sábado, 22 de agosto de 2009

Felicidade dentro de si

Cada vez mais, vejo que não sou físico, nem matemático e, contrariamente ao que muitos devem pensar, nem filósofo. Almejo a erudição. Sou polímata, indivíduo que estuda muitas ciências — palavra que aprendi na Língua Inglesa e com a qual fiquei muito feliz ao ver que havia uma correspondente em nossa língua. Foi com Descartes, autor da frase que uso como título deste blog, que comecei a empreender a tarefa de conhecer sem subdividir o conhecimento, até porque a natureza de modo unificado. Com o passar do tempo, aprendi acontecimentos históricos que justificariam minhas convicções, como, por exemplo, o advento do Toyotismo em detrimento do modelo fordista. Além do mais, a grande maioria dos grandes homens da História que admiro eram polímatas — vide Gauss, William Rowan Hamilton, Roger Penrose, Poincaré, entre outros.

Acredito que se as pessoas tivessem uma visão universal do conhecimento, muitas coisas seriam resolvidas. Não haveria alunos dizendo que gostam de uma matéria e odeiam outra e não haveria pessoas que desconhecem as regras gramaticais de sua Língua. Se tem uma coisa que me indigna é quando vejo pessoas defendendo a língua coloquial e rebaixando a norma culta. Tudo bem que várias regras são completamente aleatórias, levando-se em consideração apenas aspectos lógicos, mas a norma culta evita várias ambigüidades, facilitando a transmissão do que se quer dizer. Podem me chamar de alienado etc. , mas as pessoas querem criar no Brasil uma situação que, simplesmente, não existe aqui. Não digo que o preconceito não existe, mas ele existe de forma muito mais atenuada do que em outros países. Digo isso pensando nas pessoas que defendem as cotas. Vou ser breve no que se refere a isso, até porque acho essa discussão muito óbvia. Se houvesse um programa eficaz a longo prazo de investimento nos ensinos Fundamental e Médio, até que poderia existir um programa de cotas paliativo; no entanto, não acredito que a "cor" seria um bom diferenciador para inclusão num sistema de cotas.

Sempre que as pessoas tratam os menos privilegiados socialmente e economicamente como coitadinhos, cito o exemplo do meu pai. Ele nasceu no interior da Bahia, só estudado até a quarta série com 17 anos de idade. Ele veio pra Brasília, estudou, graduou-se em Direito e hoje está muito bem de vida. Quem tem força de vontade, faz qualquer coisa. Transcreverei aqui uma citação retirada do filme "Prova de fogo" que achei muito interessante:

"Nosso maior medo não é o de sermos inadequados. Nosso maior medo é o de sermos fortes demais. Perguntamos a nós mesmos: 'Quem sou eu para ser brilhante, belo, talentoso e fabuloso?'. Na verdade, quem é você para não ser? Nascemos para manifestar a glória de Deus que está dentro de nós. E, deixando nossa própria luz brilhar, inconscientemente, damos a outras pessoas permissão para fazerem o mesmo.".

Assisti a uma palestra do Steven Dubner¹ tratando sobre os deficientes físicos e a ADD — associação desportiva para deficientes². Aquela historieta de que um homem reclamava de que não tinha calçados até encontrar alguém que não tinha pés é uma balela: sempre haverá alguém pior do que você. O cara sem pés poderá, então, contentar-se por ver alguém cego e sem pés; este, por sua vez, contentar-se-á ao ver alguém sem pés, cego e maneta e assim por diante. Encontrar alguém pior do que você não é justificativa para nada; no entanto, a palestra fez-me ver as coisas por outra perspectiva. Ele mostrou exemplos de pessoas sem braços e pernas que viviam sozinhas, viravam-se como podiam e eram extremamente felizes. Nas paraolimpíadas, houve casos de nadadores sem braços e pernas que ganharam de pessoas com braços. Não gosto desse papo de autoajuda e menosprezo esse tipo de literatura; contudo, pensar de forma que não seja óbvia, sem jargões, mas filosófica é sempre útil. Se pessoas menos capacitadas, no sentido de que elas têm menos ferramentas físicas, conseguem ser felizes, o que nos impede? Perdemos muito tempo usando outras pessoas como padrões e guiando-nos pelos outros.

Li um comentário do Manuel Bandeira sobre o Villa-Lobos que dizia o seguinte: "A formação dos outros como que vem de fora para dentro; a dele, de dentro para fora. Formação vulcânica, não sedimentária.". O comentário foi escrito sobre o fato do Villa-Lobos ter viajado a Paris e, contrariamente a vários outros artistas que viajavam para lá, ter voltado impregnado de si mesmo. Temos, exatamente, de impregnar-nos de nós mesmos, deixar de acreditar que seremos felizes quando formos determinada coisa, tivermos alguma coisa e sermos felizes com o que temos, assim como vários deficientes físicos são felizes com o que têm.


¹ http://www.stevendubner.com.br/
² http://www.add.org.br/

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Conheci a Pitty por meio do Acústico MTV lançado pelo Ira!. Ela fez uma participação na música "Eu quero sempre mais". Resolvi ouvir o álbum dela "Admirável Chip Novo" e já gostei antes de ouvi-lo por causa da referência à obra do Aldous Huxley. Na época, lia muitos livros de ficção científica. Achei as letras interessantes e gostei do som. O timbre dela agradou-me muito também. Gosto de timbres diferenciados. Sabe aquele cantor que canta uma nota e você já reconhece? Aprecio muito isso num artista.

Depois, veio o álbum "Anacrônico", do qual gostei mais que o primeiro. Algumas músicas deste fazem parte do meu cancioneiro particular de canções; além do mais, adoro tocar "Na sua estante" no violão. O novo álbum da Pitty, intitula-se "Chiaroscuro". Aqueles que estudaram Artes Visuais no Ensino Médio lembrar-se-ão da técnica utilizada no Renascentismo. Não tive muito tempo para absorver tudo. Ouvi o álbum inteiro ontem dirigindo e hoje o ouvi de novo para escrever alguma coisa sobre ele aqui. A minha primeira impressão foi boa, mas prefiro o álbum anterior. A Pitty percorreu alguns caminhos novo e é bom notar que ela não se acomodou. O interessante é que nunca ouvi tantas referências. Fiz associações em praticamente todas as músicas.

Ontem, vi uma entrevista da Zélia Duncan no Programa do Jô. Gosto muito do trabalho dela. Ela disse que que é muito difícil, na Música, fazer algo novo e que praticamente tudo já foi feito. Concordo com ela. Acho que se houvesse um computador projetado para tanto, poderíamos pegar as músicas novas compostas e comparar com tudo o que já foi feito até então; com certeza, haveria muitos pontos em comum com outras músicas. Chamaria o novo álbum da Pitty de álbum mnemônico, a partir do momento em que ele me trouxe à memória inúmeras sensações musicais já experimentadas. Listarei as músicas aqui e, como já disse, farei breves comentários. Escolherei, no fim, alguma música do álbum para colocar aqui.

1 - 8 ou 80
A levada da Bateria fez-me lembrar de Blur em "Song 2", que é a música que tocava no jogo de futebol Fifa. Em determinados momentos, eu me lembrei de Metallica no odiado — não compartilho do mesmo sentimento — St. Anger. O refrão quis me trazer mais coisas à memória, mas não consegui fazer a associação. A letra é uma das mais interessantes do álbum. Ela me fez refletir sobre quem se faz de santo e quem confessa sua culpa, especificamente, lembrei-me do nosso Senado e da acusação feita ao Arthur Virgílio pelo Renan Calheiros.

2 - Me adora
Música mais acessível do álbum. Bem pop. Gostei muito dela. A melodia é boa e a estrutura é bem clássica, com refrão ponte etc. . Achei muito forçoso rimar "adora" com "foda". Acho que a Pitty deveria ter umas aulas com o coloquialismo do Caetano elogiado por mim aqui. A música faz referência à própria Pitty e poderia estar no álbum anterior. A letra fez-me refletir sobre o que falei nesta postagem. Quando a Pitty fala pra "não deixar ir embora pra perceber", pensei que não devemos deixar a vida passar pra percebermos que não somos felizes e que não o fomos porque não pudemos, mas porque não quisemos.

3 - Medo
O riff da guitarra é muito AC/DC. Algo meio Back in Black. Legais as partes em que a guitarra acompanha a melodia cantada. Meio brega a parte do "se corre, o bicho pega; se correr, o bicho come". Não combinou a parte Thrash/Death com esse mote popular. Interessante a idéia de comparar o medo ao sangue, usando figuras de linguagem.

4 - Água Contida
Pra quem conhece a excelente banda Kamelot, não tem como não se lembrar de "Lost & Damned", que também tem uma mistura de Tango. O incrível é que no solo da guitarra eu consegui identificar parte da melodia da música do Kamelot. Outra música com imagens interessantes. Gosto muito de frases de impacto, como "Mágoa velada é água parada e uma hora transborda". Outra boa música deste álbum!

5 - Só agora
A tessitura dos instrumentos e o clima lembram muito The Magic Numbers. Não sei se os outros compartilham da minha opinião, mas acho muito brega dizer "baby" no Brasil. É um americanismo desnecessário. Soa muito feio. Conversei sobre isso um dia desses com a Dani. Não sei por que tive a impressão de ter ouvido alguma coisa parecida melodicamente com Beatles. Não consegui lembrar-me de nenhuma música específica pra citar.

6 - Fracasso
Letra ácida. Achei essa música muito Moptop. Tentei achar alguma música específica pra citar, mas não consegui achar os meus cds pra ajudar.

7 - Desconstruindo Amélia
Baixo a la Muse! Muito interessante a idéia da letra da música. Com o título dela, vocês podem ter uma noção.

8 - Trapézio
Eu me lembrei de Strokes. A melodia é interessante, junto com as linhas harmônicas que a acompanham. As linhas de baixo são muito Legião Urbana.

9 - Rato na roda
Essa lembra a própria Pitty em trabalhos anteriores. A parte do "ouo" lembra muito tribalistas em "Já sei Namorar". Foi engraçado quando fiz essa associação, já que as propostas são completamente diferentes.

10 - A sombra
Essa música é uma versão brasileira de Radiohead!

11 - Todos estão mudos
A primeira coisa que me veio à mente foi "Todos estão surdos" do Roberto Carlos, embora as músicas tenham nada a ver, nem liricamente e nem musicalmente. A música lembra "Knights of Cydonia" do Muse. Até procurei alguma coisa na net pra ver se teve algo intencional, mas achei nada.


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Sem fugir muito do conceito explorado nos comentários ao novo álbum da Pitty, no último álbum do Nando Reis, tem uma música muito parecida com uma do Green Day. O riff de guitarra é muito igual. Colocarei as duas músicas aqui pra vocês compararem. Ouçam a música do Nando a partir de 1min07. Eu toquei essa música do Green Day — na bateria — numa banda quando tinha lá pelos meus 13/14 anos. A pior coisa do mundo é tocar uma música que você nunca ouviu antes. Cheguei a fazer a mesma coisa com os Ramones quando tinha 15 anos. Nunca tinha escutado nada deles, mas toquei numa banda cover e ainda fazia os backing. Na época, a gente tinha de caçar alguém que tivesse o cd pra gravar em fita.

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Nesta semana, uma música do Legião Urbana caiu como uma luva. Nunca entendi muito bem a letra de "O Teatro dos Vampiros", mas algumas circunstâncias na minha vida coincidiram com algumas coisas da letra e acabei entendendo o sentido. Coisa parecida já aconteceu com a música "Há tempos". Não entendia o que significava "lá em casa tem um poço, mas a água é muito limpa". Acabei identificando essa frase com o dito de que "a grama do vizinho é mais verde". Nunca nos contentamos com o que temos e queremos mais. Colocarei a letra aqui e um vídeo da música.

O Teatro dos Vampiros
(Dado Villa-Lobos/ Renato Russo/ Marcelo Bonfá)

Sempre precisei
De um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto

E nesses dias tão estranhos
Fica a poeira
Se escondendo pelos cantos


Esse é o nosso mundo
O que é demais
Nunca é o bastante
E a primeira vez
É sempre a última chance
Ninguém vê onde chegamos
Os assassinos estão livres
Nós não estamos

Vamos sair,
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos
Estão procurando emprego

Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas

Vamos lá, tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal pra ir

Já entregamos o alvo
E a artilharia
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas
Possam se encontrar

Quando me vi
Tendo de viver
Comigo apenas
E com o mundo
Você me veio
Como um sonho bom
E me assustei
Não sou perfeito

Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo
Eu, homem feito,
Tive medo
E não consegui dormir

Vamos sair,
Mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos
Estão procurando emprego

Voltamos a viver
Como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas

Vamos lá, tudo bem
Eu só quero me divertir
Esquecer dessa noite
Ter um lugar legal pra ir

Já entregamos o alvo
E a artilharia
Comparamos nossas vidas
E mesmo assim
Não tenho pena de ninguém




Um comentário:

  1. Amor, gostei de ver que vc citou a palestra do Steven Dubner. E tenho de ouvir as músicas que vc falou! Vou ouvir e depois falo cntg! :*

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