domingo, 18 de setembro de 2016

Igreja Católica: superior à Bíblia? ou A Igreja Católica reivindica estar "acima" da Bíblia e ser a sua "criadora"? (Dave Armstrong)


A Igreja Católica, asseguradamente, não reivindica tal coisa, mas apenas que uma Tradição cristã autoritativa e uma Igreja institucional foram necessárias para o estabelecimento e proclamação de um cânon da Escritura. 

Em muitos lugares, tanto de forma direta quanto indiretamente, a Sagrada Escritura ensina que é inspirada e infalível. O que ela não nos fornece, entretanto, é o seu próprio cânon (lista de livros). Posto de forma simples: a Escritura é aquilo que ela é. 1 Timóteo 3.16 e outras passagens claramente ensinam essa inspiração. A Igreja Católica, meramente, reconhece o que já é (pela sua própria natureza) Escritura ou revelação inspirada por Deus, mas tal reconhecimento não produz isso. 

Por vezes, alega-se que isso era algo "novo" no Vaticano II. O Concílio, entretanto, ecoou um proferimento anterior do Vaticano I, que, por sua vez, não estava tão longe de expressões similares no Concílio de Trento (1545-1563).

A exata relação entre a Escritura, a Igreja e a Tradição no pensamento católico é comumente mal compreendida; ela é, por vezes, referida como sendo o "tripé" da autoridade católica. Nós cremos, por fé, que as três não entram e não entrarão em conflito. Elas são vistas como sendo peças de um todo. A Bíblia é central e primária no Catolicismo também, mas não é exclusivamente autoritativa. Ela não está isolada, e nem mesmo poderia estar logicamente, porque a Bíblia, por si mesma, aponta para a Tradição e para a Igreja como autoritativas (veja, por exemplo, o Concílio de Jerusalém em Atos 15); ela nunca ensina que a Bíblia sozinha é a única autoridade final do cristão. 

Por quê, então, algumas pessoas perguntam, os católicos, muitas vezes, agem como se não existisse Bíblia alguma sem a Igreja Católica? Elas alegam que isso implica que nós, católicos, pensamos que a nossa Igreja está acima da Bíblia e que lhe é superior. A posição protestante (dizem-nos eles então) faz mais sentido porque ela coloca igrejas e tradições abaixo da Escritura. Isto parece óbvio porque a Bíblia é inspirada e infalível e homens e tradições (que compõem as igrejas) são falíveis e bastante propensos ao erro. Assim, como poderia ser diferente? 

Não se segue, de forma alguma, entretanto, que os católicos estejam colocando a Igreja acima da Escritura ao, simplesmente, ressaltarem que uma autoridade humana era necessária para que se determinasse o cânon. Podemos fazer uma analogia ou comparação para explicarmos isto melhor. 

Todos concordam que a Bíblia deve ser interpretada apropriadamente. O protestantes, para o seu crédito, dão grande ênfase ao aprendizado e estudo da Bíblia de maneira sábia e inteligente (as ciências da exegese e da hermenêutica). Apenas porque esse aprendizado e estudo são necessários para que se leia a Bíblia corretamente a fim de que se atinja a verdade na teologia não significa que, portanto, a Bíblia não contivesse a verdade ou que as interpretações humanas estejam "acima" da inspiração bíblica "inspirada por Deus". 

Da mesma forma, foi necessário aos homens que concílios da Igreja decidissem-se sobre quais seriam os livros específicos que estariam inclusos no cânon bíblico. Isto não implica nem que esses concílios (a Igreja sozinha) estivessem "acima" da Escritura e muito menos que uma comunidade cristã que declarasse autoritativamente em seu credo que Jesus é Deus feito carne torná-los-ia com isto "maiores" do que Ele é ou superiores. 

A proclamação de uma realidade existente não tem nada a ver com uma suposta "superioridade" de categoria. Tanto a Bíblia como a verdade teológica permanecem sendo o que são em todos os momentos.  Deus, no entanto, está apto (e, de fato, age assim) a proteger os seres humanos do erro na medida em que fazem reivindicações permanentes sobre o cânon bíblico. Os católicos crêem que Deus (o Espírito Santo, conforme João 14-16) quis proteger a Igreja Católica do erro e que Ele é certamente capaz de fazer isto porque ele pode fazer qualquer coisa. 

Para concluir, aqui estão os documentos magisteriais católicos que estão relacionados com a questão:

Primeiro Concílio Vaticano (1870)
Estes livros a Igreja assegura como sendo sagrados e canônicos, não porque, tendo sido cuidadosamente compostos por empreendimentos humanos, tenham sido posteriormente aprovados pela sua autoridade, nem porque eles contenham revelação sem qualquer mistura de erro, mas porque, tendo sido escritos sob inspiração do Espírito Santo, eles têm Deus por seu autor e foram entregues como tais à mesma Igreja.  
(Constituição Dogmática Sobre a Fé Católica, capítulo II; ênfases acrescidas)

Segundo Concílio Vaticano (1962-1965) 
As coisas reveladas por Deus, contidas e manifestadas na Sagrada Escritura, foram escritas por inspiração do Espírito Santo. Com efeito, a santa mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como santos e canônicos os livros inteiros do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, porque, escritos por inspiração do Espírito Santo (cfr. Jo. 20,31; 2 Tim. 3,16; 2 Ped. 1, 19-21; 3, 15-16), têm Deus por autor, e como tais foram confiados à própria Igreja.
(Constituição Dogmática Sobre a Revelação Divina [Dei Verbum], Capítulo III, 11; ênfases adicionadas).

[Tradução de Fábio Salgado de Carvalho; original:

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