alma. Se você não ler e estudar com o coração contrito, pedindo a Deus que lhe mostre a Verdade, todo o seu trabalho será em vão. Todas as minhas leituras, nos anos que antecederam a minha conversão, foram feitas de joelhos, sabendo que Deus pediria contas do uso que faria da minha inteligência. 

Dito isso, veja os cursos do padre Paulo Ricardo sobre a história da Igreja, começando pela Igreja antiga, o curso sobre o Catecismo, que está incompleto, abrangendo apenas as duas primeiras partes, Credo Apostólico e Sacramentos, e não deixe de ver o seu importante curso "Por que não sou protestante", a fim de que você saiba o que diferencia em essência o Catolicismo do Protestantismo. 

Outra dica que lhe dou é que você, se puder, ouça as homilias diárias do padre Paulo Ricardo, seguindo o calendário litúrgico da Igreja. São homilias curtas, com média de uns cinco minutos apenas. As Sagradas Escrituras são importantes para você como protestante e é crucial que você veja como nós, católicos, não as menosprezamos e como a lemos de um modo muito mais orgânico.

(2) Dê uma olhada na literatura apologética católica, principalmente aquela escrita por ex-protestantes, que saberão exatamente as dificuldades que você tem com relação ao Catolicismo. 

No meu blogue, há uma lista de mais de 50 livros em português que podem ser baixados gratuitamente. Se você quer começar apenas com dois, eu lhe recomendaria "Balbúrdia Protestante", do padre Lombaerde, e "Arsenal católico ou respostas às objeções protestantes", do José de Mello. 

O Dave Armstrong, que considero o melhor apologista católico vivo, tem um excelente livro chamado "Está na Bíblia: os versículos católicos" que lhe recomendo. 

Leia tudo o que você puder do Scott Hahn, começando pelo seu clássico "Todos os caminhos levam a Roma". 

(3) Há um tópico que merece atenção especial, que é a Mariologia. Não há muito material em Português, mas há três livros que creio que são suficientes:

CASO-ROSENDI, Carlos. Arca da Graça: Nossa Senhora nas Sagradas Escrituras;

LOMBAERDE, Júlio Maria de. A Mulher Bendita diante dos ataques protestantes;

OLIVEIRA, João de. A Virgem Maria no tribunal protestante.

(4) Há muito material bom no YouTube. O documentário do ex-protestante Thomas Woods Jr. "A Igreja Católica: construtora da civilização" é obrigatório. 


O Brant Pitre, que é um dos maiores teólogos bíblicos católicos de hoje, tem um excelente vídeo chamado "Os irmãos de Jesus: Maria teve outros filhos?". 

O Dom José Falcão tem um excelente curso bíblico, que já tem mais de 200 aulas publicadas.

Não deixe de ver bons filmes católicos sobre a vida dos Santos. Há muitos disponíveis no YouTube gratuitamente. Começar com o filme sobre o Padre Pio de Pietrelcina seria uma boa pedida.

Enfim, acho que já há material suficiente indicado aí. Tudo é muito acessível. Não estou lhe indicando nenhum tratado teológico.

Qualquer coisa, conte com a minha ajuda.

terça-feira, 5 de novembro de 2019

PEDIDO DE ANIVERSÁRIO DE 2019

Pessoal, como tenho feito, desde 2015, quando deixei de receber minha bolsa no mestrado, novamente irei fazer-lhes um pedido por conta do meu aniversário, no próximo dia 13 de novembro, dia em que nasceu Santo Agostinho e dia de São Diogo de Alcalá e de Santo Estanislau Kostka.

Ser um intelectual no Brasil não é para amadores. A maior parte dos livros de que preciso são importados. Quanto mais se estuda, mais os livros são especializados, raros e caros. 

Se você, de alguma forma, sente-se grato pelo trabalho que venho desenvolvendo nos últimos anos, peço-lhe que me ajude com qualquer quantia. Um real já é um frete mais barato que pagarei. 

Todo o dinheiro que receber será gasto apenas com livros. 

Caso não possa me ajudar financeiramente, peço-lhe que me ajude com suas orações para que eu possa, cada vez mais, viver melhor a minha vocação.

Todos que me ajudarem estarão nas minhas orações diárias durante todo o ano de 2020.

Aqui estão os meus dados bancários:

Fábio Salgado de Carvalho
Banco do Brasil (001)
Agência: 3.380-4
Conta: 30.940-0
CPF: 023.051.521-59

ou

Fábio Salgado de Carvalho
Nu Pagamentos S.A. (260)
Agência: 0001
Conta: 78131971-2
CPF: 023.051.521-59

Fiquem todos com Deus!

quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Sobre a mudança de nome deste blogue

Há tempos eu me sinto incomodado com o nome deste blogue. Para quem não sabe, De omnibus dubitandum est é o mote latino que sintetiza o método da dúvida hiperbólica cartesiana, que nos ensina que devemos duvidar de tudo. 

Em 2001, com 15 anos de idade, eu li os meus primeiros livros de Filosofia. Naqueles tempos, freqüentava bastante as bancas de revistas. Em uma das minhas visitas à banca, aqui perto de casa, encontrei um exemplar da Martin Claret, contendo as obras Apologia de Sócrates e Banquete de Platão, em um só volume, e um exemplar da coleção Os Pensadores, com a capa verde à época, contendo as obras Discurso do Método, As Paixões da Alma e Meditações.

Aquelas leituras impactaram a minha vida de forma definitiva, e Sócrates e Descartes tornaram-se meus heróis desde então. Na adolescência, quando viajava à praia nas férias, fazia tatuagem de henna com a inscrição latina cartesiana supracitada – tentei encontrar os registros fotográficos que tenho desses momentos ridículos sem sucesso.

Foi o polimatismo de Descartes e as suas falas sobre a importância da unidade do conhecimento que me fizeram ter interesse pelas Ciências Exatas. Sem ele, dificilmente teria cursado Física e Matemática na universidade anos mais tarde. 

Fui um racionalista cartesiano de carteirinha, por anos a fio, chegando a ter o Regras para a Direção do Espírito como meu livro de cabeceira; contudo, em 2011, depois de 10 anos das minhas primeiras leituras filosóficas, tive contato com o pensamento do professor Olavo de Carvalho sobre Descartes, que se tornaria o maravilhoso livro Visões de Descartes em 2013, e com a sua definição de Filosofia e correspondente descrição do que vem a ser o método filosófico.

Quando me converti ao Catolicismo, em 2013, um tio meu pastor perguntou-me como eu, sendo um filósofo, poderia tornar-me católico: afinal, o Catolicismo contém dogmas inquestionáveis, enquanto um filósofo deveria pôr tudo em dúvida. O padre Scott Randall Paine, que foi meu professor na UnB, ao ouvir o meu relato sobre a conversa que tivera com meu tio, deu-me uma das melhores analogias que já ouvi sobre o que vêm a ser os dogmas da Igreja. Ele me disse que os dogmas são como os paralelepípedos de uma estrada: eles não servem para simplesmente delimitar o caminho a ser percorrido, mas principalmente para permitir que o motorista possa avançar com segurança.

O ponto é que meu tio reproduzia uma concepção bastante freqüente, mas equivocada, sobre o que vem a ser a Filosofia, com a qual, por sinal, concordei por anos; no entanto, a Filosofia não se inicia com a dúvida, mas com a anamnese, com o rastreamento da origem das nossas idéias e com a assunção da nossa responsabilidade por elas. A reminiscência platônica, no fim das contas, é precisamente isso! 

Não é função do filósofo colocar tudo em dúvida, mas tomar conhecimento daquilo que ele já conhece inequivocamente, daquilo que ele não tem como duvidar; ademais, o próprio método da dúvida hiperbólica é impossível – deixo-lhes a leitura do livro do professor Olavo por indicação a fim de que vocês vejam o seu argumento que demonstra isso.

Passados os anos de jovem intrépido, que cria ter o dever de sair questionando tudo do alto da sua razão, deveria buscar um novo emblema que fosse mais fiel àquilo que creio no momento. Creio ter encontrado: in pulverem reverteris. São as últimas palavras de Gênesis 3.19: "No suor do teu rosto comerás o pão, até voltares ao solo do qual foste tirado. Porque tu és pó, e ao pó hás de voltar".

O Padre Antônio Vieira, em um dos seus sermões, por ocasião da quarta-feira de cinzas, lembra-nos que o pó futuro, em que nos converteremos, está diante dos nossos olhos, mas que o pó presente, aquilo que realmente somos, não é tão evidente.

Se Deus se ausentasse de mim por um só segundo, deixando de sustentar-me no ser, eu desapareceria; se não fosse pela participação da minha inteligência na Sua Inteligência, não haveria a possibilidade de que eu conhecesse o que quer que seja; e tampouco haveria o que quer que seja para ser conhecido se Deus, igualmente, não sustentasse a Criação no Seu ser e não a preservasse por meio da sua Divina Providência.

Desde que me tornei católico, a minha vocação para a vida intelectual tomou outro sentido. Eu quero conhecer para poder amar mais e melhor a Deus e para ajudar o próximo: afinal, como nos lembra Santo Tomás, a função de um sábio não é apenas contemplar a Verdade, ordenar todas as coisas e julgar princípios, mas apontar e corrigir os erros.

É impossível enveredar-se pelo caminho da sabedoria e do conhecimento sem virtudes, e é impossível ser virtuoso sem autoexame, sem perscrutar o próprio coração a fim de que se notem as próprias misérias e cinzas.

Toda e qualquer empreitada de conhecimento só faz sentido diante da perspectiva da morte e do que realmente somos: pó!

Por isso, a partir de hoje, este blogue passa a chamar-se In Pulverem Reverteris.