Várias condições médicas podem
afetar a capacidade de uma mulher suportar uma gravidez, por vezes, com ameaças
à sua vida e da criança.
Algumas dessas condições incluem
a hipertensão pulmonar, a síndrome de Marfan e certos problemas congênitos com
a aorta. Quando um médico informa uma mulher que ela não pode engravidar no
futuro sem sérias conseqüências para si e para o seu bebê, ter as trompas
ligadas pode parecer ser a solução mais adequada. Alguns, além disso,
argumentariam que, uma vez que a esterilização seria por “razões médicas”,
tratar-se-ia de uma “esterilização indireta” e, portanto, aceitável moralmente.
No entanto, na verdade, uma
ligadura nas trompas a fim de evitar uma gravidez futura não seria uma
esterilização indireta em absoluto. Uma esterilização indireta é um
procedimento que, no tratamento de um problema médico existente, provoca uma
perda não intencional da fertilidade no processo. Por exemplo, quando um
paciente tem câncer, recebe radiação e quimioterapia, um efeito secundário e
não intencional pode ser a esterilidade. Ou quando um homem está lutando contra
um câncer testicular, ele pode ser submetido a uma remoção cirúrgica dos
testículos a fim de combater a doença, com a conseqüência indesejada de que ele
se tornará estéril. Esterilizações indiretas são moralmente permitidas sempre que
exista uma séria patologia envolvida e quando os efeitos contraceptivos são
involuntários.
Quando uma mulher que sofre de
hipertensão pulmonar escolhe ligar suas trompas, entretanto, a laqueadura não
se dirige à hipertensão ou à sua cura; ela está, portanto, optando por uma
esterilização direta. Quando um homem escolhe uma vasectomia porque está
preocupado com a transmissão de um gene defeituoso à sua prole, ele está, da
mesma forma, optando por uma esterilização direta. Uma esterilização direta é
moralmente inaceitável porque ela envolve a decisão de mutilar diretamente um
sistema saudável do corpo, que está funcionando bem e normalmente, por conta de
uma finalidade contraceptiva. Tais violações são lugares-comuns nos dias de
hoje. Nos Estados Unidos, estima-se que 700.000 mulheres submetem-se a ligações
cirúrgicas das trompas a cada ano e cerca de 600.000 homens submetem-se a vasectomias
cirúrgicas.
As vasectomias e as laqueaduras
não tratam qualquer doença ou patologia realmente existente. Quando uma mulher
liga as suas trompas a fim de tornar qualquer ato sexual futuro infértil, ela
está escolhendo mutilar uma faculdade fundamental do seu próprio corpo porque
ela e/ou o seu esposo não desejam praticar a abstinência periódica para evitar
uma gravidez potencialmente perigosa. Uma ligação de trompas sob estas
circunstâncias não seria, de fato, por razões médicas, mas, em vez disso, por
razões de conveniência marital. Temos o dever de respeitar a integridade e a
totalidade dos nossos corpos e cortar trompas de Falópio saudáveis no corpo de
uma mulher nunca é uma decisão médica moralmente defensável.
Um dos erros fundamentais no
pensamento que está por trás da decisão pela esterilização cirúrgica é a crença
de que não se deveria realmente esperar do homem e da mulher que eles tenham
controle e domínio das suas energias e impulsos sexuais. Assim, muitos, hoje,
parecem ter renunciado ao projeto da busca do domínio próprio no campo da
sexualidade. Enquanto é claro que não se pode sobreviver sem comida ou água, é
falso supor, como nossa cultura parece presumir, que não se pode sobreviver sem
a gratificação sexual. O sexo não é necessário para a sobrevivência individual,
nem indispensável para uma vida pessoal saudável e completa. Para alguém
solteiro, de fato, uma vida pessoal saudável e completa dependerá do
ordenamento adequado das faculdades sexuais por meio da autodisciplina da
abstinência e por meio de um concomitante crescimento em virtudes. Isto é
válido no casamento também, em que o relacionamento conjugal deve crescer e
amadurecer. O casal pode ter de praticar tal disciplina em condições de
recrutamento militar, de ausências concernentes ao trabalho e por conta de
doenças crônicas ou agudas.
Sempre que possa haver razões
legítimas para evitar-se uma gravidez, como no caso de uma séria ameaça à vida
da mãe ou da criança, os casais serão chamados a uma prática similar de
autodisciplina, recorrendo apenas àqueles meios de evitar a gravidez que
respeitem genuinamente o dom da sua sexualidade e as suas respectivas
masculinidade e feminilidade. Em termos práticos, isso implicará a escolha por
uma abstinência periódica durante os períodos férteis conhecidos do ciclo da
mulher como meio de evitar uma gravidez. Poucas décadas atrás, as técnicas de “planejamento
familiar natural” tornaram-se bastante sofisticadas e precisas na sua
capacidade de determinar quando uma mulher está fértil. Os casais podem usar
essa informação para limitar as relações sexuais aos períodos inférteis,
praticando a abstinência durante os períodos férteis, quando há sérias razões
que justifiquem isto. Respeitar a sexualidade conjugal dessa forma e recusar-se
a comprometer nossas faculdades sexuais por meio de vasectomias ou de ligaduras
de trompas promovem virtudes pessoais importantes no casamento e respeitam
devidamente os desígnios divinos e de doação da vida dos nossos corpos.
[Tradução: Fábio Salgado de Carvalho; original: http://www.catholiceducation.org/en/science/ethical-issues/a-future-pregnancy-would-be-too-risky.html]
Excelente!!
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