sábado, 5 de setembro de 2009

Esperanza

Conheci a cantora, compositora e contrabaixista Esperanza Spalding quando vi o Milton Nascimento elogiando-a na TV por ocasião do TIM Festival do ano passado, mas só nesta semana fui ouvir o último álbum dela, lançado em maio do ano passado. Não sei como pude passar tanto tempo sem ouvir a preciosidade que é essa musicista.

Das últimas artistas do jazz que surgiram nos últimos anos, ela é, sem sombra de dúvida, a mais talentosa na minha humilde opinião. Entrei em contato com o jazz tardiamente quando comparado com outros estilos musicais. O meu professor de bateria[1], na época, introduziu-me ao Fusion[2] e, por conseqüência, ao jazz. Com a coleção que comprei da Folha de São Paulo [3]— que tem o costume de lançar excelentes coleções —, conheci um pouco mais sobre o gênero, mas admito que não conheço tão bem quanto outros gêneros.

Acredito, contudo, que a desenvoltura com que a Esperanza consegue tocar e cantar deve confirmar minha afirmação de que ela é a mais talentosa da nova geração do jazz. Até porque ela compõe muito bem também, o que é um diferencial. O referido álbum, de 12 músicas, possui 9 de sua autoria. O cosmopolitismo do álbum é outro fato que me atraiu bastante, dado o fato dela cantar na sua língua materna — Inglês —, em Espanhol e em Português. A pronúncia dela é muito boa. Ela canta duas músicas em Português no álbum. Colocarei "Samba em prelúdio" de Vinicius e Baden porque é a que a pronúncia dela fica mais evidente.

Não vou falar sobre a biografia prodigiosa dela: uma consulta a um Google da vida fornecerá todas as façanhas dela, como, por exemplo, ser a professora mais jovem da prestigiosa escola de música Berklee[4]. É evidente, no álbum, a influência que a Música Brasileira tem sobre ela. Na minha, mais uma vez humilde, opinião, a nossa música é a melhor em do mundo em todos os sentidos e não faço isso porque sou brasileiro, até porque nunca fui muito chegado a nacionalismo. Não comentarei o álbum inteiro, mas para quem gosta de jazz ou mesmo para quem não tem muita afinidade com o ritmo, é uma boa pedida. Colocarei aqui, também, a música "Cuerpo y Alma" que não é de autoria da Esperanza, mas que é uma das melhores do álbum. Impressionante como ela consegue apropriar-se da Língua Espanhola de tal maneira que parece que o jazz surgiu no seio desta língua.

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[1] http://www.verafigueiredo.com.br/danieloliveira_index.htm

Dêem uma olhada neste vídeo em que ele explica a relação entre o Jazz e a bateria:
http://www.youtube.com/watch?v=b_x2eM6lbdg

Outro vídeo sobre Jazz e bateria, com destaque para o Swing:
http://www.youtube.com/watch?v=HLFxBVw43_8&feature=related

Sobre o Bebop e Cool Jazz:
http://www.youtube.com/watch?v=EsQa7YP6Ekk&feature=related

[2] http://en.wikipedia.org/wiki/Fusion_%28music%29

O meu referido professor fala um pouco sobre Fusion:



[3] http://jazz.folha.com.br/musicos/


[4] O vídeo fala um pouco sobre ela. Sou eternamente agradecido ao Pat Metheny por tê-la convencido a seguir a carreira da música



Uma palhinha de um cover que ela fez de uma música do genial Stevie Wonder:

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Vi dois filmes espetaculares nesta semana. Um é um terror, sendo classificado por alguns como "terrir" e outro é um drama. Não conhecia o gênero "terrir" até então. Uma amiga da Dani falou que o filme fazia parte do gênero e fui pesquisar. São filmes de terror marcado por cenas absurdas e exageradas que têm a proposta de fazer rir[1]. O interessante é que o termo foi cunhado por um diretor brasileiro — Ivan Cardoso. Dentro do gênero Horror, existe um subgênero, que começa com a letra g se não me engano, que poderia caracterizar as cenas grotescas de "Arraste-me para o inferno"; no entanto, infelizmente, não consigo lembrar-me de jeito nenhum.

O site Omelete[2] deu 4 ovos para os dois filmes. Não li as resenhas antes de ver os filmes, mas fui vê-los sabendo da enorme chance dos filmes serem bons, já que minhas opiniões costumam coincidir com as do site — diferentemente do que ocorreu com o julgamento da revista SET[3] que comprei nesta semana. Gostei da revista, mas quase nenhuma opinião minha coincidia com a a da revista. De qualquer forma, é bom ver pensamentos discordantes dos seus. Voltando ao filme, gosto muito de qualquer forma de arte que envolva a dicotomia céu e inferno, Deus e o Diabo etc. . São muitas as obras literárias que já li por causa dessa minha afinidade com o tema. Li Cervantes, John Milton, Goethe, Tim LaHaye e Jerry B. Jenkins com essa motivação agregada a outros interesses.

Acredito que foi o melhor filme de terror que já vi. Excelente trilha sonora, atuações muito boas e um roteiro surpreendente. Adoro reviravoltas nos filmes. O final, que não contarei aqui, foi avassalador! O diretor responsável é o mesmo que dirigiu a franquia Homem Aranha. Não sou muito chegado ao gênero porque nunca senti medo ou coisa do tipo ao assistir esses filmes; no máximo, tomo uns sustos por causa do som mais alto em certas horas. Acho que isso se deve ao fato d'eu ter tido uma infância permeada de filmes ilícitos que via escondido na Manchete, Band e afins. Quando o filme era pra maior de 18 anos — quando era criança, era muito comum classificarem os filmes assim —, fazia questão de ver.

O outro filme atraiu-me pelo título em Francês — Le chant des mariées. Sempre que posso, tento ver filmes franceses para treinar o meu entendimento da língua; contudo, o filme, embora tenha alguns trechos em Alemão e Francês, é falado, basicamente, em Árabe. Não sei se a Língua Árabe tem alguma coisa a ver com a Língua Francesa ou se a mistura era proposital no filme, mas entendia várias coisas em Francês misturadas ao Árabe. O filme é polêmico: traz como pano de fundo religião, guerra, sexo, nudez. Há uma cena em que se mostra a depilação nas regiões íntimas de uma menina por conta de seu casamento.

A melhor parte do filme para mim foi aquela em que houve confrontamento entre interpretações do Alcorão. Duas amigas são protagonistas no filme. Uma é judia e outra é muçulmana. Esta casar-se-á com o primo que ama e a outra, com um médico que será solução para as dívidas de sua mãe. Uma inveja a vida da outra. A muçulmana aprende a ler árabe com o namorado e começa a ler o Alcorão por recomendação deste. Ela lê, então, o seguinte trecho:

"(39) Eis o que da sabedoria te inspirou teu Senhor: Não tomes, junto com Deus,
outra divindade, porque será arrojado no inferno, censurado, rejeitado."

No filme, a tradução apresentada é melhor, mas a que encontrei para transcrever aqui foi esta. Após ler tal trecho, ela se afasta da amiga. Num dia, enquanto estava escondida lendo o Alcorão no quarto de seu pai enquanto ele dormia, este acorda e pergunta a ela o que ela estava lendo. Ao ver o que sua filha lia, ele vira algumas páginas e manda ela ler o seguinte trecho:

"(62) Os fiéis, os judeus, os cristãos, e os sabeus, enfim todos os que crêem
em Deus, no Dia do Juízo Final, e praticam o bem, receberão a sua recompensa
do seu Senhor e não serão presas do temor, nem se atribuirão."

Ela, então, aliviada, agradece ao seu pai. O namorado dela estava trabalhando com soldados nazistas e estava impregnado de preconceito e ódio pelos judeus. A lição que tirei disso foi que as pessoas enxergam o que querem nas coisas. Elas não são objetivas. Quem quiser encontrar motivações para o ódio num texto, há de encontrar e quem quiser encontrar motivações para ser amável e tolerante, da mesma forma, há de encontrar. O interessante é que o Islamismo que é tido por intolerante e fundamentalista é muito mais tolerante do que o Cristianismo em certo ponto, já que o Cristianismo diz que o judeu e o muçulmano vão para o inferno e o Islamismo não diz isso, como se pode ver no trecho transcrito acima.

Eu me interesso muito por religião. Li a coleção da revista História Viva intitulada Grandes Religiões[4] e aprendi um pouco mais sobre várias religiões. Há alguns anos, tive a iniciativa de ler o Alcorão, a Bhagavad-Gita, texto do hinduísmo, e até a Bíblia satânica eu comecei a ler, mas não a li toda. Li, também, alguns volumes da Doutrina Secreta escrita pela Blavatsky porque alguns colegas da UnB comentaram sobre a Teosofia e eu não conhecia. Acho que só podemos criar a tolerância quando deixarmos de ser ignorantes quanto àquilo que não conhecemos. Fico indignado quando as pessoas falam da Umbanda ou do Candomblé, dizendo que eles fazem macumba etc. . A macumba é um instrumento musical e os cultos das religiões afro-brasileiras eram caracterizados pelo toque desse instrumento de percussão. As macumbas, portanto, não são práticas para fazer mal aos outros simplesmente. É claro que existem correntes adeptas de rituais para causar mal aos outros, mas não entendo por que as pessoas falam de Apolo, Afrodite de uma maneira e tratam Iemanjá, Oxum e outros de outra forma. Para mim, isso ocorre por causa do preconceito incutido na sociedade brasileira com relação à cultura negra. A mesma coisa acontece com algumas palavras que se originaram de palavras africanas como, por exemplo, a palavra "sacanagem" que vem do dialeto Quicongo e que, tida por palavra torpe por alguns, significa, simplesmente, diversão, brincadeira.

São várias as traduções de nomes de filmes que não entendo. Acho que a tradução literal em vez de "Uma canção de amor" ficaria muito melhor. Enfim, o filme termina de uma maneira muito significativa. As amigas abraçam-se num abrigo contra ataques aéreos. Uma intercede a Deus por meio de frases próprias do Islamismo e a outra por meio do Judaísmo. A mensagem da tolerância tem de ser repassada nos dias de hoje com engajamento. Discutindo com meu tio, que tem doutorado em Teologia, ele me disse certa vez que toda forma de fundamentalismo foi prejudicial na História. Concordo plenamente com ele.

[1] http://pt.wikipedia.org/wiki/Terrir

[2] http://www.omelete.com.br/

[3] http://www.set.edicaoeletronica.com.br/


[4] https://ssl430.locaweb.com.br/clubeduetto/loja/categoria.asp?fml=3&ctgr=47

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