quarta-feira, 3 de maio de 2017

Todos os Cristãos são Santos? (Tim Staples)


Em Colossenses 1.1-2, São Paulo diz:
"Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela vontade de Deus, e Timóteo, o irmão, aos santos de Colossas, irmãos fiéis em Cristo; a vós graça e paz da parte de Deus, nosso Pai.".
A questão é: por que os católicos apenas se referem aos "santos" canonizados, que estão no Céu, como sendo "santos", quando São Paulo parece se referir a todos os cristãos como sendo "santos"?

Apocalipse 5.8 acrescenta:
"No momento em que recebeu o livro, os quatro animais e os vinte e quatro anciãos prostraram-se diante do cordeiro. Cada um tinha uma harpa e taças de ouro cheias de perfume, que são as orações dos santos.".
Aqui, temos "os vinte e quatro anciãos", representando o povo de Deus tanto da Antiga quanto da Nova Aliança (12 Patriarcas + 12 Apóstolos = "24 anciãos"), recebendo e comunicando "as orações dos santos" que subiam da Terra como incenso. Temos, então, novamente, os cristãos deste lado do véu [1] sendo referidos como "santos". 

Alguns católicos arguirão que o termo "santos" é usado no sentido de uma aspiração. São Paulo deseja que os colossenses sejam santos, então, ele se refere a eles aqui em concordância com a sua vocação última em detrimento do seu estado presente. Nunca achei que essa linha de raciocínio seja convincente. Ela não parece funcionar com outros textos, especialmente Apocalipse 5.8.

O mais importante, entretanto, é que nada disso conflita com o ensino da Igreja.

O que temos então?

A Resposta Católica

Quando tanto Colossenses 1 quanto Apocalipse 5 referem-se aos "santos", parece claro que eles estão referindo-se aos cristãos que estão, no presente, "caminhando sobre o vale da sombra da morte", como diz o salmista. Pelo menos, em algum sentido. Encontro, contudo, muitos, entre os não católicos com quem converso regularmente, que se surpreendem quando lhes digo que a Igreja Católica reconhece que todo batizado pode ser dito como sendo "santo". O Catecismo da Igreja Católica (CIC), no ponto 1475, afirma:
"Na comunhão dos santos, 'existe certamente entre os fiéis já admitidos na posse da pátria celeste, os que expiam as faltas no purgatório e os que ainda peregrinam na terra, um laço de caridade e um amplo intercâmbio de todos os bens'. Neste admirável intercâmbio, cada um se beneficia da santidade dos outros, bem para além do prejuízo que o pecado de um possa ter causado aos outros. Assim, o recurso à comunhão dos santos permite ao pecado contrito ser purificado, mais cedo e mais eficazmente, das penas do pecado".
O Catecismo, nos pontos 946-948, deixa ainda mais claro que todos os fiéis podem ser chamados de "santos":
"Depois de ter confessado 'a santa Igreja católica', o Símbolo dos Apóstolos acrescenta 'a comunhão dos santos'. Este artigo é, de certo modo, uma explicitação do anterior: 'Que é a Igreja, se não a assembleia de todos os santos?'. A comunhão dos santos é precisamente a Igreja [...] 
(948) O termo 'comunhão dos santos' tem, pois, dois significados intimamente interligados: 'comunhão nas coisas santas (sancta)' e 'comunhão entre as pessoas santas (sancti)'.".
"Sancti", por sinal, significa "santos" ou "sagrados".

O Catecismo, então, continua:
"'Sancta sanctis!' (o que é santo para os que são santos): assim proclama o celebrante na maioria das liturgias orientais no momento da elevação dos santos dons, antes do serviço da comunhão. Os fiéis (sancti) são alimentados pelo Corpo e pelo Sangue de Cristo (sancta), a fim de crescerem na comunhão do Espírito Santo (Koinonia) e de comunicá-la ao mundo.".
A pergunta, então, agora se torna: "Por que, então, os católicos se referem aos "santos" canonizados como "santos", mas não àqueles deste lado do véu? Isso parece ser contraditório.".

A Clareza das Escrituras

Creio que o próprio São Paulo é quem melhor pode responder-nos essa questão. Em Colossenses 1.1-2, como disse acima, São Paulo, definitivamente, refere-se a todos os fiéis de Colossas como "santos". Observemos aqui que a palavra grega para "santos" (hagioi) é comparável ao "sancti" no latim. Significa, simplesmente, "santificado", "separado" ou "sagrado". "santos" significa isso.

De uma perspectiva católica, diríamos que é claro que São Paulo iria referir-se a esses cristãos e, por alusão, a todos os cristãos dessa maneira porque "estar separado e consagrado" é precisamente o que o Batismo realiza na vida de todo cristão. Fomos "batizados em Jesus Cristo" (Romanos 6.3), que é a fonte de toda santidade. 

O busílis, contudo, está aqui:

A Igreja Católica também reconhece o que diz Colossenses 1.12:
"dai graças ao Pai que vos tornou capazes de partilhar da herança dos santos na luz.".
A palavra grega para "partilhar", nesse texto, é merida, que significa "participar em parte" ou "uma porção". De acordo com São Paulo, os "santos" na Terra participam, em parte, daquilo que os "santos" no Céu possuem plenamente. Dessa maneira, é apropriado que a Igreja Católica reserve o título de "santo" àqueles que ela declarou que estão no Céu. Apenas eles ("os santos" no Céu) possuem a santidade, se vocês assim vocês quiserem, em sua plenitude. 

[1] Em Levítico 16.2, Deus fala a Moisés para que diga a Aarão que não entre no santuário a qualquer tempo para além do véu. O Dia do Grande Perdão era o único dia do ano em que o sumo sacerdote passava pelo véu que escondia o Lugar santíssimo, que não podia ser visitado por qualquer um. (Nota do tradutor).

[Tradução: Fábio Salgado de Carvalho; original: https://www.catholic.com/magazine/online-edition/are-all-christians-saints]

Um comentário:

  1. Caro Fábio, excelente texto. A santidade é algo que recebemos como uma semente no batismo e que podemos sufocar ou fazer crescer com a fidelidade à graça de Deus ao longo da vida. Santos plenamente são apenas os que chegaram à Pátria celeste.

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